Há pouco tempo partiu para a eternidade mais um amigo da zona fronteiriça do Planalto do Riba Côa, e cada vez que assim acontece, entristecemo-nos e ficamos mais pobres. Este texto é uma póstuma homenagem ao Padre Antunes Vaz, que nasceu no dia 2 de Setembro de 1938, na freguesia de Aldeia da Ponte, no concelho do Sabugal.
Naqueles tempos as nossas aldeias arraianas viviam numa economia difícil, de diversas dificuldades humanas e sociais. Os alunos que obtinham o exame da 4.ª classe para continuar os estudos secundários, só tinham a possibilidade de ir frequentar os seminários diocesanos e missionários, onde as mensalidades eram compatíveis com os recursos financeiros das suas famílias.
Assim José Antunes Vaz, entrou no ano escolar de 1949 no Seminário do Verbo Divino, sito no Tortosendo, sendo um dos primeiros alunos daquela Congregação Missionária em Portugal.
Dos estudos em Portugal segue para a capital italiana, onde faz o noviciado. De Roma segue os estudos teológicos na Alemanha, sendo ordenado no país germânico no dia 6 de Dezembro de 1963, tornando-se no primeiro missionário português do Verbo Divino, conjuntamente com o Padre Jerónimo Hipólito, natural de São Vicente da Beira.
O Padre José Antunes Vaz foi um aluno inteligente com uma formação intelectual muito completa em vários aspectos. Assim, não admira que este missionário arraiano fosse canalizado pelos seu Superior Geral, para dar aulas aos novos seminaristas no Tortosendo e em Guimarães, nas áreas da psicologia e filosofia.
Dizem alguns ex-alunos, que se tratava de um professor com grande bondade e muito competente. A sua forma pedagógica de ensinar, o seu caracter alegre, sereno, transmitia aos seus alunos adolescentes, a calma e a alegria de se dedicarem aos estudos e à aprendizagem.
Tinha uma ideia progressiva da passagem dos alunos pelo seminário, comparando-o a um funil, onde aqueles entravam pela parte estreita e saiam pela parte mais larga e em que cada um seguia o caminho que Deus lhe destinava. Não via no seminário uma fábrica de fazer padres.
Em 1980, os seminários da Congregação do Verbo Divino foram alvo de várias transformações e o Padre José Vaz sentiu a necessidade de experimentar outras actividades pastorais e sociais.
Em 1984 encaminha-se para a Paróquia de Vilar Formoso, onde é inserido e regressa ao seu território natural.
Está numa Paróquia de fronteira onde foi criado um Centro de Acolhimento Social, instituição que recebe muitos jovens que não conseguem entrar em Espanha ou são expulsos pelas autoridades castelhanas, encontrando ali palavras de conforto, de solidariedade e de ajuda. Não fica por aqui a sua acção social, implica-se na irradiação da pobreza, na solidariedade com o próximo, cria um «sistema de comida sobre rodas», com apoio domiciliário. Não esquece os idosos, muitos a viverem sozinhos nas suas casas, sem qualquer apoio e apoia a construção de lares naquelas zonas fronteiriças.
O Padre José Vaz foi professor e pastor. Da sua acção pedagógica já se fizeram referências no início deste texto. Quanto ao campo pastoral e paroquial era uma das suas grandes preocupações, exercendo-as com muita alegria. Aquele trabalho era de proximidade, sempre atento a todos, todos, sem excepções, daqueles mais juntos das liturgias como dos mais afastados da igreja. Refira-se que todos os domingos no Bar Lisboa, na fronteira de Fuentes de Oñoro, celebrava uma eucaristia e ouvia as preocupações dos jovens em são convívio.
Em 2009 os Missionários do Verbo Divino comemoram os sessenta anos da chegada a Portugal, instalando-se no Tortosendo. Sobre a chegada e a presença desta Congregação, o Padre José Vaz, afirmou que «ajudou a despertar a dimensão missionária e universal da Igreja no mundo muito fechado como era o português dos anos quarenta e cinquenta do século passado… a vinda de membros do Verbo Divino para Portugal oriundos de vários países europeus… criou uma dimensão universalista da Igreja na consciência portuguesa, sobretudo nas paroquias, a começar pelos párocos, na sua maioria de consciências muito fechadas».
Os últimos anos não foram fáceis com a doença que o atormentava nem com a atenção que merecia.
Dias antes de falecer a 8 de Julho, dizia muitas vezes, «tento relativizar tudo para ficar com o essencial, Jesus Cristo. Por isso, posso dizer como São Paulo, que combati o bom combate e guardei a Fé».
Convivi com o Padre José Vaz no Tortosendo e em Vilar Formoso, e nunca esquecerei a convivência, disponibilidade, amizade, simplicidade, alegria, que sempre me transmitiu. Na sua companhia assisti a algumas touradas e capeias arraianas em Aldeia da Ponte. Nunca esquecerei estes sentimentos transmitidos, a que estarei sempre muito grato.
Ao olhar para a actividade missionária, pastoral, educativa, social do Padre José Vaz concluo que pertencia a uma geração de gente consagrada, praticando a simplicidade, proximidade, alegria, generosidade, solidariedade. Actualmente é preciso alongar os nossos horizontes para muito longe, para encontrar, descobrir, quase como agulha em palheiro, sacerdotes com estes dons.
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«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Março de 2012)
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