Ouvindo as palavras de Manuel Alegre dizendo que o Presidente da República fez mal em marcar eleições para o próximo dia 10 de Março vem-me à memória vários episódios da História política portuguesa em que este protagonista esteve ativo politicamente e em que disse precisamente o contrário.
A meu ver, é preciso algum descaramento para quem criticou aos sete ventos o governo de Santana Lopes em 2004 por falta de legitimidade democrática, enquanto fazia uma candidatura à liderança do PS contra João Soares e José Sócrates, vir agora lançar críticas sobre a decisão de Marcelo de dar voz ao povo.
Manuel Alegre aparece agora em praça pública com pergaminhos de defesa da estabilidade contra o tão apregoado «espírito de abril» defendido em 2004…
Certamente se fosse um governo de direita com tal proposta de continuidade de governo, Manuel Alegre já estaria a deslumbrar o fascismo no seu horizonte.
Seria bom lembrar a Manuel Alegre que Américo Tomás também defendia a estabilidade mesmo com um regime podre e que nunca quis eleições livres e democráticas, arrastando o antigo regime até às últimas consequências…
É com tristeza que vejo um resistente à antiga ditadura compactuar com uma falta de clarificação democrática pelo voto dos portugueses.
Seria bom lembrar Manuel Alegre que os contestatários não viveram só na sua época, nem os ditadores ficaram perdidos na História…
Os ditadores nos tempos que correm também ocupam poderes políticos por trás de uma capa aparentemente democrática e os contestatários democráticos dos dias de hoje, albergaram-se noutros quadrantes políticos que não são certamente os que Manuel Alegre defende…
Não foi só no passado que alguém resistiu a regimes podres. Manuel Alegre deveria saber que no presente…
«Há sempre quem diga “não”! Há sempre quem resista!»
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«Correio da História», por Paulo Freitas do Amaral
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana)
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