Continua a magia das festas, agora com a passagem do ano que se aproxima, e desejo um excelente 2024 a todos os que estão a ler este meu texto. O ser humano tem necessidade de dar sentido, realçar, festejar, dar magia a certos acontecimentos para sairmos fora do nosso quotidiano.
Nestes últimos meses, não têm faltado momentos para realçar momentos festivos. Começou com o Halloween, em fins de outubro, princípios de novembro, que é uma festa que se vai introduzindo também na Europa. De origem celta, foi nos Estados Unidos que assumiu uma grande importância. E disso fui eu testemunha quando por duas vezes me encontrei naquele país. Todo o espaço público, comercial e mesmo privado é invadido por uma coorte de personagens macabras, esqueletos arrepiantes, máscaras iluminadas com fundos de abóboras com o fim de provocar admiração aos mais curiosos e medo e terror às crianças e a alguns incautos que pouco a pouco procuram entrar no jogo e admirar as cenas repletas de imaginação.
Inocente nestes cenários de provocar terror, fui também eu apanhado, ao entrar na casa da minha filha. Após ter fechado a porta, um esqueleto todo pegajoso e asqueroso colou-se ao meu corpo como se me quisesse levar para o mundo infernal de onde tinha saído. Felizmente que me acudiram rapidamente para me descolar daquele intruso, se não teria ido desta para melhor.
Mal recompostos dos sustos, e passado pouco tempo, já estamos a festejar o «Black Friday», o dia dos saldos, mais uma outra invenção dos Estados Unidos instaurada pelos primeiros colonos do Novo Mundo e que se situa no dia seguinte à festa do «Thanksgiving».
Também a Europa está cheia de tradições. Na Alemanha, Bélgica, Áustria e nalguns outros países do Norte, celebra-se a festa de São Nicolau no dia 6 de dezembro. É, por excelência a festa das crianças que admiram este santo, velho, corcunda, de barba branca, com vestes rubras de bispo, de mitra e báculo, ao passear pelos supermercados ou sentado num trono nas escolas, a distribuir guloseimas aos mais pequenos maravilhados ou amedrontados, que se portaram bem durante o ano, sob o olhar ternurento dos pais que não perdem a oportunidade para imortalizar candura do momento.
O Natal chega a passos largos e a festa religiosa passa quase despercebida porque a «matracagem» da publicidade comercial faz-nos esquecer a magia e a ternura do nascimento de um Deus-Menino. Com o frenesim das compras dos presentes para os familiares nem nos lembramos da origem desta festa cristã.
O nervo comercial não perde nenhuma oportunidade, pois é na altura de Natal, quase todo o mês de dezembro, que as ruas se enchem de tendinhas para nos introduzirem num ambiente de festa, com uma multidão nas ruas, à procura de comprar futilidades, produtos regionais de várias nacionalidades ou saborear de pé uma ou outra iguaria que faz o regalo de grandes e pequenos. Como diz o meu neto: «Não temos necessidade de nada, mas temos de comprar.» Alguns mercados de Natal já se tornaram famosos, como os da Alemanha, sobretudo o de Aix-la-Chapelle, e também o de Bruxelas ou o de Estrasburgo.
Há ainda que preparar a passagem de ano. No meu tempo, havia a tradição de fustigar o ano velho, fazendo barulho com os tachos para o afugentar bem longe e dar lugar ao ano novo que chegava na esperança de nos garantir saúde e bem-estar.
Pouco a pouco, e em certos meios sociais, instaura-se a tradição de fazer a passagem de ano em hotéis com a família e amigos, na abundância de requintados manjares e de excelentes e abundantes bebidas porque não é necessário fazer má figura ao regressar de automóvel para casa.
A magia das tradições ainda não terminou com a passagem de ano. Dentro de alguns dias haverá a Epifania que os nossos amigos espanhóis celebram com mais vigor do que o Natal, mas que nos outros países já não é festejada.
São Valentim lá está no calendário à espera da celebração mágica do amor. Outros olham já para o Carnaval.
Não há dúvida de que o calendário é uma fonte de um universo de tradições onde há lugar para sempre tornar festivo o quotidiano.
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«Pedaços de Fronteira», opinião de Joaquim Tenreira Martins
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Novembro de 2012)
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