Trago-lhe aqui a Serra d’Opa e os seus encantos, agora traduzidos em lendas e crenças. Vamos divertir-nos, como deve ser…

Há exactamente 11 anos, trouxe aos nossos leitores de então uma série de contos e lendas sobre a Serra d’Opa.
Esta serra, como se sabe, foi sempre alvo e objecto de grandes crendices populares, ligadas a tesouros, mouras e até ruídos do mar lá no fundo, nas entranhas da Serra.
Por que não, então, recordar hoje para si, caro leitor, alguns desses momentos das crenças populares de há séculos?
Claro que as ilustrações seguintes são fictícias! Boa leitura…

Mula de ouro
As lendas populares falam muto de ouro, moedas de ouro, potes de ouro. Pois para a Serra d’ Opa também se arranjou no Casteleiro uma história que mete ouro. Reza assim:
«No alto da Serra d’ Opa, há um haver: uma mula de ouro com selim, freio e tudo. E quem a há-de encontrar é rabo de ovelha ou ponta de relha.»
Eu explico…
A mula tem os arreios todos, até selim e freio, portanto está completa e é muito valiosa.
E está ali mesmo à superfície. Reparem: quem a há-de encontrar é rabo de ovelha (ou seja: não é preciso arranhar muito o solo) ou ponta de relha (a relha é a parte do arado que rasga a terra – mas a relha não vai muito fundo, anda mais à superfície).
Portanto esta mula de ouro está mesmo ali à mão de semear… É só ir buscá-la.

Mouras de tranças de ouro
Por seu turno, Lopes Dias, que era do Vale, conta a história das mouras encantadas que vivem lá no alto da Serra. Mas esta lenda não mete lençóis e sim tranças de ouro… Mais uma vez e sempre o ouro.
Ouro que, se bem se lembram, o Rei mandou procurar no Casteleiro em 1723: mandou explorar as terras para ver se de facto ali havia ouro ou não. Recordo que, mesmo não havendo tanto ouro assim, a verdade é que não falta lá, nas duas encostas da Serra, volfrâmio, estanho e quejandos minérios bem conhecidos, que na Segunda Guerra deram muito dinheiro a muitas famílias da zona.
Retomo Lopes Dias… Destas mouras, conta ele que…
«No sitio da Penha, no cimo da Serra d’Opa (Vale de Lobo) lá vivem elas, lindas entre as mais lindas, escondidas entre enormes penedias, para uma só vez em cada ano – di-lo o povo – na noite de São João, saírem a estender preciosas meadas de ouro que guardam e que só entregarão a quem, naquela noite, à meia noite, apanhar a semente do feto real.»
Mas ninguém se atreve.
«E por isso, lá entre penhascos, junto de enormes penedias, continuam encantadas, lindas, muito lindas mouras, de tranças de ouro, a guardar, pelos séculos dos séculos, grandes, enormes riquezas.»

Grutas misteriosas e barulhos telúricos
Nem só de histórias vive o mito da Serra d’Opa. Os visitantes falam também de minas, grutas profundas, buracos enormes pela rocha abaixo até às profundezas.
Num dos casos, contam-me até que lançavam uma pedra pelo buraco abaixo e que a mesma demorava muuuuito tempo a bater lá em baixo ou nem mesmo se ouvia a tocar no fundo. Sinal de que o buraco não tem fim.
Mais, ouve-se sempre lá no fundo um barulho parecido com o marulhar das ondas do mar. Até há quem diga que ali passa um braço de mar…
Obrigado por me ler! Até para a semana, à mesma hora, no mesmo local!
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2011)
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