O Panafricanismo é um movimento nascido de descendentes de escravos, principalmente norte-americanos, tendo em 1919, conseguido organizar o seu primeiro congresso.
Os mentores do movimento Panafricanismo foram William Du Bois e Marcus Garvey. Du Bois, norte-americano, estudou em Harvard e posteriormente na Universidade de Humbolt, em Berlim, tendo-se, no entanto, doutorado em Havard. Por seu lado Garvey nasceu na Jamaica, ainda sob domínio britânico, tendo-se notabilizado como editor e jornalista, tendo ficado sepultado em Londres.
Este movimento, inicialmente mais político e social, evolui para uma forte componente filosófica. Na verdade, o africano de hoje tem razões para perguntar quem eu sou? De onde vim? Quais as minhas origens?
Mesmo com a criação da Serra Leoa, pelos britânicos, e a Libéria pelos norte americanos, houve abertura política aos escravos libertados optarem para regressar à sua terra, porém, na verdade, o movimento não evoluiu.
Durante a guerra fria, a influência soviética deu voz a grandes líderes africanos defensores deste movimento: os nacionalistas Agostinho Neto, Eduardo Mondlande e Amílcar Cabral, mas também Kenneth Kaunda, da Zâmbia, Desmond Tutu, na África do Sul, Senghor, no Senegal, ou Nkrumah, no Gana, e Mandela, na África do Sul, entre tantos outros.
Na prática o sonho de África ser um país dividido pelas etnias originais, ou maternas, em parte foi boicotado pelos muçulmanos do Norte, que na verdade tem uma identidade cultural totalmente diferente. E hoje, por exemplo, sente-se uma grande tensão política entre a Etiópia (o único país africano nunca colonizado por estrangeiros) e o Egipto por causa da gestão do Rio Nilo.
Pessoalmente, ou seja, na minha opinião, o Panafricanismo tem mais identidade na África Subsaariana, no que em todo o restante continente.
Seja como for é um movimento que não deve morrer. Desenvolve uma identidade, mesmo utópica, mas que reforça politicamente a Organização da Unidade Africana, curiosamente sediada na Etiópia. As cores: vermelho, dourado (ou amarelo) e negro, representam o Panafricanismo. E grande parte dos países, nomeadamente Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe, usam essa marca como símbolos nacionais.
A dificuldade deste movimento ter uma acção política mais forte deve-se à influência das multinacionais, em vários domínios, de exércitos privados de grandes potências e dos lobbies do narcotráfico.
Mas a genética não se consegue apagar. E as teses filosóficas ancestrais, materializadas pelas autoridades tradicionais, no meu caso pessoal, têm-me ajudado a entender que tornar um país africano, na Zona Austral, como um país europeu ou ocidental, é totalmente impossível. As crenças e práticas quotidianas, ancestrais, chocam muito com a lógica e racionalidade da herança grega ou de outros filósofos ocidentais.
Por outro lado, o bem-estar da vida burguesa, baseada no liberalismo económico ocidental, tem levado muitos jovens a optar pela emigração, afastando-os de algumas crenças e «moldando» o seu pensamento aos conceitos do chamado modernismo, tornando o pan-africanismo como um movimento activo, mas mais no campo filosófico.
Em conclusão acho, e defendo, que os africanos lutem livremente pela busca da sua identidade cultural, muito afectada pela escravatura que afastou, misturou e alterou as raízes de povos com civilizações milenares.
Luanda, 1 de Fevereiro de 2024
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«No trilho das minhas memórias», ficção por António José Alçada
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Junho de 2017)
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