Depois do susto com o toiro deram de caras com os carabineiros que tiveram dó das duas mulheres e deixaram-nas passar a irem comprar o pão…
– «Ai mem»! Nem um «codorno» de pão já cá há em casa! E pesetas nem vê-las! Valha-me Nossa Senhora!
– Oi, Bina! Bom dia nos dê Deus! Ai mulher, não me queres fazer «carava» a Navas Frias? Acabou-se-me o pão e amanhã o Ti António Lei vai lá a picar-me uma escaleira do balcão que precisava de ser trocada e eu nem merenda tenho para lhe dar.
– Pois baia, Leocádia! Então não estou eu aqui «consumidinha» que nem um «codorno» tenho de sobejo e nem sequer uma peseta cato na gaveta! Tenho ali um pipo de jeropiga que o ti Zé dos Pilos já pediu ao meu homem se lhe dispensava uma garrafinha. Queda-te aqui que eu vou num pé e volto no outro.
Lá foi a Ti Bina à taverna, mas o Ti Zé dos Pilos não tinha dinheiro para lhe pagar.
– Então o negócio fica para outro dia com o meu homem, não lhe pareça mal, preciso mesmo de pesetas.
A Ti Maria Ramos ia a passar e ouviu o fim da conversa.
– Ora Deus te salve, Bina. Já vi que estás ralada, mulher. Olha, tenho lá pesetas que me pagaram ontem. Posso emprestar-tas!
– Bem haja, Ti Maria Ramos! Preciso mesmo de ir buscar pão. O meu homem está no tchão das Fontainhas e tenho de lhe levar os pequenos.
– Ai, home! Deixa-te disso. Manda cá os «cachopinhos» que eu cuido deles.
E lá abalaram as duas até Navas Frias. Como não vinha ninguém no caminho de volta pensaram logo que havia carabineiros por ali. Em vez de irem pelos carreiros meteram-se pelos lameiros. O pior é que havia toiros bravos a pastar. Acocoraram-se junto à parede tentando nem bulir, mas um dos animais pôs-se em pé como se quisesse ir atacar ao forcão. Óh! pernas para que vos quero!… «Pintcharam» o muro e deram mesmo de caras com os carabineiros que riam à gargalhada! Ambas estavam brancas como a cal! Nem sabiam de quem tinham mais medo se dos carabineiros ou do toiro!
Os carabineiros tiveram dó das duas mulheres e deixaram-nas passar a irem comprar o pão. Mas pediram para não voltarem por ali que iam ser rendidos.
Elas nem queriam ouvir outra coisa. Por ali é que nunca mais iriam «achancar»!
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«Gentes e lugares do meu antanho», crónica de Georgina Ferro
(Cronista no Capeia Arraiana desde Novembro de 2020)
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