Decorreu no Dubai (Emirados Árabes Unidos) no quadro das Nações Unidas, um encontro sobre Alterações Climáticas (COP28), a fim de se fazer um balanço geral do combate ao aquecimento global e encontrar alterações e alternativas.

No evento climático COP28 participaram duzentos líderes de diversas nações, incluindo Portugal. Neste debate os interesses dos países são diferentes e a resolução dos problemas não são consensuais sobre os combustíveis fósseis.
Paradoxo dos paradoxos, o patrão das indústrias petrolíferas dos Emirados Árabes Unidos é o presidente da cimeira da COP28, e perto de dois mil e quinhentos lobistas de combustíveis fósseis, um record de presenças para uma iniciativa deste género, marcaram presença, pelo que estiveram em causa muitos interesses.
O ambiente foi uma das minhas primeiras preocupações, para o qual fui sensibilizado quando o meu saudoso pai me alertava e avisava para nunca matar um sapo, uma osga, aves e outros animais, porque faziam o equilíbrio na natureza. Na formação do Escutismo esses valores ecológicos ainda se tornaram mais acentuados.
Tive conhecimento do resultado de um estudo realizado por mais de uma vintena de especialistas de quase uma centena de países de vários continentes, dirigido por uma investigadora portuguesa, Maria João Feio, que alerta a comunidade internacional para os preocupantes níveis de fraca qualidade ecológica e para a degradação dos rios em todo o mundo. Refere que 30 por cento de muitos deles estão severamente degradados e com elevada perca de biodiversidade.
O abandono dos campos na minha aldeia natal
Perante este tema, recordo que na minha juventude as duas ribeiras abraçantes da minha aldeia arraiana tinham água corrente durante o ano, o que permitia regar as veigas e campos de cultivo diverso, onde se abrigavam aves como as galinholas, o pica-peixe, as rolas, margens com árvores frondosas como freixos, amieiros por onde subiam as videiras de onde resultava o vinho americano… ainda se pescavam peixes (um quarto dos peixes de água doce do planeta estão em vias de extinção), e eram as nossas piscinas.
Atualmente é uma tristeza, falta de água, terrenos agrícolas ao abandono, moinhos e habitações em escombros, peixes, aves ribeirinhas e outras não se encontram.
Há tempos numa visita às minhas origens e percorrendo aqueles espaços da minha infância, hoje muito vazios de percursos de vida humana, vegetal e de aquária, o meu companheiro visitador, desabafa com muita mágoa: «Já nem um cão, um gato, uma ave se avistam… na tua aldeia.»
São muitas e diversas as razões para esta degradação alargada, que se deve fundamentalmente à acção do homem. Um urbanismo selvagem sem respeitar as regras exigidas, uma poluição sem limites, as zonas ribeirinhas com abates da florestação, construção de açudes e barragens que impedem os peixes de terminar o ciclo de reprodução. Um caso que chama a atenção a nível nacional é o caso da lampreia no Tejo e outros rios. Os estudos indicam-nos que 63 por cento dos rios a nível mundial já não correm normalmente. Os oceanos e os rios são os depósitos de descargas tóxicas que vão dizimar a fauna e a flora, pelo que é urgente tomar medidas.
No acordo de 2015, realizado em Paris e muito invocado, todos os limites das alterações climáticas já tinham sido ultrapassadas e actualmente estamos muito pior neste aspecto. No horizonte não se vêem melhoras, sobretudo quando as três grandes potências mundiais, Estados Unidos, China e Índia, recorrem cada vez mais aos combustíveis fósseis para concretizar os seus investimentos.
Francisco Ferreira, ambientalista de renome internacional, alerta para a necessidade de assegurar um fundo de cem mil milhões para ajudar os países mais pobres a enfrentar as alterações climáticas e um outro fundo para perdas e danos.
O Papa Francisco tem mandado mensagens para todos, que ninguém se salva sozinho.
Tantas razões para se estar preocupados com o facto de tratarmos mal a Mãe Natureza… Como diz o nosso Povo «de promessas está o Inferno cheio».
É urgente, é necessário passar das palavras às acções, para bem do Planeta, de todos nós. Os rios, os mares, as suas margens, tanto podem gerar e partilhar vida, como dar-nos a morte. Todos os esforços e alertas devem centralizar-se na salvação do planeta. Todos temos de arregaçar as mangas, para bem do ambiente, para o nosso bem. Porém, uma certeza me assiste em tudo o que li, ouvi e vi nos órgãos de comunicação social deste COP28 no Dubai, ninguém espere milagres.
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«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes
(Cronista no Capeia Arraiana desde Março de 2012)
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