Já publiquei artigos sobre os negócios em Quadrazais: comércios, tabernas, talhos, fábricas de sabão, padeiras, munhos e venda de excedentes agrícolas. Também publiquei artigos sobre os ambulantes e contrabandistas, negócios de quadrazenhos fora da terra.

No entanto, muitas coisas ficaram por dizer. Assim, por onde andavam negociando os quadrazenhos? Geralmente deambulavam por terras mais isoladas, ou nos montes alentejanos, onde não havia estabelecimentos com os produtos que eles vendiam, por onde andavam durante meses, só visitando a terra pelo Natal e Santa Eufêmia. Locais preferidos: Trás-os-Montes, Beira Interior e Alentejo. Não esqueçamos que os transportes públicos entre terras só se começaram a desenvolver nos anos 50 e 60.
Veja-se o caso de Quadrazais que só teve carreira em 1955. Foi a facilidade de transporte para os grandes centros com estabelecimentos comerciais e depois os feirantes com carrinhas que transportavam todos os produtos dos ambulantes, como os Borregos no Alentejo, que vieram acabar com o negócio dos ambulantes. A França abriu as portas a alguns deles e aos que transportavam o contrabando.
Com a entrada na CEE, deixou de ser contrabando o negócio de produtos espanhóis. Em Trás-os-Montes os ambulantes andavam com cavalos porque as estradas não existiam, não podendo, pois, circular carroças. Como disse no artigo publicado em 18 de Dezembro de 2020, o quadrazenho andava por todo o Portugal e Espanha. Na primeira metade do século XX os ambulantes eram cerca de noventa, tantos ou mais que os que viviam do contrabando, se não contarmos com os assalariados. Os registos paroquiais dos séculos anteriores dão conta de muitos almocreves, que correspondiam a ambulantes. O cavalo era muito apreciado em Quadrazais por ser usado por muitos ambulantes e por outros negociantes. Daí o merecido lugar no emblema de Quadrazais, onde também deviam ter lugar a carroça e o castanheiro, o produtor do alimento principal do quadrazenho durante séculos.
No Alto Alentejo negociavam: os Bragas, pai e filhos Manuel Joaquim, António, Zé e João que depois se estabeleceu em Fronteira, o Tó Matias e sogro Mel Zé Chibo, os irmãos Arlindo Soares, Zé Soares e Flozindo Soares, os irmãos Manuel Zé Saloio e Américo Saloio, o Sordo, o Nacleto Carrapatinho, que se fixou em Évora, os irmãos Comaites, o ti Engenheiro, o ti Manel d’Amélia, o ti Cardosa Velho e genros Zé Cardosa e Victório, o Tó Cardosa e o ti Simão Ferrador e filho.
No Baixo Alentejo: o Zé Ferro e o Bráulio.
Por Trás-os-Montes: o ti Manel Domingos, o pai e irmãos Tó Domingos e Quim Domingos, o ti Zé João, o ti João Xastre e os Gordinhos, pai e dois filhos, que depois se mudaram para o Alentejo, o Herculano Vinhas, o Chico Vinhas e o Martreso, sendo que os dois últimos se fixaram em Mirandela.
No Algarve: os Bicheiros e os Ligeiros. Em Tavira montou um café o Edgar.
Pela Borda d’Água (Vila Franca de Xira e arredores): o Borda d’Água (Alberto), avô do Jesué.
No Cartaxo: o ti Simão Rodrigues, o Manel José Rodrigues e o genro Agostinho Moira.
Pela zona de Cascais e Sintra: o ti António Mocho e filho, o ti António Gonçalves Charavilha, o ti Manel Finote e filho, o Jaquim Pinheiro, o Esteves Bicheiro e o Tó Coixo.
Pela Covilhã: os Pardidos (pai e filhos).
Na Guarda: fixou-se com um comércio o ti Abílio Escudeiro.
Por Idanha e Castelo Branco: os Bedos (pai e filhos), Zé Manel, Aquiles e Abílio e os Moreiras-Zé, Américo e Zé Jaquim.
Pela Lourinhã: o ti Mas…Mas.
Em Rio Maior: os Diogo.
Por Tomar: o ti Abel (pai e filho), e o Chau.
Por Torres Novas: o ti Zé Réqué e filho Leonel.
Por terras de Vila Nova de Foz-Côa: o Ti Manel Francisco Pires.
Por outras terras: o ti Vicente, o Salau e o Sarangalho, o ti Zé Menina, o ti Manel Zé Vaz e filhos Odemiro e Anacleto, o ti Manel Zé Paisana, o Balhé Afonso, Zé Birrão e o ti Augusto Restelo e filho Zé Manel.
