INTRODUÇÃO – Já tinha preparado uma série de 25 artigos de ficção sobre Novos Inventos Militares, que tencionava publicar quando terminasse os temas de Quadrazais. No entanto, dada a actualidade das guerras da Ucrânia e de Israel, em que os EUA têm papel preponderante, resolvi publicar este artigo, que não era o primeiro da série. (episódio 1)
Na génese destes episódios está a adaptação de muitos fenómenos da Bíblia para fins militares, tendo como finalidade destruir opressores da Humanidade, que se valem do poderio económico e militar para subjugar povos, impor-lhes suas mercadorias, suas leis e modo de vida e aniquilando quem deles discorda ou que a eles não querem subjugar-se. São estes opressores que praticam toda a série de crimes, matando civis com seus bombardeamentos, inventando razões para tais actos, como sejam a prática de tiranias de certos governantes doutros países, que na mente dos opressores possuem armas de destruição maciça, a quem é preciso liquidar em nome da democracia, sujeitando-os ao Tribunal Penal Internacional, de que ficam isentos os cidadãos dos primeiros, ameaçando quem denuncia os seus crimes.
Espero não incomodar aqueles que apoiam estes opressores porque vêem neles defensores da democracia ou do direito dos povos à liberdade e à defesa dos direitos humanos que aos opressores não se aplicam.
Os autores das façanhas são ribacudanos, conferindo-lhes, assim, características de tenacidade, força de vontade e de empenho pela justiça e, sobretudo, coragem aliada a um espírito inventivo.
I – Pentágono Abaixo
Josué nascera numa aldeia da Beira, filho de gente que ganhava o pão com o suor do seu rosto, trabalhando os campos com a ajuda de uma junta de vacas. Quando chegou à idade escolar fez a 4.ª classe com distinção. Não pôde continuar os estudos por falta de meios. Mas sempre permaneceu atento ao que o rodeava e via nas histórias da Bíblia que lhe ensinavam as catequistas Bajé e Salomé a possibilidade de descobrir como poderiam ter acontecido.
Foi o que ocorreu com o derrube das muralhas de Jericó ao som das trombetas do exército de Josué que deu sete voltas à cidade, sempre tocando, até que as muralhas soçobraram.
Ele também era Josué. Se era o nome da personagem que conseguira tal feito, então também ele poderia estar talhado para praticar uma grande façanha. Preparou uma banda de trombetistas que ele próprio dirigia, tendo-se preparado para o efeito.
Como treino e primeira experiência, levou a sua banda até ao Sabugal, que tocou junto da cadeia e conseguiu derrubá-la para gáudio dos presos que puderam fugir, sem que ninguém os perseguisse, já que não havia onde os alojar de novo.
– Deixá-los fugir! Não passam de contrabandistas quadrazenhos que foram apanhados pelos Guardas Fiscais com o carrego às costas. Não vem mal ao mundo por trazerem umas colchas de Espanha! – diziam muitos dos que haviam acorrido ao festival.
Mas, por que caiu a cadeia? Estava em ruínas?
Ninguém soube explicar. Só o Josué sabia a verdade, mas essa não a revelava a ninguém, nem mesmo aos seus trombetistas. Estes também se admiraram por as paredes da cadeia terem ruído, sem ligarem o caso ao som das suas trombetas.
A rir, comentavam:
– Tocámos tão forte que até fizemos cair as paredes!
Mas, sem desconfiarem sequer que fora o som forte que as fizera cair. Só o Josué sabia como derrubá-las entrando na frequência do edifício.
Muralhas hoje já não fazia sentido derrubá-las, pois não passavam já de monumentos turísticos do passado. Porém, edifícios que albergavam dirigentes de países opressores poderiam ser alvo das trombetas. País opressor doutros, por excelência, era a América. Era, pois, necessário, derrubar-lhe o centro do comando militar, a saber, o Pentágono. O facto de os americanos terem vetado a resolução do Conselho de Segurança da ONU que pretendia um cessar-fogo em Gaza, onde os extremistas israelitas praticavam um genocídio sobre os palestinianos, ainda o motivou mais a seguir com o seu propósito.
Como ir à América com uma banda de trombetistas e fazer tamanho ruído? Seriam todos presos.
Lembrou-se o Josué de contactar a embaixada dos USA para propor uma festa com toque de trombetas junto do Pentágono.
À primeira levou nega. Nova tentativa e propuseram-lhe que trouxesse a banda a Lisboa e ensaiassem o festival junto da sua embaixada. Agradou-lhes o ensaio, a ponto de terem prometido que iriam contactar alguém que os contratasse. Passados uns meses receberam a devida autorização, com bilhetes de avião para os 20 músicos.
O Josué havia-se previamente informado do tipo de construção do Pentágono, da resistência das paredes e demais pormenores que lhe iriam servir para calcular a frequência das ondas magnéticas que seriam necessárias para o seu derrube em uníssono com as frequências provocadas pelo som arrasador. Não foi fácil mas, pouco a pouco, conseguiu-o.
