Lá vinham a Concha e a Pepita. Caminhavam lindas nas saias longas e vistosas com xales garridos, grandes tranças negras e um andar leve e gracioso.
Entraram no comércio e fui atrás delas, mas não as vi. Onde se teriam metido a Concha e a Pepita?
Comprei a quarta de café que a tia me tinha mandado ir buscar, mas estava intrigada. Como é que elas tinham desaparecido? Eu tinha-as visto entrar.
Entreguei o café na cozinha e saí a correr para a porta com o olhar cravado na entrada e saída no comércio da frente.
Um longo tempo de espera. Pensei que as cachopas tinham sido levadas para algum esconderijo secreto.
Já a minha imaginação estava a percorrer o mundo das fadas, gnomos e bruxas quando duas senhoras saem à porta. Saias pretas a cobrir ancas bem roliças, cabelos apanhados num troço, xales lisos e descolorados.
Não, não podiam ser elas! De certeza que as bruxas tinham feito algum feitiço! Ainda mais que não havia mulheres no comércio. Só podia ser bruxedo! A Concha e a Pepita eram elegantes e não tinham o passo tão curtinho e pesado.
Fui contar à tia a minha descoberta! E pensando que a tia ia ficar tão preocupada como eu, vi que tentava esconder a cara de riso!
– Ai! Filha! És um taneno! As cachopas tiraram a roupa que traziam lá dentro do comércio para enrolarem uma peça de pano cru à cintura. E tiveram de pôr uma saia larga por cima. Não contes a ninguém.
– Ah!, mas assim parecem já mulheres! Porque não levam o pano num taleigo? É para os guardas não saberem?
– Pois é!
– Então não há bruxas no comércio, pois não?
– Claro que não, minha filha.
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«Gentes e lugares do meu antanho», crónica de Georgina Ferro
(Cronista no Capeia Arraiana desde Novembro de 2020)
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