Às terças-feiras é tempo da poesia de Georgina Ferro. A poetisa raiana junta a sua sensibilidade artística ao amor e às memórias pelas gentes e terras raianas…

O MEU SAPATINHO DE SOLA
Era bom andar descalça pelo chão
Pisar os tufos de erva verdinha
Correr veloz atrás da libelinha
A fugir com tímida prontidão
Dia de festa era diferente
Nem as chanquinhas serviam o pé!
Escusado fazer-se finca-pé
Calçava sola toda a minha gente
O meu pezinho crescia depressa
O sapato novo de ir à missa
Diga-se, com verdade e justiça
Era curto demais, «essa é que é essa»
Lá ia eu, quase a coxear,
Sapato fino, meia a condizer,
Pois assim é que deveria ser
Não fosse um dedito vir espreitar
Que constrangimento! rábia te pele!
Logo hoje com festa na aldeia
Inda se fosse dia da capeia!
Mas hoje, quem há que por ele zele?!
Acabando de dobrar a esquina
O ti Chico desatou-se a rir
Mesmo antes de alguém lhe pedir
Lá me levou à sua oficina
Eu, sentada ao lado, num pipinho
Ti Chico, pega em uma sovela
E uma guitazinha amarela
Volta a pôr o sapato novinho.
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«Gentes e lugares do meu antanho», poesia de Georgina Ferro
(Poetisa no Capeia Arraiana desde Novembro de 2020)
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