Em Angola o dia do herói nacional é a data de nascimento do Dr. Agostinho Neto. Neste ano, se fosse vivo, faria 101 anos.

Obviamente com o tempo os angolanos vão esquecendo a correspondência da data, como acontece em Portugal, por exemplo com o 5 de Outubro ou o Primeiro de Dezembro, cuja juventude tem umas luzes da causa do feriado.

Pessoalmente acho que a data foi bem escolhida e, pelo que entendo, presta homenagem aos heróis caídos pela libertação e também pela pacificação do país.

Se sei um pouco mais da vida do Dr. Agostinho Neto é através da sua obra literária, que teve início antes da censura e do seu pensamento «pan-africanista», movimento incrementado por vários povos africanos, após a Segunda Guerra, com o objectivo da sua unificação contra a ocupação estrangeira.

Muitos sabem da minha simpatia pessoal por Dr. Agostinho Neto e também Eng. Amílcar Cabral. Não os vejo politicamente. Apenas cidadãos com os seus ideais que lutaram pela independência das suas terras. E, de facto, a caminho de cinco anos em Angola, não vejo proximidade cultural com Portugal, pese embora em alguns costumes notem-se que são herança colonial. Daí que a obra de Agostinho faça uma «ponte» curiosa, acabando nas últimas obras a fundamentar os seus motivos de querer seguir livremente o seu caminho.

Qual será o dia do herói nacional em Portugal? Numa história tão longa, poderão haver muitos, mas pessoalmente defendo o 14 de Agosto de 1385, dia da Infantaria e nem é feriado nacional. Com tantos anos passados é natural que os jovens nem imaginem o que se terá passado. Mas sem esse dia, provavelmente não falaríamos português, assim como outros povos espalhados por esse mundo, e em alguns casos, são apenas cidades ou pequenas regiões inseridas num Estado soberano com outras línguas oficiais.

Mas voltando ao Dr. Agostinho Neto, penso que este dia ficará com o tempo na história como o de tantos heróis angolanos, nunca esquecendo obviamente o seu legado poético e literário que o ajudará a perpetuar para memória futura. A cultura é transversal às políticas.

É consensual que o seu falecimento foi prematuro. Muito provavelmente o rumo da história poderia ser um pouco diferente, mas os factos foram estes e a nação angolana vive a paz, uma forte cultura e os problemas que tantos países têm.

Acredito que se tiver oportunidade de escrever um texto neste dia, daqui a uns bons anos, será seguramente diferente. E por isso mesmo recorro às palavras do poeta presidente que são válidas em qualquer fase dos tempos:

«Os heróis são aqueles que tornam
Magnífica uma vida que já não
Podem suportar.»

Kuito, 17 de Setembro de 2023

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«No trilho das minhas memórias», por António José Alçada
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Junho de 2017)
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