A rota do tempo oferece-nos o Natal em dezembro, quadra tradicionalmente intensa e fértil em emoções. Mas, verdade seja dita, este período pode degenerar em histerismos profanos.

Um mercantilismo agressivo e pagão infesta, com frequência, o fervor devoto fazendo rolar a fantasia sobre um esbanjo pouco menos que sacrílego.
O frio de dezembro, que trás à tona a festa e o espírito da época ajuda a por a nu, várias espécies de pobreza.
É por demais evidente que há, ainda, outras dificuldades que não as financeiras. O isolamento e a solidão são reais e cruelmente transversais às comunidades modernas.
As incapacidades ou as ausências de familiares são males que se podem infiltrar em qualquer família, independentemente da suas condições.
Surgem, pois, mais notórios nesta época, momentos surpreendentes. Amiúde se escancaram, perante nós, as portas de realidades que não batem certo com o esperado.
Dos poderes instituídos seria de esperar que, nestes casos, nobilizassem muito mais a condição humana.
Enfim, são cada vez menos raros aqueles que, apesar dos deveres cívicos ou outros, seguem, impávidos, perante tais cenários.
Seria bom perceber que, a par de qualquer apoio económico, o coração humano precisa do coração do seu semelhante para alcançar felicidade e que um momento de carinho pode ser determinante para uma alma sofrida.
À trivialidade das fanfarronices seria de subtrair tempo porque as ostentações desvirtuam as verdadeiras colaborações.
E, sim, ajudaria a enobrecer a época natalícia, travar um pouco o afervoramento da quadra, e dar uma palavrinha ou disponibilizar algum desvelo a quem, por embaraços da vida, se encontrasse deprimido ou só. Não seria difícil, valeria a pena e pouco mais custaria que uma boa vontade.
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«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
(Cronista no Capeia Arraiana desde Maio de 2011)
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