Conto a história porque descobri que poucos sabugalenses conhecem realmente o Museu do Sabugal e a história que ali se conta. A história não só dos oitocentos anos de forais mas, também, a anterior. O grande trabalho de descoberta, recolha e classificação, que tem sido feito pelos arqueólogos do Município, e não só.
Aos vinte e poucos anos, regressado do serviço militar e na vida profissional posterior, recusada uma transferência para a capital do norte, decidi que a minha vida seria feita na terra que me viu nascer, fazendo o que estivesse ao meu alcance para a «colocar no mapa». Ajudar, que há muita mais gente a tentar fazer o mesmo.
Faz-se o que se pode. Melhor ou menos bem, com mais ou menos aceitação, mais crítica menos crítica, faz parte.
Um dia, de repente, concluímos que afinal não fazemos tudo o que podemos, ou não o fazemos da melhor forma.
Vem esta «descoberta» a propósito de um encontro de camaradas do serviço militar ocorrido há dias por aqui.
Completaram-se em 24 de setembro 44 anos que eu e mais 23 «chamados» (na altura voluntários era aos 18 anos, e no caso da Marinha era uma forma de vida com passagem direta ao Quadro Permanente, e o foi para muitos conterrâneos nossos) entrámos na Escola de Fuzileiros para frequentar o Curso de Formação de Oficiais da Reserva Naval. Fuzileiros, Marinha, mas não a «marinha rica», como era conhecida a Armada. Os Fuzileiros, embora aí integrassem a Marinha, eram uma «guerra à parte», os que faziam a guarda dos quartéis e guarneciam os navios para as operações no exterior destes. Claro que cá fora, uma boina azul ferrete, com fitas pretas, merecia respeito. Porque não era, nem é hoje, dada, é ganha. Internamente também, mas era diferente.
Lamentava-me eu à época que, sendo o Concelho do Sabugal um dos grandes fornecedores de mancebos para a Marinha (que após entrar passamos a chamar Armada), a maioria fossem «taifa» (como são ou eram conhecidos os ligados à parte alimentar, fosse dispensa ou cozinha), e a mim me tocasse ser fuzileiro, que por companhia apenas tem os camaradas e as armas. Deixei de me lamentar quando, pese embora a dureza dos treinos, percebi que com camaradagem e ajuda mútua tudo se consegue.
«Ninguém fica para trás», «O Espírito de Corpo…» foram frases muito ouvidas. Quando descobri que conterrâneos nossos eram referências nos Fuzileiros, como o Comandante Metelo de Nápoles, natural da Nave, ou o «homem ferro», Sargento Silva de Aldeia Velha e que a nossa vizinha Benquerença, era a terra com mais fuzileiros por metro quadrado. E outros que todos conhecemos. E descobrimos que «o Espírito de Corpo é a força do Fuzileiro».
Falava em encontro de camaradas, no presente, e já me perdi a falar do passado. Natural quando as recordações são boas.
Pois dos vinte e três mais um que sou eu, já só restamos vinte, que quatro se foram precocemente; vinte que tentamos juntar-nos anualmente para celebrar a data, e mais umas coisas ligadas à alimentação (vingança de não ter sido «taifa») e à tagarelice, que é preciso pôr a conversa em dia (e agora já mete esposas ou companheiras…), e também dar força a alguns que estão mais frágeis, e este ano calhou ser no Concelho.
Dizia acima que tudo tenho tentado para promover a terra, o que é nosso. Faz parte do grupo o Joaquim Cabral (agora presidente da Junta de Freguesia da Vila do Touro) e, sendo a organização responsabilidade dos dois, em conjunto elaborámos um programa e uma ementa que só deveria ter produtos do Sabugal, e só teve, numa acertada escolha do Chefe Rui Cerveira da Casa da Esquila. Dizia eu aos convivas que apenas o vinho não era nosso, por o Concelho não ser produtor de vinhos de alta qualidade, sendo o mais próximo possível, mas fui corrigido pelo Presidente da Câmara que teve a amabilidade de nos visitar para cumprimentar e agradecer aos visitantes a visita, que a Quinta dos Termos, vinho escolhido, tem vinhas no Concelho.
Mas, dizia também que «um dia, concluímos que afinal não fazemos tudo o que podemos, ou não o fazemos da melhor forma», e porquê? No sábado, visitámos a Vila do Touro e Sortelha e o programa previa, para quem ficou para domingo, uma visita ao Museu, Castelo e restante património no Sabugal.
Acontece que eu não conhecia a real extensão do Museu, e aí chegado percebi que o tempo que tínhamos para a visita seria todo consumido ali. Ou quase, quisessem os convidados fazer uma visita como deve ser.
Interiormente senti-me pequeno. Senti que para proporcionar uma visita esclarecida aos convidados deveria ter feito o trabalho de casa, que no mínimo seria, conhecer. Conto a história, porque descobri logo a seguir que poucos sabugalenses conhecem realmente o Museu, e a história que conta; a história, não só dos oitocentos anos de forais, mas também a anterior; o grande trabalho de descoberta, recolha e classificação, que tem sido feito pelos arqueólogos do Município, e não só.
Vale a pena conhecer, para dizer a quem nos visita, venha conhecer o nosso museu, a história destas terras, que nos vai deixar orgulhosos.
Como «Santos da terra não fazem milagres», também raramente se dá valor ao que se tem ao lado; há que mudar o «chip», que quase sempre vale a pena, e «valorizar o que é nosso».
Todos defendemos, e bem, os nossos produtos; é defender a economia local. Conhecer, defender e divulgar a nossa origem e cultura, é torna-la imortal.
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«A vida do Bombeiro», opinião de Luís Carriço
(Presidente da Direcção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Sabugal.)
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