O maior movimento juvenil de Portugal – Corpo Nacional de Escutas – está a festejar o Centenário da sua fundação, cujas cerimónias com pompa e circunstância estão a decorrer neste fim de semana na cidade de Braga, com a presença de milhares de escuteiros. Vamos aproveitar para recordar nesta crónica os três últimos dirigentes da Junta Regional do CNE da Guarda – Chefe Vítor Freire, Chefe Nuno Rocha e o Assistente Padre Ardérius – que infelizmente já partiram para o eterno acampamento.
O Centenário do Corpo Nacional de Escutas é um evento que tem merecido as maiores referências nos órgãos de comunicação social, jornais, rádios, televisões, internet…
A minha atenção neste contexto vai no sentido de recordar os três últimos dirigentes da Junta Regional do CNE da Guarda, que infelizmente já partiram para o eterno acampamento. Nesta intenção, também os verdadeiros escuteiros e seus familiares não esquecem os dirigentes que os ajudaram na formação de uma educação integral, durante estes longos anos.
É sempre importante recordar que estes dirigentes colocaram o seu tempo disponível ao serviço dos jovens, um serviço de voluntariado sem recompensas monetárias, mas sim com a recompensa da fraternidade e da partilha. Sem horários e sempre disponíveis para ajudar a crescer os jovens que lhes eram confiados.
Aqui descrevo aquilo que conheci, vivi e me foi transmitido sobre estes três dirigentes da Junta Regional da Guarda…
– Vítor Manuel Freire – nasceu 16 de Novembro de 1953 na Lageosa do Mondego e faleceu em 10 de Maio do corrente ano, vítima de acidente, aos setenta anos, horas depois de ter colaborado na recolha de géneros alimentícios para o Banco Alimentar.
Segundo o Chefe Regional Emérito António Bento, e a Chefe Regional Sandra Cristina, a sua última actividade a nível regional foi no Dia Regional de São Jorge, patrono do Escutismo, que se realizou na cidade da Guarda, com cerca de seiscentos escuteiros, na freguesia de São Miguel da Guarda Gare.
O Vítor foi sempre muito entusiasmado pelo Movimento Escutista, tanto a nível Local, Regional e Nacional, que abraçou com grande entusiasmo, dedicação, doação e trabalho, ao serviço do Escutismo tantos anos. Muito afável, carinhoso, trabalhador, alegre pedagogo a ajudar os mais pequenos com a sua experiência.
Vítor Manuel Freire exerceu a profissão de Professor e como voluntário serviu os Bombeiros e o Escutismo durante mais de meio século.
Como professor dedicou-se a ensinar os mais jovens em Celorico e Lageosa do Mondego, sua terra.
Como bombeiro cooperou na Escola Voluntária dos Bombeiros de Celorico da Beira, ajudando os mais necessitados com a sua dinâmica, saber e amor cristão.
Como Escuteiro, em 1994 começou a sua caminhada em Celorico da Beira no Agrupamento n.º 1094. Com a extinção daquele Agrupamento não ficou parado, e fundou o Agrupamento n.º 1299 em Lageosa do Mondego, sua terra natal.
A Chefe Otília do Agrupamento n.º 580 (Tortosendo) diz-me: «Aquele homem tinha um coração enorme onde todos nós lá cabíamos. Quem conviveu com o Chefe Vítor Freire, só pode afirmar e lamentar que se perdeu um grande Chefe do Movimento Escutista.»
Também os Lobitos daquele Agrupamento testemunharam: «Víamos nele a figura de Baden Powell, porque tinha parecenças físicas com o nosso Fundador.» Todos foram unânimes: «Temos de seguir o exemplo que nos deixou.»
Com grande espírito e dinâmica escutista, foi chamado para departamentos regionais, onde em sectores técnicos se dedicou intensamente.
Participou em muitas actividades regionais, com os Lobitos, Exploradores, Pioneiros e Caminheiros.
Assumiu e organizou, juntamente com a Junta Regional da Guarda, o Acampamento Regional em Santo António (Celorico da Beira), e mais tarde na freguesia da Ratoeira (Celorico da Beira). É possuidor de diversas condecorações, tanto a nível Regional e Nacional, destacando-se o eficaz trabalho que vinha realizando no campo escutista em Idanha a Nova, nos Acampamentos Nacionais, onde teve um papel de destaque.
A este propósito, Francisco Alves Monteiro, dirigente da Região de Setúbal, salientou: «Tive a felicidade de conhecer o Chefe Vítor Freire em várias actividades escutistas, nomeadamente, em Acampamentos Regionais e em quatro Acampamentos Nacionais. Deixou-nos o seu exemplo, do que é um verdadeiro amigo. Considerava-o e tratava-o como o Baden Powell da Região da Guarda. Muitas são as histórias que vivemos e poderia contar…»
O Chefe Vítor Freire esteve sempre disposto e atento aos novos caminhos, aprendendo, escutando e refletindo sobre as novas realidades do Escutismo. Prestou serviço de voluntário no Santuário de Fátima e muitas vezes foi o portador da Luz de Belém aos Agrupamentos.
– Chefe Nuno Rocha – iniciou a sua actividade escutista no Agrupamento 120 do Fundão, destacando-se como Chefe do Agrupamento 1335 de Aldeia de Joanes (Fundão), entre Outubro de 2011 e Setembro de 2020. Este Agrupamento, no dia 30 de Maio, festejará o 14.º Aniversário.
Durante o seu mandato na Chefia do Agrupamento, conseguiu a mudança da sede de umas instalações no sótão de uma casa paroquial, sem as mínimas condições, para uma nova sede moderna, independente e com todas as condições para o desempenho das actividades escutistas.
Desempenhou as funções de Presidente e Vice-Presidente do Concelho Fiscal Jurisdicional Regional. Foram-lhe atribuídos dois louvores de carácter regional e a Primeira Cruz de São Jorge de 3.ª Classe, categoria Bronze.
– Assistente Padre Virgílio Mendes Ardérius – tem um longo percurso escutista. Foi um extraordinário elemento, com um coração aberto para sempre servir e criar condições para que os jovens crescessem e singrassem na vida com espírito escutista, na defesa da natureza e dos mais desprotegidos da sociedade…
Fundou, em 1960, o Agrupamento de Seia, seguido de muitos outros núcleos na Região da Guarda.
Escreveu vária obras com temáticas escutistas. Foram-lhe atribuídas diversas medalhas de mérito e de agradecimento e a Cruz de Mérito do Santo Condestável da FNA.
Estes três dirigentes fazem parte de uma enorme plêiade, de milhares de voluntários, que serviram voluntariamente o Movimento Escutista durante um século, na formação de muitos jovens portugueses.
Portugal tem de estar grato à Grande Família Escutista.
No diário de 1950, Eduardo Lourenço, que recordamos o centenário do seu nascimento, refere-se assim à morte dos pais: «Não enterramos os mortos que se enterram em nós.»
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«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Março de 2012)
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