Dia oito de março celebra-se o Dia Internacional da Mulher em pelo menos 189 países. Nada tenho contra este ou outros dias comemorativos que servem para nos pôr a pensar e chamar a atenção para o assunto alvo da comemoração. Para além de que dão um «jeitão» à economia consumista…

Ao ver os noticiários da véspera sou confrontado com a notícia de que em Espanha foi aprovada uma (mais uma) lei da Paridade que refere que as grandes empresas têm até julho de 2024 para incluir nos seus conselhos de administração pelo menos 40% de mulheres e também que as listas eleitorais têm de ser paritárias tal como os cargos de direção públicos e privados devem respeitar as quotas, caso contrário haverá sanções.
Nos mesmos noticiários, no mesmo dia, percebo que «há várias estudantes envenenadas em escolas no Irão». E acaba ali a notícia. Nada como os cinco minutos, com reportagem de exterior, que teve direito a aprovação de um decreto que decreta o que não é possível fazer por decreto. Decreto aprovado por mulheres e homens que querem por decreto colocar pessoas em lugares que deviam ser definidos por competências. Lugares a que, quem aprova o decreto, nunca chegaria não fosse serem «aprovadores de decretos».
E vem-me à memória o que, sobre este tema escrevi em maio de 2022: «Entre a senhora que (em 1973) votava por herança do marido, e os dias de hoje, vai uma enorme diferença, que se ganhou passo a passo, nunca por decreto.»
Mais uma vez me apetece dizer que na véspera do «Dia da Mulher» é mais um aproveitamento de um tema que, no mundo dito desenvolvido, Portugal incluído, já não é, ou não devia ser, tema. Dizer-lhes que «vamos arranjar forma de vos colocar na administração das grandes empresas porque não acreditamos que lá chegueis de outra forma». Em dez administradores quatro têm de ser mulheres. Em cinco serão duas. Em três, ui aqui a porca torce o rabo, um ponto dois. Como fazemos, arredondamos por defeito? Não, que a lei não é cumprida porque diz que «no mínimo quarenta por cento» e com uma só faz trinta e três ponto três. Pomos duas, mas assim ficam sessenta e seis ponto seis de mulheres e trinta e três ponto três de homens. Estará bem? Pois, não sei, que a lei diz que o sexo menos representado tem de ter quarenta por cento. Publicidade eleitoral à medida do dia.
Como será de fácil perceção, não conheço a lei que ainda não foi publicada, reajo porque continuo a achar uma estupidez e um atestado de incompetência querer definir a paridade por decreto. Pelo que ouvi e li, esta lei (espanhola) não é exclusiva para as mulheres, mas sim para o sexo menos representado. Não deixa de ser aberração, quando já se defende que os sexos não são só feminino e masculino. O que vamos ter a seguir?
Interessante, e dá que pensar, é que tanto Portugal como Espanha têm mais mulheres que homens. Trezentas e vinte mil em Portugal e quinhentas e cinquenta mil em Espanha. O que nos leva a pensar que num Parlamento como o português onde a percentagem de mulheres é de 37% (não cumpre a lei que aprovou em 2019 subindo o limiar 33% para 40%) a lei da paridade é puramente eleitoral, dirigida aos três por cento de mulheres votantes a mais que os homens. Nada de estranho.
Estranho é que a notícia sobre o envenenamento de estudantes nas escolas femininas do Irão não tenha o mesmo destaque. Nem os anteriores sobre a proibição de as mulheres estudarem. Talvez porque nesses países há menos mulheres que homens. Pouco menos, mas são menos.
Vamos continuar a ser inundados por dias da mulher, e outros afins, para nos esquecermos que bem próximo há as mães e as mulheres dos soldados que morrem, e as filhas, e, já agora, os filhos. E logo ao lado há mulheres que são proibidas de aprender, e envenenadas por terem a coragem de o tentar. Talvez um dia haja algum(a) «aprovador(a) de decretos» que ache que também essas mulheres têm de ser 40% da vida pública. As mulheres que, com o beneplácito de todos(as), foram proibidas de aprender. Quem sabe, talvez tornem o mundo melhor.
Por isso mesmo, o meu respeito a todas as mulheres.
Especialmente às Bombeiras, cada vez em maior número sem necessitar nenhuma lei da paridade.
Tenham todas (e todos, que hoje elas deixam-vos livres a não ser que tenhais de ficar com os pequenos) um «Feliz Dia da Mulher», e, a não esquecer, já se pode fazer a consignação do IRS…
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«A vida do Bombeiro», opinião de Luís Carriço
(Presidente da Direcção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Sabugal.)
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