Como Jesus, Simão Pedro andou sobre as águas… (episódio 3)

Simão ouviu na missa que Jesus caminhara sobre as águas do Lago Tiberíades para ir ao encontro dos seus discípulos, de que Simão Pedro era o chefe. Isso fazia-lhe confusão. Se ele não conseguia pôr-se de pé em cima das águas do Côa, como é que Jesus andava sobre as águas sem qualquer prancha de surf? É certo que Jesus era Deus e fazia milagres. Mas foi como homem, que também era, que praticou essa façanha, que as gentes consideraram milagre. Mas seria de facto um milagre? Ou apenas uma lei da Física que por ele fora alterada?
Por simpatia para com o discípulo seu homónimo, Simão magicou, magicou, passou noites a fio sem dormir, andou cabisbaixo, ensimesmado, a ponto de os colegas o estranharem e pessoas havia que achavam que estava possesso ou muito doente da cabeça.
Um dia, porém, Simão apresentou-se junto dos colegas de cara alegre e bonacheirão.
– Que se passara? – perguntavam-se e faziam a pergunta a Simão.
Simão respondia apenas: «Nada!»
Mas Simão tinha razão para estar contente. Tanto havia matutado que descobrira a razão de Jesus ter caminhado sobre as águas sem se afundar. Estudou o princípio de Arquimedes com profundidade e concluíu que haveria certas maneiras de o alterar. Foi o que Jesus conseguiu fazer.
Simão passou a fazer experiências na praia fluvial no Côa longe das vistas dos colegas, não fossem eles pensar que estava de facto possesso ou louco. O seu contentamento era visível, mas não pretendia revelar o seu segredo.
Que fazer com ele?
Simão era um rapaz que odiava ver os americanos a dominar o Golfo Pérsico, impedindo a passagem de navios de países que não alinhavam com a política deles, dominando o petróleo e jogando a seu favor com o petróleo dos países do Golfo, como se fosse deles. Jurou que haveria de obrigar os americanos a libertar o Golfo, afastando submarinos, destroyers e porta-aviões da zona que já fora há uns séculos dominada pelos portugueses. E vai daí, jurou colocar bombas no casco dos porta-aviões e demais vasos militares.
Ofereceu os préstimos sob anonimato aos Emirados, que acharam tratar-se dum louco. Ofereceu-os ao Irão que, após testá-los, acabou por auxiliá-lo.
O plano era o seguinte: O Irão fornecer-lhe-ia umas tantas bombas incendiárias muito potentes e colocá-lo-ia perto dos porta-aviões americanos, mas ainda em águas internacionais. Esta operação far-se-ia durante a noite, para não ser visto a caminhar sobre as águas. Numa noite de mar calmo, foi largado com dez bombas, que ele arrastava flutuando sobre as águas. Aproximou-se do porta-aviões USS George Bush, o mais próximo, e colou 3 bombas no casco da proa, distanciadas 50 metros umas das outras, e outras 3 na ré. Estas bombas tinham um dispositivo de contra-relógio acoplado, que ele cronometrou para rebentarem 45 minutos depois, o tempo suficiente para chegar ao barco de pesca iraniano que o aguardava, enquanto fingia pescar. As bombas rebentaram em simultâneo mal ele fora recolhido pelo navio iraniano. O estrondo foi aterrador e provocou uma forte ondulação que ainda atingiu o barco iraniano já em fuga.
Teve ocasião de ver o porta-aviões afundar-se rapidamente, sem que os militares que o ocupavam tivessem qualquer tempo para entrar nos salva-vidas, já que tinham sido apanhados a dormir.
Na manhã seguinte os outros navios americanos deram conta do desaparecimento do porta-aviões USS George Bush, sem saberem explicar tal facto, não obstante terem ouvido o estrondo das bombas e sentido o efeito da ondulação. Pensaram tratar-se de forte trovoada com o ribombar de trovões muito próximo.
