Poços de petróleo em chamas… (episódio 6)

Ezequiel teve conhecimento do episódio do Antigo Testamento em que uma sarça (acácia) estava a arder no Monte Horeb e a árvore não era consumida. Nesse local Adonai (Deus) convocou Moisés para liderar os israelitas para Canaã.
Ezequiel ficou entusiasmado com esta cena e teve o desejo de liderar alguém oprimido para se dirigir a terras mais férteis controladas pelo opressor.
Pois bem, identificou o opressor como sendo o exército americano que não deixava os sírios ocupar as suas terras junto do Eufrates na região a leste de Raka. Como impedi-los de avançarem e fazer com que os sírios se instalassem nas suas terras?
Seria ele capaz de inventar uma sarça que ardesse durante muito tempo sem se apagar por não consumir os arbustos?
Este assunto passou a dominar a sua mente dia e noite durante 40 dias, tempo muitas vezes usado na Bíblia para chegar a grandes conclusões, como foi o jejum de Jesus no deserto e também o retiro de Maomé para uma caverna.
Ao fim dos quarenta dias… Eureka! Fez-se luz na mente de Ezequiel.
Usaria o gás dessa região controlada pelos americanos para arder frente a um pequeno bosque, sem o atingir. Daria a impressão que eram os arbustos que ardiam, sendo porém o gás que sairia em jorros por vários orifícios de um largo tubo que correria ao longo do bosque, cortando estradas que se dirigissem para leste.
Ezequiel conseguiu infiltrar-se entre os trabalhadores da extracção de gás e petróleo. Foi armazenando e soterrando junto da sua tenda tubos vários de ferro que serviam na extracção. Ninguém se dava conta de tais desvios, já que a quantidade de tubos usada era enorme.
Depois do trabalho entregava-se à tarefa de furar os tubos um a um, sem a presença de colegas. À medida que um tubo de vinte metros ficava pronto, enterrava-o na traseira do bosque. Ia-lhe ligando outro e outro à medida que ficavam prontos. Durante meses conseguiu ligar quatro quilómetros de tubos que cruzavam os caminhos e estrada que davam acesso aos trabalhadores e viaturas para o local da extracção, a ponto de não terem por onde entrar nela.
Certa noite, quando todos já tinham regressado a suas casas distantes, abriu a torneira do gás que enchia os tubos e pegou fogo por um dos furos que havia feito. De imediato se ateou uma chamarada compacta de vários metros de altura, dando a impressão que todo o bosque em redor estava a arder. Não fossem os montes que rodeavam a estação de extracção de gás a impedir a visão das chamas e estas seriam vistas a quilómetros de distância.
Mal ateou o fogo, Ezequiel pegou nas suas coisas e fugiu dali num jeep de serviço para o lado contrário ao das chamas, na direcção de Deir ez-Zor. Esta cidade estava na posse do exército sírio. Ao passar a fronteira, foi detido. Explicou aos guardas o que tinha feito e pediu-lhes que o acompanhassem a um monte dali próximo donde se avistavam as chamas. Assim fizeram e concluíram pela veracidade do que Ezequiel lhes relatara. Este deu-lhes mais pormenores da região e convidou-os a ir tomá-la, já que ninguém ousaria atravessar as chamas que seriam duradouras. O exército sírio seguiu o seu conselho e ocupou toda a região numa extensão de uns quinhentos quilómetros quadrados e a estação de extracção de gás e petróleo de que tanto necessitavam.
Na manhã seguinte, os trabalhadores e engenheiros da estação dirigiram-se para o trabalho. Ainda longe, ao descerem os montes viram o espectáculo das chamas e não ousaram continuar. Esperaram que o fogo consumisse o bosque para depois voltarem. Passaram-se dias e o fogo não se extinguia. Concluíram que eram os poços de petróleo e gás que estavam em chamas. Era preciso apagar este incêndio. Mas, quem poderia apagá-lo. Os bombeiros locais não estavam preparados para tal. Contactaram os americanos da base distante uns vinte quilómetros.
Vieram uns tantos unimogs carregados de militares e mangueiras contra incêndios. Ainda longe, desistiram de se aproximar, tal era a força das chamas. Regressaram à base e contaram o que viram. Passaram-se muitos dias até que contactassem as chefias do Pentágono, pedindo que lhes enviassem meios para extinguir as labaredas.
Neste entretanto o exército sírio consolidou as suas posições, colocando armas pesadas, mísseis e outro material anti-aéreo. Os americanos tentaram sobrevoar a zona mas aviões, helicópteros e drones por eles enviados foram todos abatidos. Acharam por bem dar como perdida a região que abastecia camiões clandestinos que roubavam o petróleo e gás sírio. Sem os recursos provenientes da venda de petróleo e gás, os insurrectos sedeados em Raka começaram a não ter bens com que se alimentar e começaram a abandonar a cidade, uns entregaram-se ao exército sírio, outros fugiram em direcção à Turquia.
Mais uma derrota dos americanos com forte ajuda de Ezequiel. Este foi agraciado pelo Presidente Assad e bem recompensado. Decidiu rumar a Beirute e aí tomar um avião para França e logo para Portugal.
Ninguém o incomodou, já que nada sabiam sobre qualquer crime por ele praticado. Apenas tinham a palavra de Ezequiel que tinha estado a trabalhar no Líbano.
Jamais os americanos souberam quem tinha praticado tal façanha, acreditando que havia sido o exército sírio. As autoridades da Síria nada disseram sobre o sucedido a pedido de Ezequiel que, aliás, tinha dado um nome falso àquelas.
E assim ficou o segredo só com Ezequiel, que nunca o revelou. Aos amigos disse sempre que estivera a trabalhar no Líbano, onde ganhara dinheiro suficiente para construir uma bela casa com um grande quintal na sua terra e que seria suficiente para viver bem durante toda a sua vida. E assim aconteceu.
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«Breves Contos Militares», por Franklim Costa Braga
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Maio de 2014)
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