«Deus quer, o Homem sonha, a obra nasce» é um dos mais célebres poemas de Fernando Pessoa. Há vinte e cinco anos, uma mulher, Rosária Janeira, natural do Castelejo, concretizou o sonho da construção e inauguração, na sua freguesia, do Centro de Dia Santa Luzia.
Rosária Assunção do Espírito Santo Janeira Antunes está sempre disponível para a causas sociais, religiosas e culturais. Participa no Rancho Folclórico Romeiros de Santa Luzia, é membro da Comissão da Fábrica da Igreja, da Irmandade de Santa Luzia, presidente da Casa Cultural e Recreativa do Castelejo e chefia o Posto Médico.
Já publicou diversos livros. «Datas e Vivências – Que Fazem História», «Alcunhas – Recordações Acarinhadas», «Memórias do Castelejo» e «Mulheres da Minha Terra – Castelejo – Fundão» são persistentes e cuidadosos registos sentimentais, transmitindo-nos recordações das suas geografias oferecendo-nos um mapa vivo da memoria coletiva do seu Povo.
Nas causas do serviço público e político candidata-se às eleições para a Junta de Freguesia e é a primeira mulher no concelho do Fundão, a presidir durante oito anos aos destinos da Terra da Romaria da Santa Luzia.
Perante este tão completo e rico curriculum e sendo a principal obreira do Centro de Dia Santa Luzia, pedi-lhe para me falar da história daquele. Esta senhora dinâmica, simpática, comunicativa e guardadora de memórias, de histórias, de vivencias, de lendas dos antepassados. Foi ao seu baú e partilhou-lhas «para se avaliar o presente, desafiar o futuro, temos que conhecer razoavelmente o passado».
Assim, há mais de trinta anos a família Costa, natural do Castelejo, residente nos Estados Unidos, ofereceu um terreno com a finalidade de naquele local ser construído um edifício com valências de caracter social.
Com esta doação, a Junta de Freguesia meteu mãos à obra para ali mandar construir um Centro de Dia, um desejo e uma necessidade sentida pela população.
As edificações de uma casa com estas finalidades sociais exigem da parte de procura concretizar, muitas normas e exigências, uma montanha de burocracias que só com muito esforço, persistência, dedicação são vencíveis.
A Presidente da Junta de Freguesia do Castelejo, Rosária da Assunção Silva do Espírito Santo Janeira Antunes, o secretário, José Ribeiro, e o tesoureiro, Manuel Almeida, formaram uma equipa, que iniciaram o projeto do Centro de Dia e em Agosto de 1998 estava em pleno funcionamento.
Contaram com o apoio e estímulo incondicional do Município do Fundão, principalmente do atual Presidente. Dr. Paulo Fernandes e das gentes do Castelejo.
Rosário Janeira, salientou dois momentos fulcrais para a não desistência da conclusão da obra. O primeiro, Novembro de 1996, faltavam-lhes quinhentos contos para as obras do telhado, e lançou uma jornada de sensibilização junto das suas conterrâneas para oferecerem uma telha.
Escreveu um poema, que fez a entrega pessoal:
«Creio em Ti, Amiga
A oferta de uma telha
é mais que um presente, é um elogio.
Creio no teu sorriso
Janela aberta do teu ser
Um atelha no telhado
tapa a água se chover…»
Foi um sucesso e a receita ultrapassou a verba necessitada. No entanto, os homens ficaram com os «ciúmes» de se dirigir às mulheres, esquecendo-os. Porém, Rosário Janeira, já tinha na manga uma acção de recolha de verbas e de todos os utensílios domésticos, materiais que as pessoas tinham em suas casas, e não necessitassem ou precisassem de recuperação.
Convidou a Filarmónica do Pé da Cruz de Aldeia Nova do Cabo (Fundão), onde seu pai, José Bernardino Espírito Santo, «Canta Bem», era um dos elementos daquela Banda Musical a fim de fazer uma Arruada pelas ruas de Castelejo, convidado todos os habitantes, principalmente os homens e rapazes, das portas, em andamento, de pé, deitaram para uma colcha o dinheiro que a sua devoção entendesse. Também inúmeras pessoas entregaram muito material de cozinha, móveis, muitos deles alvo de reparação. No final desta operação de solidariedade, tinham o Centro e Dia mobilado e a verba necessária para a conclusão das obras. «Foi um Povo muito generoso».
Outro aspeto que Rosária Janeira salienta é que durante estes vinte e cinco anos tem existido administrações honestas, competentes na procura sempre das melhores soluções.
Um moderno edifício constituído por três divisões, salas de convívio, refeitório, cozinha, arrecadação, forno e lavandaria.
Este Centro de Dia, com sete funcionárias, ocupa e serve trinta utentes, desde o dia 1 de Janeiro até 31 de Dezembro, interruptamente, dá apoio domiciliário e fornece refeições às crianças da Escola Básica e ATL… Fomos ouvir dois utentes, que estavam quase a sair para as suas residências em viatura do Centro.
– Luiza do Carmo Martins, 93 anos, natural do Castelejo – «Trata-nos muito bem, com educação e respeito. Quis vir para aqui porque somos uma grande família.»
– Manuel Encarnação Figueira, 89 anos, natural do Souto da Casa, bem-disposto, espírito jovem – «Ainda gosto de olhar para as cachopas», conversador nato, afirmou, «exerci a minha profissão na construção civil até aos 80 anos, por minha conta. Coloquei azulejos, fiz chaminés e lareiras, tantos trabalhos, as crianças até diziam, “olhem o homem que tira o fumo das nossas casas.” Andei no Seminário, o tempo necessário para ser por algum tempo sacristão na minha paróquia. Aqui comesse muito bem e a horas. Temos gente que nos trata bem. Muitas vezes quero animar a malta, mas sabe que a idade para muitos já pesa…»
No dia 18 de Agosto nas instalações do Centro de Dia festejou-se o 25.º Aniversário com um jantar em que o Povo do Castelejo, colaborou e trabalhou intensamente.
Nestas Bodas de Prata, estiveram presentes diversos convidados, a Vereadora da Camara Municipal do Fundão, Dra. Alcina Cerdeira, que salientou: «O poder municipal não se pode alhear de dar apoios sociais a estas instituições. Salientou o apoio voluntário de qualidade que as IPSS de uma forma geral são beneficiadas.»
O Presidente da Direção do Centro de Dia, Sérgio Ivan Gonçalves, referiu e salientou todas as atividades e valências que as funcionárias ali realizam no seu dia a dia, dando o seu melhor em nome desta instituição, assim como todos os apoios recebidos do Povo, do Município e da Junta de Freguesia.
Parabéns ao Centro de Dia de Santa Luzia do Castelejo! Fazem-se votos para uma profícua e longa actividade, esperando-se que festeje com pompa, circunstância e felicidade as Bodas de Diamante.
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«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Março de 2012)
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