Se, em pleno Verão, o ruído do cambão das noras e as varas das picotas cantavam ainda antes da aurora chegar, despertando-me para ir levar a vaquinha ao prado, apanhar as últimas cerejas, procurar as amoras nos silvados…
Agora, ao aproximar do Outono, são os cheiros a frutos maduros e a mosto adocicado que mais me despertam, bem como o chiar dos carros que «tremelicam» pelo piso irregular dos caminhos até aos «tchões» ou, carregados com as pipas ainda vazias, até às vinhas.
Ouvem-se, pouco depois, os sachos a enterrar na terra seca donde arrancam as últimas batatas, ou mais umas cepas de giesta e de carqueja para atear os lumes de Inverno.
Não tarda a sentir-se a alegria da vindima com as cantigas bem timbradas do rancho de homens, mulheres e catraios. Estes, ainda é cedo para pensarem na escola de carteiras, quadro de ardósia e sacola a tiracolo. Ainda terão de aprender o gosto das uvas moscatel e o pisar dos cachos a rebentar sob o peso dos seus passos em marcha, tal como os soldados na tropa. Ainda precisam de ajudar na desfolhada das maçarocas de milho que tinham carregado a pouco e pouco para o montão que espera na loja. E, se os pais deixarem, vão pegar na «pedoa» para picarem a rama da giesta para a cama das vacas. Talvez até ainda consigam ir apanhar as castanhas antes do dia sete de Outubro. É que depois, torna-se difícil sair de madrugada e voltar antes do campanário toar as nove horas!…
Hora de deixar esta escola de verdadeira aprendizagem experimental para aquela que nos transmitem as palavras de alguém que só os ouvidos e olhos atentos vão tentando perceber e aprender. E os novos professores sabem tantas, tantas coisas que é difícil acompanhá-los sem sairmos do assento de tábuas a que estamos confinados… e irmos só com a mente conhecer serras e rios, linhas férreas, ilhas e províncias, continentes e oceanos, conquistadores e conquistas, descobridores e descobertas… letras, palavras, textos, livros, enciclopédias…
Enfim, aprender a que por mais sábios que sejamos não conseguimos saber nada de nada…
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«Gentes e lugares do meu antanho», crónica de Georgina Ferro
(Cronista no Capeia Arraiana desde Novembro de 2020)
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