Há quatro anos conhecemo-nos no Núcleo da Fraternidade Nuno Alvares do Fundão, conjuntamente com a sua esposa Maria Manuela Gonçalves Ascensão Martins, do qual somos membros efectivos, nunca esquecendo o grande lema, que sempre nos orientou e dinamizou: «Uma vez escuteiros sempre escuteiros.»

Estou a escrever sobre António Eduardo Antunes Martins, natural do Fundão, onde nasceu a 21 de Julho de 1962, na maternidade do Hospital da Santa Casa da Misericórdia, beneficiando dos cuidados de saúde da Irmã Teresa, da Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, que durante oitenta anos prestaram serviços de saúde e sociais de que muitos fundanenses beneficiaram e nunca esqueceram. Alguém que trabalhou no então Hospital do Fundão, afirmava, «eram mais enfermeiras do que freiras».
O progenitor António Martins era empregado de comércio na emblemática Loja do Saraiva, na Rua 5 de Outubro do Fundão. A mãe, Maria de Deus Antunes Caldeira, tinha o trabalho doméstico, gerir a economia familiar, cuidar de quatro filhos e uma filha, actividade familiar que lhe ocupava o tempo por inteiro.
Na idade escolar, frequentou a Escola das Tílias, única no País, com os famosos azulejos da autoria do ceramista e pintor Jorge Colaço, com dois painéis principais: a Restauração de Portugal e a chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil. Teve como professoras Lurdes Santos e Maria Mendes Gouveia, fazendo ali o exame da 4.ª Classe. Uma visita a esta Escola Fundanense é obrigatória.
Naqueles tempos, com apenas nove anos, já trabalhava da meia-noite até à cinco da manhã, na Padaria Nobre, junto à actual Repartição de Finanças. Dormia três ou quatro horas, e às nove já estava às portas da Escola Primária. Eram tempos difíceis…
Diz-me: «Foi a minha aprendizagem de uma vida difícil, hoje seria impossível, felizmente, esse trabalho infantil.»
Terminada a frequência da Escola Primária, foi logo trabalhar para a loja dos eletrodomésticos «Barrocas», no Fundão, onde se manteve durante cinco anos.
Em 1981, com dezoito anos, foi admitido como funcionário da Câmara Municipal do Fundão na categoria de servente, sendo Presidente desta edilidade Joaquim Pinto Castelo Branco, «uma excelente pessoa e dirigente».
Aqui faz um percurso profissional de calceteiro e actualmente é o encarregado da Secção de Calceteiros da Câmara Municipal.
Quando passamos ou passeamos pelas ruas das cidades, vilas e aldeias do nosso Portugal, muitas vezes não nos apercebemos da arte representada nas calçadas, feito por mãos da arte de bem fazer.
Os trabalhos deste funcionário municipal estão bem patentes nas ruas do Fundão, Alcongosta e outras freguesias. Quem visitar o Campus Gardunha, Agrupamento 120 do CNE, pode observar o emblema do Movimento Mundial do Escutismo. No segundo fim de semana de Junho do corrente ano, ali se realizará o Acampamento Nacional da Fraternidade Nuno Álvares, onde acamparão centenas e centenas de escuteiros fraternos de diversas regiões do País.
No início da sua profissão teve um grande mestre na Câmara Municipal, o saudoso encarregado, Osório Figueiredo, com quem aprendeu muito do que sabe hoje nesta trabalhosa arte. No trabalho municipal recebeu a Medalha de vinte e cinco anos de dedicação laboral.
Uma das muitas actividades de referência é no sector do Voluntariado, pois em 1976 ingressou nos Bombeiros do Fundão, como aspirante de 3.ª classe, fazendo uma carreira que terminou em 2011.
Progrediu na carreira, fez diversos cursos e em 2002 foi convidado pelo Comandante António dos Santos Antunes para o cargo de Adjunto de Comando Operacional.
Durante trinta e cinco anos de bombeiro voluntário foi distinguido com as Medalhas de Bronze, Prata e Ouro, Serviços Distintos e de Mérito.
Também no Voluntariado, em 1973 filiou-se no CNE (Corpo Nacional de Escutas no Agrupamento 120 do Fundão), onde durante quatro anos esteve na Secção de Exploradores. Recorda o Chefe Carlos Guilherme Lopes e o Assistente Padre Manuel Joaquim Martins, pároco de Aldeia de Joanes e Aldeia Nova do Cabo, Professor na Secundária do Fundão e muito ligado e próximo à juventude e às pessoas de uma forma geral.
Graças a «esse bichinho», a esse baptismo escutista, que nunca mais esqueceu, aderiu, na sequência dos convites do Chefe Carlos Alberto Brito Martins, do Chefe Beto conjuntamente com a esposa, ao Núcleo do Fundão da Fraternidade Nuno Álvares, que coincidiu com a sua criação na Região da Guarda. Durante estes quatro anos tem desenvolvido, com o apoio incondicional da esposa e de todos os fraternos, a um trabalho voluntário de muito mérito em diversos sectores, ambientais, sociais, humanitários e na melhoria das instalações escutistas.
No quase anonimato a sociedade tem pessoas que se dedicam voluntariamente em acções que beneficiam os que mais precisam.
António Eduardo Antunes, na «Na Arte de Bem Fazer», como profissional municipal, escuteiro, bombeiro voluntário, é um cidadão de corpo inteiro. Além de fazer calçada e desenhá-la, o que é sempre uma forma de escrever e tecer poesia.
Para ser sempre recordado, transcrevo a frase da escritora Lídia Jorge: «Tudo existe e tudo passa; se não for escrito, não há eternidade.»
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«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes
(Cronista no Capeia Arraiana desde Março de 2012)
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