Alguém hoje ainda se lembra do que eram vinte mil réis? Alguém das novas gerações já bebeu um copo de três? Alguém se lembra das mouras encantadas da Serra d’Opa ou do ruído numa das aberturas que parece o marulhar das ondas do mar lá no fundo?

Belezas da Natureza da minha aldeia e arredores
O cume da Serra d’Opa é um lugar mágico. Saídos como que por encanto das entranhas da Terra, grandes blocos de granito erguem-se em formas bizarras, algumas, a lembrar formas humanizadas, outras. É nestas penedias que vivem, escondidas, três lindas mouras com tranças de ouro, de formas esbeltas e de superior encanto, presas por eternos desígnios a uma eternidade infinda. Aqui sim, algumas destas fragas atestam evidentes vestígios da mão do Homem. Concavidades escavadas, aparentes formas traçadas, transportam-nos para onde a imaginação nos levar … à medida que o olhar nos deixa «voar» para além dos horizontes.
As histórias falam também de minas, grutas profundas, buracos enormes pela rocha abaixo, até às profundezas. E eles lá estão efectivamente. Conta-se até que se ouve lá no fundo o marulhar das ondas do mar!
Unidades de medida antigas
Interessante: tenho notado que muita gente tem ido ler uma crónica que escrevi há dez anos sobre as unidades de medida antigas. Isso leva-me a repetir essa informação mais cedo do que estava programado. É que quereria eu que toda a gente soubesse o que eram 20 mil réis há 50 anos e mais…
Portanto, resolvi incluir estas notas hoje também aqui neste crónica da série de revisões da matéria dada… É que há coisas que não se podem perder. E noto que há sempre rapaziada mais nova que mostra interesse por estas coisas…
Vinte mil réis!
Hoje, 20 mil réis não nos parece nada (20 escudos, 10 cêntimos do euro, se quisermos traduzir para os nossos dias de hoje). Mas naquele tempo, era dinheiro. Eu explico: era quando o Ti Zé Pires, cantoneiro, nos dizia que ganhava 900 mil réis, ou seja: 900 escudos (4 euros e meio!). Parece hoje um quase nada.
Mas não era bem assim: as pessoas ganhavam mal, muito mal, mas com os tais 900 mil réis ele dava de comer à mulher e aos filhos – o que era obra.
Vamos então rever as medidas dos líquidos e dos sólidos de antigamente…
Medidas de sólidos e de líquidos
Alguns exemplos: Uma arroba de batata: 15 quilos. Um alqueire de pão (ou um meio ou uma quarta de pão – metade de um meio, um quarto – sempre relativamente ao alqueire, claro). Um alqueire, eram mais ou menos 14 litros: 14 quilos, aproximadamente. Um quarteirão de sardinhas.
Ou, para os líquidos: a água era transportada em cântaros. Mas essa medida não tinha rigor, porque a água não tinha valor económico propriamente dito a esse nível. Era essencial a água no poço ou na mina – mas para regar as terras e não para as trocas ou vendas. Já com o vinho ou o azeite, a coisa era diferente. O azeite, tanto quanto me lembro, era medido e referido em alqueires (é estranho, mas acho que era assim):
– Este ano, colhemos trinta alqueires de azeite! – E para o azeite, sempre ouvi falar de «bilha» e de «pote».
Para o vinho, havia uma panóplia de medidas, desde as pequeninas como o copo de três até às «gigantescas» como a pipa (que podia ir aos 300 ou 400 litros, pelo que me lembro). Seguiam-se: a pipa, o pipo (mais pequeno), o barrico (mais pequeno ainda). Havia outra palavra, mas menos usada: barril.
Talvez, portanto, «barrico» fosse apenas uma corruptela popular dessa outra palavra (barril). Na tasca e para pequenas vendas falava-se de uma garrafa, um quartilho ou meio quartilho de vinho e, ao balcão (de madeira, claro, quando o havia), bebia-se um belo de um copo de três…
Pelas vindimas, falava-se de «uma dorna de uvas»…
Obrigado por me ler! Até para a semana, à mesma hora, no mesmo local!
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2011)
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