Às terças-feiras é tempo da poesia de Georgina Ferro. A poetisa raiana junta a sua sensibilidade artística ao amor e às memórias pelas gentes e terras raianas…
ATÉ SOAR O TOQUE DAS TRINDADES
Hoje senti bater saudades
Do sol Poente da aldeia
Antes do toque das Trindades!
Iam as moçoilas à fonte
Buscar água para a ceia
Os rapazes ficavam na ponte
Aperaltados como convinha
A vê-las passar em procissão
Para elegerem a rainha
A quem brindar seu coração
Elas olhavam-nos de esguelha
Enquanto o cântaro enchia
De água fresca do chafariz
Temendo mostrarem-se aselhas
Ao pôr do cântaro na molídia,
Entrelaçada em lindo matiz
De lãs coloridas com corantes
E velhos trapos trajados antes
Eles usavam qualquer chamariz
Para prender, em si, o olhar
E um pouco de idolatria
Pelos gestos e rostos gentis
Plenos de amor para doar
Àquela moçoila que, um dia,
Com ele formaria um lar
No sonho de um viver feliz
Lá vêm as vacas do prado
À frente do dono, cansado,
Bamboleando desajeitadas…
E eis o burro que se espoja
Em desvairado rodopio
Assomam, as mais atrasadas
Que mergulham o focinho
No tanque da fonte do Pio
Ou no bebedouro do Pocinho
Antes de arribar à loja
E, enquanto as vacas, no pio,
Matam a secura da jornada,
Canalha de todas as idades
Joga em alegre rodopio
No meio do largo do Enxido
Ao «motcho», ao eixo, à apanhada
Até soar o toque das Trindades
E gravar na alma com sentido
Coisas de ternura e saudades.
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«Gentes e lugares do meu antanho», poesia de Georgina Ferro
(Poetisa no Capeia Arraiana desde Novembro de 2020)
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