Ninguém do meu tempo de miúdo poderá dizer que estas linhas aqui hoje recordadas não lhe dizem nada: dizem e mexem com tudo lá dentro. Estas linhas foram publicadas em 2006 no meu blogue «LisboaLisboa».
A aldeia nos anos 50 – os jogos dos putos
Quando era pequeno, a que jogávamos nós? Ponho-me a olhar para trás. As imagens são muito claras, mas não muito diversificadas. Eis dois ou três exemplos de jogos masculinos:
Futebol
A loucura. Podia andar seis ou sete horas seguidas a jogar com a malta. Qual comer, qual quê? Sempre a abrir.
O arco
Esse era um desporto bem popular: uma roda feita de arame bem redondinha é o arco e uma gancha para impulsionar o arco e… já está. Correr com aquele «zingarelho» o mais rápido possível. Era esse o objectivo.
Esconde-esconde
Não tinha nada que saber: um de nós, à vez e conforme o resultado do jogo anterior, punha-se de «pivot», cabeça baixa sobre uma esquina de casa ou um banco do Terreiro de São Francisco. Dava o grito de guerra e os outros, ala que se faz tarde: toca a esconder por ali. Uns segundos para a operação de esconder. O «pivot» desatava logo à procura e ganhava quando os encontrasse todos… Às vezes andava horas seguidas nisto, ali, num olival ao pé de casa!
À brocha (lê-se «à brôtcha»)
Um coloca-se de cara escondida e de mão no rabo com a palma para cima, de modo a poder ser massacrada. Os outros, um deles e só um de cada vez, vão-lhe mandando uma palmada a sério. Aleijava mesmo. Tratava-se de descobrir quem é que tinha batido, por entre os risinhos mal contidos, tanto mais fungados quanto mais dura tinha sido a palmada. Mas em geral era jogado em silêncio para camuflar o autor da palmada.
Dos jogos femininos, lembro-me destes três exemplos:
A cantarinha
As miúdas punham-se todas em fila, de costas umas para as outras e iam atirando para a parceira de trás um vaso ou uma cantarinha (um pequeno cântaro de barro mas já nem sei se com ou sem água). Mas sei que, sendo de barro, era naturalmente um objecto muito frágil que não aguentava a queda, se a houvesse.
O anel
Põem-se todas numa roda, mas viradas para dentro. Estendem as mãos em concha. Uma vai andando por dentro, com o anel nas mãos justapostas e passa com as suas mãos por dentro das mãos de cada uma. Num par de mãos deixou o anel. Pára. Pergunta a uma ao acaso: «Onde está o anel?» Acerta, vai ela para o centro. Não acerta e a outra continua.
O lenço
Muito semelhante ao jogo do anel. Mas a que tem o lenço nas mãos e o vai deixar circula por fora da roda e deixa-o aos pés de uma. O resto é igual.
Na altura, isto divertia-nos. Pelo menos não nos lembramos de andarmos chateados. Até por falta de termo de comparação. É hoje que, ao olhar para trás, isto me parece uma grande pasmaceira. Mas isso é agora, com as consolas, e toda esta parafernália…
Obrigado por me ler! Até para a semana, à mesma hora, no mesmo local!
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2011)
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