Negociavam produtos espanhóis, fixos em cidades, ou só por alguns dias, ou ambulantes:
Em Aveiro: o Zé Simão da Malcata.
Em Coimbra: os Carvalhas Manel Zé e Jé, os Calristas, o Cacheinado, a Bajé da Graça, a Bajé Pólvora, os Jacas, o João Chanas, a Manuela, o Manel Jaquim Meirinha, os Mochos, a ti Nana, as Pecadas e os Tonhinhos.
No Cartaxo: o Farrenheiro.
Na Covilhã: o Pepe, o ti Tó Ramos antes de ter gado, a ti Adélia, a ti Dulce do Finote, a Alice Charavilha, a Estrela do Toninho Meirinha, a ti Corceira e outras.
Várias destas mulheres eram viúvas ou tinham os maridos na prisão.
Em Figueira de Castelo Rodrigo: a ti Mansa e família.
Na Guarda e distrito: a ti Maria do Sá, a ti Preciosa e o ti Benjamim.
Em Lisboa: A ti Bajé do Mário, a ti Alzira, a Rafona, a Silvina do Paulo, o Amano, as filhas do ti João da Mana e o ti Zé da Reis.
Na Marinha Grande e arredores: os Sedas.
Em Santarém: o João Moira, a que se juntou o genro Tó Papseco.
Em Torres Vedras: o Ti Manel Francisco Sapateiro e filho Cantídio, que aí se fixaram.
Em Viseu: o Jé Selada, o Manel Zé Bô e o cunhado Ramos.
As mercadorias espanholas eram muitas vezes enviadas por correio desde Quadrazais, sendo detentores do correio o Sr. Zé Simão ou depois o Papseco. Mas também viajavam de combóio a partir da Cerdeira, para onde eram levadas pelos assalariados dos contrabandistas. Para zonas mais perto de Quadrazais também usavam o táxi do ti Barreiro, o velho Ford, que tinha um fundo falso.
Por terras do concelho do Sabugal e contíguos e outros locais, a pé, de cavalo, de burro ou bicicleta: o ti Balhezinho, o Belmiro Meirinha, o ti Birrão, o ti Calote, os irmãos Cigarri, Zé e Floríval, o Dionísio, o João Baldo, o ti João Lhalhão, o ti Mérico Barreiro, o Nechinha velho, o Quim Padece, o ti Samião, o Zé Manel Manal, o Maja, o Tó Baldinho, o famoso Zé Charavilha, o Ti Zé Lareia e muitos outros.
Chocolate, certamente comprado em Espanha, era vendido pelo ti Catalão em Castelo Branco e pelos Vaz, que ficaram com a alcunha de «chocolate» e outros em diversas partes de Portugal.
Por Espanha: vendiam café o ti Zé Borrega, com seu cavalo, e o Castelhano, entre outros.
Vendiam outros produtos: o Terrá e o Manhonho, entre outros.
Vendiam minério: o ti Tó Lórenço, o ti Barreiro, Balhé Cordeiro, Tonho Mocho, Balhé Selada e filho Batino.
Negociavam outros produtos em Portugal como azeite: o Galana e creio que o ti Funil.
Borras de azeite: o Cotilhas e o Tó Ronha.
Sabão: o ti Manel da Trindade, no Soito, com um burro. Mas outros seriam os vendedores de sabão em tempos em que as fábricas de sabão trabalhavam em Quadrazais.
Outros produtos: carvão, mel, em tempos mais recuados, donde ficaram os nomes Meleiro e não Moleiro.
Na Cerdeira fixaram-se o ti Russinho e o Simão Borrega, com negócio de carnes de porco que vendiam em mercados.
Como se vê, muitos eram os negociantes quadrazenhos. Mais que os contrabandistas propriamente ditos, se não incluirmos como contrabandistas os que apenas transportavam carregos para terceiros, esses sim verdadeiros contrabandistas.
Havia muitos pequenos negociantes de contrabando que o traziam por encomenda dos próprios quadrazenhos, como: boinas, véus, alpergatas, latas de azeite, trigos, caramelos, chocolates, latas de pimentão, uns metros de pana (veludo), roupa interior de mulheres e Ceregumil, tónico para fortalecer. Nestes podemos incluir rapazitos e raparigas que iam quase diariamente a Valverde e Navas Frias, donde traziam aqueles produtos para si próprios ou para encomendas. Crescidos lembro apenas a Maria Preta e o Perricho.
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«Histórias de quadrazenhos», por Franklim Costa Braga
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Maio de 2014)
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