Embarcaram no aeroporto de Lisboa rumo a Washington. No dia seguinte à sua chegada era o concerto de trombetas à volta do imponente Pentágono. Tal como em Jericó, haveriam de dar sete voltas ao Pentágono. Deram a primeira sob fortes aplausos da multidão que acorrera à festa. À segunda, a visão atenta do Josué notou umas rachas nas paredes. Mas só ele prestava atenção aos efeitos e ninguém teve ensejo de se preocupar. Na terceira e quarta voltas as gretas das paredes alargaram. Na quinta caiu um pedaço de uma janela no lado contrário ao da multidão que, por isso, não se apercebeu do sucedido. Na sexta houve mais umas quedas de telhas.
Vinha aí a sétima volta e o Josué sabia que tudo iria ruir. Por isso, essa volta foi feita uns metros mais desviados das paredes, tendo reduzido as alas de quatro elementos cada fila para menos uma fila, aumentando um elemento nas outras filas.
A multidão batia palmas freneticamente, aplaudindo com gritos que abafavam o ruído da queda das paredes. É que, à medida que iam dando a última volta, iam ruindo as paredes do vasto edifício do Pentágono. Parecia um baralho de cartas a cair. Acabou o festival no preciso momento em que caiu o último troço da última parede.
Ainda se ouviam os gritos dos aplausos quando começaram a ouvir-se apitos das sirenes da polícia, dos bombeiros e das ambulâncias. Gerou-se o pânico entre a multidão, que corria na direcção contrária do Pentágono. Os trombetistas portugueses entraram no autocarro que os havia de levar ao aeroporto, conforme previamente acordado. Uma hora depois já sobrevoavam as ruínas do Pentágono e a azáfama de bombeiros e polícias.
– Que aconteceu para o Pentágono ficar reduzido a escombros? – perguntavam muitas vozes de autoridades, jornalistas e público, em geral. Teriam os construtores feito batota no uso de menos ferro que o devido? Alguma bomba?
Ninguém tinha uma explicação. Foram chamados peritos em bombas para ver se havia sinais de sabotagem. Como sempre, esses peritos demoraram dias em busca de algum sinal, tendo mesmo de requisitar buldozers para retirar algum entulho.
Conclusão: Nada foi encontrado que levasse a dizer que havia sido utilizada qualquer bomba.
O mais estranho era terem ruído todas as paredes de tão vasto edifício. Engenheiros e construtores estavam perplexos com tão misterioso incidente.
A notícia chegou a Portugal, onde os familiares dos trombetistas ficaram preocupados com a possível sorte dos seus. Mas nada havia a recear pois já todos estavam sãos e salvos no aeroporto de Lisboa, donde telefonaram às famílias.
Só então alguém se lembrou da queda da cadeia e começou a ligar os dois incidentes. Haveria alguma ligação entre eles? Como poderia a música derrubar edifícios.
A catequista do Josué, lembrou-se da queda das muralhas de Jericó ao som das trombetas de Josué da Bíblia.
– Que estranho! Um Josué derrubou as muralhas de Jerico. Será que fora o outro Josué a derrubar o Pentágono com as suas trombetas?
Quando Josué regressou à sua terra, a Bajé, sua catequista, fez-lhe a pergunta. Josué sorriu…
– Então achas que eu tenho o poder do Josué da Bíblia?
Mas a Bajé pensou no outro pormenor. As muralhas de Jericó ruiram ao som de trombetas. Por que terá ido Josué com vinte trombetistas à América?
Voltou a questionar o Josué.
– Não me viste a ensaiar com os vinte? Não gostaste de nos ouvir? Caíu alguma parede ou casa aqui?
A Bajé engoliu em seco mas nunca lhe saíu da cabeça que o que acontecera na América era obra do Josué. Bem perguntou a alguns trombetistas se estavam relacionados com o sucedido na América, mas estes estavam tão pasmados e desconfiados quanto ela, sem saberem explicar o sucedido. Tocaram em muitos outros lugares e nada aconteceu.
Só o Josué sabia a frequência necessária para derrubar paredes, frequência que adaptava às músicas que tocavam, e este segredo nunca o revelara aos seus músicos.
Os americanos também conheciam o episódio das muralhas de Jericó. Conheciam também que o Josué da Bíblia dera sete voltas às muralhas a tocar as trombetas. Pensaram no facto de o Josué de Portugal ter também dado sete voltas ao Pentágono. Será que este Josué conhecia a frequência das paredes do Pentágono?
Pediram ao seu embaixador em Lisboa que inquirisse Josué. Este, para lhe provar que nada tinha a ver com o que se passara com o Pentágono, levou os vinte trombetistas a Lisboa. Tocaram suas trombetas em sete voltas à embaixada e nada aconteceu. Provou que não fazia cair paredes.
– E no Sabugal, como ruíu a cadeia? – avançou.
– Não mo pergunte. Os engenheiros que lho expliquem.
Ficou o embaixador sem explicação para a queda do Pentágono, mas também nele permaneceu a dúvida quanto a Josué.
Nunca mais incomodaram Josué, que levaria o seu segredo para a cova.
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«Breves Contos Militares», por Franklim Costa Braga
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Maio de 2014)
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