Granizo e neve em Agosto… (episódio 7)

O exército americano fazia manobras na Europa, no Mar Negro, integrado na Nato, tendo em vista atacar o flanco sul da Rússia, potência militar que lhe fazia frente na Síria, impedindo-o de atingir os seus objectivos: ocupar uma faixa a todo o comprimento do norte da Síria para fazer passar por lá um oleoduto que transportasse para a Europa o gás do Qatar, que ele dominava, e distribuindo-o através do Kosovo que ele havia criado.
A Rússia, ainda que bem armada, não tinha poder militar suficiente contra a Nato dominada pelos americanos, salvo se usasse armas nucleares. Putin e os seus chefes militares estavam em reuniões contínuas para encontrar uma solução que impedisse os americanos de invadir o seu território e dar-lhes uma lição para recordarem durante séculos. Mas a solução não surgia e iam sempre parar ao mesmo dilema- só o uso de bombas atómicas ou de hidrogénio contra o Pentágono, donde vinham as ordens para a Nato poderia travar as intenções americanas. Mas os americanos também tinham bombas atómicas que poderiam varrer a Rússia do mapa. Aqui o dilema era ser o primeiro a usar tais armas, destruindo primeiro a América.
Como fazê-lo sem alertar os americanos?
Fora tomada a resolução de usar tais armas. Procurava-se agora o momento mais propício para as usar primeiro que o inimigo.
A CIA, com espiões por toda a parte, conseguiu infiltrar uma célula numa dessas reuniões decisivas. Agora eram os americanos que davam voltas à cabeça para descobrirem como deveriam ser eles a usar tais armas contra a Rússia e em primeiro lugar.
Estavam mesmo a calcular o que deveriam fazer em caso de os chineses se unirem à Rússia contra a América. Os russos poderiam enviar bombas atómicas voando sobre o Atlântico e atacando o Pentágono pelo ocidente. Já os chineses enviariam tais bombas pelo leste. Um problema a resolver: atacar primeiro os russos, alertando os chineses e dando-lhes tempo a um contra-ataque por parte destes, ou atacar primeiro os chineses, dando a possibilidade aos russos de contra-atacarem. A opinião com mais votos era a de atacar simultaneamente a Rússia e a China. E se alguma das bombas falhasse o alvo, expondo-os a um contra-ataque?
Fortes dores de cabeça atacaram o Presidente Biden e os grandes chefes militares. Nenhum, porém, teve a ideia de quão fácil seria resolver o problema: abandonar as manobras militares, deixando a Rússia em paz. Porquê invadir a Rússia? Precisavam os americanos de mais terras?
Faziam-lhes frente os russos para desenvolverem os seus planos? Pois bem, por que não negociar primeiro com eles?
– Isso não! – responderam de imediato alguns generais – Isso seria dar parte fraca. E se eles não negociassem, o que faríamos? Toda a gente ficava a saber quais as nossas intenções. Não poderíamos mais ludibriar a opinião pública mundial, inventando que se trata de governo ditatorial, como o fizemos no Kosovo e noutros lugares.
Estas opiniões vieram a público e delas tomou conhecimento o Daniel. Não gostaria o Daniel de sentir na pele os efeitos nocivos de bombas atómicas e suas radiações, fossem lançadas por uns ou por outros.
Daniel era um estudioso dos fenómenos meteorológicos. Há muito que o preocupavam nevões e granizadas em tempo de crescimento de frutos, que destruíam a agricultura e deixavam na miséria os agricultores. A sua mente era ocupada por uma questão: como fazer nevar ou fazer cair granizo quando se quisesse ou impedi-lo quando não se quisesse?
Magicou, fez ensaios com os mais diversos químicos, até que um dia de forte queda de granizo resolveu utilizar o seu invento e fez parar de repente tal queda.
