Este sábado, 25 de novembro, foi dia de eleições na Casa do Concelho do Sabugal. A circunstância foi aproveitada, antes da abertura da urna, para uma cerimónia solene de entrega à «Casa» de um quadro onde está registado o momento que antecedeu a última Capeia Arraiana no Campo Pequeno. A oferta pertenceu ao ganadero sabugalense José Manuel Duarte conhecido na Raia como o «Fininho» e responsável pelos animais lidados nesse derradeiro ano na festa do forcão raiano organizada pela Casa do Concelho do Sabugal.

Em agosto de 2012, na Ruvina, no final de uma entrevista ao Capeia Arraiana o ganadero sabugalense José Manuel Duarte deixava um sonho em forma de desejo: «Agora tenho como grande objectivo fazer uma Capeia Arraiana na Catedral em Lisboa.» O sonho concretizou-se em 2019 coincidindo com os seus 25 anos de actividade.
O ganadero que realizou mais de 400 corridas disse, na altura, em jeito de premonição: «No dia em que acabarem os encerros e as capeias a Raia perde a sua identidade.»
Agora nos seus lameiros na encosta que vai desde o rio Côa até ao caminho rural entre a Ruvina e Rendo «apenas» cria cerca de 100 cabeças de bovinos mansos. «Deixei os touros bravos. Os tempos mudaram muito. É necessário investir durante um ano para ter oferta para três semanas de capeias no mês de Agosto. Sem apoios não é possível e decidi abandonar a actividade muito embora continue disponível para ajudar a organizar encerros e capeias», esclareceu este sábado, na Casa do Concelho do Sabugal, José Manuel Duarte.
O presidente da mesa da Assembleia Geral da Casa do Concelho do Sabugal, António dos Santos Robalo, marcou para 25 de novembro a eleição dos órgãos sociais para o próximo triénio 2024-26. Apresentou-se uma lista de continuidade que foi lida em voz alta pelo presidente da Mesa para, de seguida, ser aberta a urna da mesa de voto para umas eleições que se resumiram, praticamente, aos votos de alguns dos membros da lista a sufrágio. É confrangedora a falta de interesse dos associados da «Casa» nestes importantes momentos da associação. A aprovação das contas da Direção que agora terminou as suas responsabilidades deverá ser feita, possivelmente, em Dezembro em assembleia geral ordinária.
Antes do acto eleitoral teve lugar uma cerimónia solene de entrega de um quadro que, possivelmente, vai simbolizar a última Capeia Arraiana organizada pela «Casa» no Campo Pequeno. Considero ser a última por várias certezas…
– As manifestações de contestação dos «anti-touradas» nos jardins em frente à entrada principal passaram a ser presença regular em todos os eventos no Campo Pequeno.
– No final de 2019, Álvaro Covões avançou para a compra da concessão do Campo Pequeno à massa falida da empresa que até então geria este espaço em Lisboa, por cerca de 37 milhões de euros. O empresário teve autorização e o apoio da Câmara Municipal de Lisboa, liderada por Fernando Medina, com a condição de promover os espectáculos musicais e «dificultar a vida» à organização das tradições corridas de touros nas noites de quinta-feira. Actualmente os espectáculos taurinos estão limitados a quatro por ano… até ver.
– No início de 2023 o naming «Praça de Toiros do Campo Pequeno» é negociado e passa a denominar-se «Sagres Campo Pequeno» reforçando como foi dito na altura «a portugalidade num dos espaços mais emblemáticos do país dedicado à promoção da música e da cultura».
Apesar de sabermos que na Capeia Arraiana os touros não são molestados é obrigação de todos destacarmos as diferenças entre a lide com forcão e as corridas taurinas. Mas o sufocante cerco aperta e o direito à diferença e às tradições de uma região estão cada vez mais difíceis.
Mas vou terminar por onde comecei. Este sábado o ganadero José Manuel Duarte por todos conhecido na Raia sabugalense como «Fininho» deslocou-se a Lisboa para entregar à Casa do Concelho do Sabugal uma fotografia ampliada (da autoria de Fernando Clemente) em forma de quadro que eterniza a Capeia Arraiana no Campo Pequeno. Nesse ano de 2019 em que celebrava os 25 anos de atividade taurina foi responsável pelos seis touros e um bezerro contratados pela «Casa».
Na cerimónia solene na Casa do Concelho do Sabugal as «explicações» estiveram a cargo de António Robalo: «Após a minha saída da presidência da Câmara, o José Manuel Duarte, contactou-me por mais de uma vez para fazer duas homenagens. Dizia-me que considerava que tanto eu como a direção da Casa muito fizemos por promover a Capeia. Sugeriu que a entrega do quadro à Casa e da tela à minha pessoa fossem feitas no festival Ó Forcão Rapazes ou na Capeia do Montijo mas não foi possível e ficou tudo adiado para agora, aqui, na Casa.»
O José Manuel aproveitou o momento para dizer o que lhe ia na alma: «O percurso que fiz nestes 25 anos de ganadero não foram fáceis e neste momento não é possível manter a actividade na Raia. Um dia disse numa entrevista que tinha o sonho de trazer os meus touros à catedral de Lisboa. E esse sonho concretizou-se. O quadro que ofereço tem pessoas do mundo da tauromaquia que muito respeito. Gostaria, igualmente, de deixar aqui os meus agradecimentos aos muitos mordomos que me contrataram, ao Município e à Casa.»
Joaquim Corista, presidente da Casa agradeceu, em nome da direção, a lembrança oferecida pelo José Manuel Duarte.
Momento marcante na vida da Casa e da tradição da Capeia Arraiana da Raia Sabugalense. Bem-hajas «Fininho» pela tua dedicação e amor à criação de gado bovino (bravo e manso) e pela promoção da festa da Capeia Arraiana.
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Entrevista, em 2012, a José Manuel Duarte… [aqui]
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«A Cidade e as Terras», por José Carlos Lages
(Fundador e Director do Capeia Arraiana desde 6 de Dezembro de 2006)
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