Os jornais e televisões começaram a noticiar o misterioso desaparecimento do porta-aviões. Sobre as águas boiavam imensos objectos que lhe pertenciam. Foram enviados pequenos barcos de pesquisa para o local e recolheram alguns dos objectos. Não havia dúvidas. Pertenciam ao porta-aviões. Muitos foram os mergulhadores americanos enviados para o local. Inspeccionaram o casco e fotografaram os rombos no mesmo. Concluíram terem sido bombas que o haviam destruído. Mas, de quem? Como puderam não se ter apercebido de nenhum barco que se aproximara? Como não puderam ouvir o barulho de misseis enviados naquela direcção?
Quem o poderia ter feito?
O senado americano reuniu de urgência e concluiu que deveriam castigar exemplarmente quem provocara tal tragédia, de que resultou a morte de centenas de militares. Mas, castigar quem?
– Só pode ser obra do Irão! – clamava um senador.
– Mas, que provas temos? – afirmava outro.
– Por que não os russos ou chineses? – concluía outro.
O bom senso imperou, quando um senador chamou a atenção:
– Não podemos cometer uma asneira agindo à tonta e tão rapidamente. O melhor é proceder a um inquérito que nos leve ao culpado certo.
– Muito bem! – aplaudiu uma maioria.
Começou o inquérito, pressionados os peritos pelas famílias dos militares mortos, que exigiam os corpos dos seus e a retirada de todos os navios do Golfo.
Tão pressionado foi o Presidente americano, que resolveu convocar os chefes militares e os seus conselheiros, tendo decidido retirar todos os vasos militares do Golfo.
Simão, já em sua casa em Portugal, regozijava com o proveito da sua façanha, que não contou a ninguém. As autoridades iranianas haviam-no recompensado ricamente por se verem livres da presença americana nas suas fronteiras. Na primeira reunião da Assembleia Popular houve quem propusesse uma condecoração das mais altas ao autor da façanha, de nome Pierre e nacionalidade francesa, dados que Simão lhes dera. Ninguém sabia o verdadeiro nome nem tampouco a nacionalidade de Simão, que dera um nome falso. Apenas sabiam que falava Francês e pensaram que era francês. Procuraram-no, mas em vão.
Simão, mal recebeu a enorme quantidade de dólares da sua recompensa, pegou na sua trouxa e rumou à Turquia, onde apanhou um avião para a Albânia. Dali tomou um barco para a Itália e daqui um avião para Portugal. Ninguém lhe pegou no rasto.
Nunca os americanos conseguiram chegar a qualquer conclusão. As bombas eram de um tipo desconhecido. A CIA nunca pudera identificar esse tipo de bombas como sendo fabricadas no Irão. Seriam produto da Coreia do Norte? Quem sabe se não seriam de fabrico israelita?!
A verdade só veio ao de cima quando um dia Simão rebentou com uma enorme pedreira na projectada barragem de Foz-Côa, usando uma das bombas que sobraram.
Ficou toda a gente pasmada ao ver todo um monte ir pelos ares. Este facto foi noticiado na televisão e noutros media. Os engenheiros da barragem desconheciam o método utilizado, nem conseguiram perceber que tipo de bomba foi usada, se é que foi bomba. Indagaram junto do administrador da empresa encarregada da obra da barragem quem era o indivíduo e como fora contratado. Apenas disse que tinha aparecido a propor-lhes fazer o serviço num dia, quando pelos métodos tradicionais levaria meses. Aceitaram mas não retiveram o nome nem a naturalidade.
O anunciado nos media chegou aos ouvidos do embaixador americano em Portugal. Este associou tal feito à destruição do porta-aviões no Golfo. Tanto bastou para a CIA se pôr em acção, inquirindo o empreiteiro sobre o nome e naturalidade do autor da façanha. Nada obteve, já que o empreiteiro de nada sabia. Os americanos ficaram a chuchar por um dedo sem conseguirem deitar a mão a Simão. A única coisa que ficaram a saber foi que fora obra de um português.
Simão, antes de morrer, poderá fazer luz aos seus feitos. Vive tranquilamente na sua terra para os lados do Sabugal, feliz com as suas façanhas.
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«Contos breves de novos inventos militares», por Franklim Costa Braga
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Maio de 2014.)
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