Os aldeões seus conterrâneos comentavam o milagre que tinha acontecido de repente e lhes havia poupado searas e frutos. Só Deus poderia ter-nos valido e feito o milagre de nos salvar as colheitas, por misericórdia de nós. Muitas rezas se fizeram na igreja da aldeia. Cantou-se o Te Deum e a Ladainha de Todos-os-Santos em cerimónia festiva.
O Daniel riu para consigo sem nada fazer transpirar. Afinal, como poderiam suspeitar os aldeões que um fenómeno da Natureza pudesse ter sido invertido por algum humano?
Com este sucesso, o Daniel começou a pensar como poderia travar a guerra iminente e a destruição da Humanidade. Conhecedor do local das manobras militares da Nato e da posição das tropas americanas, enviou os seus químicos para essa zona em tal quantidade que desencadearam uma forte queda de pedras de granizo do tamanho de bolas de futebol. Batendo sobre os tanques e aviões, destruíram-lhes peças fundamentais, inutilizando-os. Não faltaram mortes com levarem tais pedradas nas cabeças. Por cima do granizo fez cair tamanho nevão jamais visto que enterrou carros, aviões e homens. Nem os navios escaparam. Tal foi a carga de granizo e neve, que os afundou.
Acabou assim a vontade de guerra. Os americanos pensaram ter sido obra dos russos.
Mas como? Vieram os deuses em seu auxílio para os destruir? O certo é que receberam uma lição que nunca mais irão esquecer. Biden morreu duma apoplexia ao saber de tal desastre do seu exército. Na Rússia encheram-se as belas igrejas ortodoxas de campanários dourados. Os padres vestiram os mais belos paramentos e entoaram hinos de louvor a Deus, que o povo acompanhava.
Nem americanos nem russos ou chineses alguma vez conseguiram decifrar tal mistério. Coisas insondáveis vindas do céu por obra de Deus!
Anos passaram. Um dia, na sua aldeia, aí por meados de Maio, caiu nova tempestade de granizo. Os pobres agricultores pediam a Deus que parasse tal tormenta, como o havia feito anos antes. O Daniel ouviu os lamentos dos seus conterrâneos e teve pena deles. Pediu a dois deles que o ajudassem a transportar caixotes dos seus químicos para uma plantação coberta e, com um tubo, soprou alguns para o ar. Milagre dos milagres, a tempestade parou e as colheitas escaparam em grande parte. Os conterrâneos ficaram de boca aberta sem saber que dizer ao Daniel. O Daniel era um deus. Teve este de lhes explicar como compreendera os fenómenos atmosféricos e como soubera alterá-los.
Fosse como fosse, o Daniel para eles era um sábio, um santo sábio.
A notícia espalhou-se pela região e foi parar aos ouvidos do governo, que quis saber a verdade.
O Primeiro Ministro, vendo a ocasião de poupar subsídios que todos os anos dava aos lesados dos temporais, ainda que diminutos, comparados com os elevados prejuízos, quis ouvir do Daniel como praticava tais façanhas. A comunidade científica portuguesa, estupefacta, ficara envergonhada perante um homem do povo que os ultrapassara em saber.
Foi o Daniel condecorado com o mais alto grau pelo Presidente da República. Os jornais e televisões não falavam doutra coisa e cada qual tentava uma entrevista com o Daniel.
Vieram os americanos a saber de tal façanha. Lembraram-se do que lhes acontecera anos antes. Teria sido obra do Daniel?
Da boca deste nem uma palavra sobre o assunto. Os russos tentaram também inquirir o seu salvador sobre a verdade dos factos passados. O Daniel continuou sem abrir a boca.
Para os americanos o Daniel passou a ser considerado um seu carrasco, para os russos o seu salvador. Da boca do Daniel é que ninguém ouviu um comentário sobre o assunto. Morreu este e levou consigo para a cova o segredo de tal acto que haverá de ser lembrado por séculos e séculos. Honra seja feita ao Daniel e que seja lembrado para todo o sempre!
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«Breves Contos Militares», por Franklim Costa Braga
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Maio de 2014)
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