Depressa se chegou à Quadra Natalícia com as consequentes reuniões, encontros familiares, de grupos e de instituições, onde não faltaram os afectos, os reencontros com quem há muito tempo não se visitava, os almoços, jantares, cheias com as gastronomias tradicionais e produtos exógenos, a troca de prendas, vivências espirituais e humanas.

Na Quadra Natalícia tive a oportunidade de participar em alguns encontros familiares, de grupos e de instituições, dos quais transmito aos meus leitores a minha apreciação sob diversos aspectos.
A Direcção Regional da Guarda da Fraternidade Nuno Álvares, com o apoio do Grupo do Fundão, realizou na Casa Cultural e Recreativa do Castelejo – Terras de Santa Luzia – uma Ceia de Natal, reunindo os elementos fraternos da FNA do Teixoso, Covilhã, Fundão, Guarda, Tortosendo e uma equipa de antigos escuteiros da Região de Castelo Branco com uma centena de elementos.
O Chefe Regional numa mensagem curta agradeceu a todos os que colaboraram em diversas actividades escutistas no decorrente ano, desejando os melhores êxitos para o Novo Ano.
No Açor, como já é tradição, o jantar servido no Lagar de Azeite, com a participação dos olivicultores, colaboradores e convidados. Realça-se que as couves depois de cozidas são aquecidas com o azeite ainda quente recolhido das bicas do lagar artesanal.
Numa das Salas da Biblioteca, rodeados de livros, decorreu a tradicional Ceia do Clube de Leitores da Biblioteca Eugénio de Andrade do Fundão, uma iniciativa só possível graças à sua Directora, Dra. Dina Matos, e ao grande dinamizador, orientador e coordenador, o escritor Manuel da Silva Ramos. Todos os meses mais de uma trintena de leitores discutem, analisam, criticam um livro de um autor nacional ou internacional escolhido pelo Grupo.
Gostamos de sentir o cheiro do papel, manusear os livros, levá-los debaixo do braço, como se transportássemos um dos mais valiosos troféus. Os livros não devem, nem podem, ser passado, são antes uma garantia do futuro. Não é por acaso que o neurocientista Michel Desmurget refere que «ainda não inventámos nada melhor para o desenvolvimento do cérebro do que ler».
No final da refeição, há troca de prendas, obrigatoriamente livros, que cada um leva a fim de serem sorteados.
Nas instalações do Agrupamento de Escolas do Fundão realizou-se a habitual Festa de Natal do CNE – Agrupamento n.º 120 – Fundão.
O programa desta Festa iniciou-se com a apresentação de várias Peças Natalícias, por parte das crianças e jovens escuteiros, organizado em quatro secções: lobitos, exploradores, pioneiros e caminheiros. Os pais e familiares, além de cantarem canções de Natal, participaram em alguns jogos escutistas.
Na Cantina da Escola realizou-se a Ceia de Natal, confecionada pelos dirigentes e familiares dos escuteiros, onde participaram mais de cento e vinte pessoas, incluindo alguns irmãos escuteiros do Núcleo da Fraternidade do Fundão, da Autarquia e do Município Fundanense.
No Centro de Dia de Santa Luzia do Castelejo, na companhia de utentes, funcionários e colaboradores, decorreu o almoço de Natal, concretizado pelas mãos de voluntárias cozinheiras.
No convívio familiar natalício da consoada e do dia de Natal, estavam três gerações presentes num ambiente de grande amor, alegria e felicidade. Destacam-se já muitos cabelos brancos, quatro pessoas prestaram serviço militar nos três ramos das Forças Armadas no Ultramar, mas também jovens e crianças. Um dos jovens veio propositadamente da Noruega, onde trabalha, porque não encontrou soluções profissionais dignas neste País. Naquele lar estavam bem sinalizadas as motivações, as mensagens do Nascimento do Salvador, com um Presépio feito com abundante musgo. Naquele tapete verde espalhavam-se figuras toscas e coloridas, onde não faltavam elevações, pontes e outros adereços para emprestar algum realismo. Neste cenário natalício, em ponto destacável, a Gruta habitada por Maria, José e o Menino no berço de madeira. A seu lado dois animais, a vaca e a burra, que com os seus bafos aqueciam o ambiente.
A imagem deste Presépio lembrou-nos o primeiro modelo idealizado por São Francisco de Assis há oitocentos anos, com o beneplácito papal.
Tive oportunidade de pela primeira vez visitar o maior Presépio Natural no Sabugal. Entrei naquele espaço e fiquei fascinado com tão belo e significativo cenário natalício em território palestino de há dois mil anos. Na companhia de muitos visitantes, principalmente crianças, percorri um caminho de areia, protegido por longos e centenários troncos de árvores, e logo à entrada admirávamos os Reis Magos, a caminho de Belém. Segue-se a Adoração dos Pastores com os seus rebanhos, uma importante explicação da tradição do Natal, para em seguida observarmos a Gruta de Belém, onde está a Sagrada Família na companhia dos dois tradicionais animais, a vaca e a burra. Interessantes são as hortas, as diversas actividades laborais da época e uma ribeira onde não faltam os juncos. Parabéns por esta iniciativa, que coloca o Sabugal no mapa dos eventos do Natal.
No regresso ouço durante uma hora na Antena2 uma importante entrevista com a professora, escritora Lídia Jorge, abordando diversas áreas.
Afirma que a democracia corre sérios riscos, atravessa caminhos esquecidos da ética, que é o sentido do bem comum. Vive-se um regime carcomido, «tenho consciência da fragilidade absoluta dos regimes democráticos. Perdem-se os valores numa actividade política com muitas suspeitas».
Quanto à justiça ainda está instalada em carruagens do século XIX e interroga-se como é possível magistrados a ganhar mais que o Presidente da República e do Primeiro Ministro, entre tantas outras considerações negativas.
Quanto à educação, afirmou: «Fui professora, hoje não o seria, apesar de no meu tempo se partilharem experiências, livros, testes…» Era convidada para ir falar às Escolas, mas entendeu no final de algumas sessões desistiu. Entende que o Professor deve ser um Mestre, sempre recordado pelos alunos com alguém que transmitiu conhecimentos e valores. Uma referência.
Falou das suas obras com referências para o último romance «Misericórdia», obra premiada a nível nacional e internacional.
Caso inédito, do Presépio público construído pela Junta de Freguesia de Alpedrinha, no Largo daquela Comunidade é roubada a imagem da burra, que se encontrava naquela imaginária Gruta de Belém. As autoridades já andam a tentar descobrir o possível asno larápio.
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«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Março de 2012)
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