Em 2007, escrevi no «LisboaLisboa» um pequeno artigo sobre o nosso talefe. Depois, em 2011, melhorei e repeti a referência aqui, no «Capeia». Hoje, deu-me a nostalgia total do talefe da Serra d’Opa e trago-lhe esta bonita memória…
Talefe, ou melhor, «O Talefe». No caso, o da Serra da Opa. Um monumento, uma atracção visual, permanentemente a chamar a nossa atenção quando andávamos na escola do Casteleiro, como se fosse uma espécie de chamamento acima do real…
Senhoras e senhores, apresento-lhes o talefe. Apresento-lhes uma das maiores atracções distantes da minha meninice.
Há muitos talefes. Mas o do Casteleiro é que é.
Os mais velhitos (rapaziada para os 35 e mais) lembram-se de certeza da banda esporádica chamada «Rio Grande»: Vitorino, Rui Veloso, e outros. Cantaram um talefe. Mas o da Adiça, no Alentejo.
A canção abre assim:
«Subi à serra da Adiça
E só parei no talefe
A lua alegre e roliça
Aumentava o tefe-tefe.»
É pena, mas nunca houve ninguém que me cantasse nada sobre o talefe da minha infância.
Talefe: eis mais um mito da minha meninice. O talefe do Casteleiro é no cimo da Serra d’Opa. É tão misterioso que nunca lá fui.
Mas tenho-o na memória como se de um ícone religioso se tratasse: «O Talefe»! E olhávamos cá de baixo, do fundo da tal cova em que (já escrevi várias vezes) o Casteleiro fica: o início real, geográfico, «terrestre» da hoje afamada Cova da Beira.
E afinal o que é «O» talefe. Coisa simples: um mero marco geodésico. Como há centenas no País. Um ponto alto, o ponto mais alto de uma zona. Aí, os serviços cadastrais oficiais instalaram estas marcas.
O mais famoso deles será o da Melriça, em Vila de Rei, e que é o ponto central de Portugal Continental. O centro do País é ali.
Hoje sei que o talefe do Casteleiro não tem nada de vaca sagrada nem de coisa antiga, e ainda menos coisa muuuito antiga. Sei que faz apenas parte de uma rede geodésica que serve (ou melhor, servia) para, através de determinados cálculos, obter um levantamento topográfico bastante rigoroso para a época.
Portanto, algo bem real, da área da Matemática e da Engenharia. Nada de coisa meio religiosa, meio misteriosa, quase mítica.
Mas vão lá vocês dizer isso a um miúdo de oito anos nos anos 50. Quem se atreve a acabar com o encanto, a quebrar o feitiço?
Obrigado por me ler! Até para a semana, à mesma hora, no mesmo local!
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2011)
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