Era a época das últimas colheitas, antes das geadas, tão temidas pelos retardatários! Os dias encurtavam. Embora nos levantássemos cedo, o dia era já muito pequenino o que me enchia de saudade. Saudade que ainda guardo em mim.

Mal o sol enviava os primeiros raios, ainda com a estrela da manhã acesa, vinha minha tia, pé ante pé, perguntar:
– Então não queres vir?
– Pois quero sim, minha tia. É só vestir o vestido e lavar a cara.
– Então vá, avia-te num instante senão os picos espetam-se nos dedos. Já tenho as cestas e a saca.
Mal molhava a cara com a ponta dos dedos e já estava.
– Ai mem! Nem as remelas tiraste, cachopa. Deixa, logo lavas-te melhor.
Lá íamos ambas, minha tia num passo acelerado e certinho. Eu, ora às carreirinhas para a apanhar ora aos pulinhos para a poder acompanhar.
Quando o relógio na torre dava as sete badaladas era certo que já tínhamos a cesta com um bom quarteirão de castanhas.
Eu adorava «escartchar» com o calcanhar das alpargatas os ouriços que tombavam sem terem soltado «os dentes».
– Toma atento, filha, não te espetes! – advertia minha tia.
Ao despique tentava encher a minha pequena cesta mais depressa do que ela. E claro que conseguia porque era bem mais pequenina. Fazia uma festa, como se fosse uma grande mulherzinha!
Nos primeiros dias da apanha, bastava uma saca, que a minha tia carregava à cabeça, até casa. Depois, já era necessário levar duas ou três que nós enchíamos e meu tio ia buscar mais tarde no carro das vacas. E lá vínhamos nós, seguras aos estadulhos de pernas a baloiçar todo o caminho enquanto meu tio assobiava uma linda cantiguinha que minha tia entoava melodiosamente numa voz suave e linda.
Por todo o lado cheirava a vinho mosto e a fruta madura arrecadada em palha de centeio para acabar de amadurecer sem ficar podre.
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«Gentes e lugares do meu antanho», crónica de Georgina Ferro
(Cronista no Capeia Arraiana desde Novembro de 2020)
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