Ao visitar, há algum tempo, uma feira de vinhos com um amigo, caminhava admirando tanta variedade e tanta origem que nem me dei conta de o meu companheiro me presentear com uma garrafa, dizendo, sem mais nem menos: «Esta é para ti.»

Arregalei os olhos e, pasmado, gritei: «O quê, vinho do Sabugal? Vinho do Conde de Sabugal?»
Fiquei com a curiosidade de quem aterra num mundo que não imaginava existir. Ao observar os rótulos, disse logo para comigo: «Ora aqui está um vinho que alia enologia, gastronomia e história!» E já não era o conteúdo da garrafa, o vinho, que me interessava, porque sabia bem que no Sabugal não haveria vinho que merecesse ser engarrafado num invólucro tão brasonado.
Quem for entendido em marketing perceberá que na designação de um vinho ao qual foi colocado o nome pomposo de Conde de Sabugal, o rótulo é, por vezes, mais importante do que o produtor ou os produtores, que, neste caso, estão indicados no «verso» da garrafa, com letras mais reduzidas que as outras designações, ficando a saber que este vinho foi produzido e engarrafado pela Sociedade Vitivinícola Encostas do Douro, em Peso da Régua, para a Sociedade Agrícola de Santar, em plena região do Dão.
E a força do marketing continua a insistir para nos vender um vinho cheio de história, pois, ao mesmo tempo que nos apresenta as castas nobres do vinho do Douro: Touriga-Nacional, Tinta-Roriz e Touriga-Franca, transporta-nos para uma linhagem de personagens de há séculos, fazendo referência a importantes nobres que viveram nas nossas terras — os designados Condes de Sabugal.
Chegado a este estado de coisas, já não é o vinho que me interessava, mesmo se ele tinha uma classificação de 4.0, na aplicação «Vinio», considerado um bom vinho, mas sim os designados Condes de Sabugal, referenciados no rótulo, informando-nos que Fernão Martins Mascarenhas tinha vivido no século XVI e foi o quarto Conde de Sabugal.
A curiosidade, que é a mãe de todo o saber, começou a abrir-se antes da garrafa do vinho para tentar descobrir quem teriam sido os condes de Sabugal e sobretudo esse Fernão Martins Mascarenhas, Alcaide-Mor das praças-fortes do Sabugal e Alfaiates, nomeado Meirinho-Mor do reino por D. Pedro II.
Algumas investigações levaram-me a consultar dois elucidativos artigos neste mesmo blogue do nosso amigo Paulo Leitão Batista… [aqui] e [aqui]
Esta poderá continuar a ser também a tarefa de todo o raiano sabugalense que se interessa pela história e pelos vinhos que, ao mesmo tempo que saboreia este apreciado néctar também toma conhecimento dos antepassados que viveram nas nossas terras e deixaram raízes noutras, já que é assim que se constrói o mundo.
Devo ainda afirmar que ninguém me encomendou a publicidade deste vinho das Caves de Santar. É apenas um benéfico efeito colateral da minha digressão numa feira outonal em Bruxelas, acompanhado de um simpático amigo e companheiro.
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«Pedaços de Fronteira», opinião de Joaquim Tenreira Martins
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Novembro de 2012)
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