Alguém próximo adjectivou-me de «Africanista». Lembrei-me de D. Afonso V, com o cognome de «O Africano». Mas de facto não é a mesma coisa.
Se vim para Angola é porque houve alguma precipitação em Portugal, que me levou a tomar esta decisão. E, por sinal, até tem sido uma experiência muito enriquecedora. Nada é por acaso!
De facto, a caminho de quatros anos, sinto algum prazer de ser africanista, não dizendo com isso que sou de nacionalidade portuguesa e um orgulhoso contribuinte.
Mas o que é ser «Africanista»?
Politicamente nem quero saber. Para mim a política já deixou de fazer parte das minhas preocupações. Estou num país estrangeiro e soberano e, como é obvio, não me intervenho na sua política interna. E de Portugal, é sempre mais do mesmo, por isso também não vejo motivos de me perturbar.
Porém há aspectos do passado, num contexto Europeu, que me deixa a pensar.
Muitos conhecem a música, penso que pelos escoceses, denominada «Amazing Grace». Embora afro-americana, provavelmente emigrantes escoceses a começaram a tocar com gaita de foles, e de facto se espalhou pelo mundo, sendo raramente tocada sem um excerto em gaita de foles.
Esta música afroamericana, mais especificamente espiritual, não usa as sete notas musicais. É mesmo verdade!
A melodia desenvolve-se em cinco tons, as teclas negras do piano, a escala pentatónica, tendo ficado conhecida pela «escala dos escravos».
No caso de Amazing Grace, de 1779, é considerado um espiritual branco, também tocado na escala pentatónica e um hino cristão anglicano.
O seu autor foi Jonh Newton, um pastor anglicano de nacionalidade inglesa, embora antes tenha sido capitão de um navio de transporte de escravos. A letra foi escrita numa melodia de escravos. Oficialmente a música tem a letra de Jonh Newton, mas a melodia está como «desconhecida».
Talvez por isso, um Europeu actualmente ao sentir o aroma africano se apaixone pela terra, pelas gentes e pela cultura.
Por isso, Jonh Newton, tornando-se um acérrimo defensor da abolição da escravatura, possa ser um africanista, ao ponto de ter deixado esta obra que poucos sabem da sua verdadeira história.
Para que não se pense que estarei a contar uma história infundada, deixo no fim um vídeo do cantor Wintley Phipps, um artista vocal norte-americano, ministro da Igreja Adventista do Sétimo Dia.
Quanto ao resto, deixo os leitores e leitoras fazerem o seu juízo!
Cuíto, 21 de Outubro de 2023
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«No trilho das minhas memórias», por António José Alçada
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Junho de 2017)
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