CAPÍTULO I – Tinha preparado XXVI capítulos sob o título «Contos breves de novos inventos militares», cujos protagonistas seriam heróis do concelho do Sabugal, a serem publicados em meados de 2023. Este seria o XXIV capítulo. Porém, dados os recentes acontecimentos na China, por ser actual, resolvi antecipar a sua publicação.

CAPÍTULO I
A sede do PCC-Partido Comunista Chinês em chamas
Luís tinha em mira os americanos por impedirem a reunificação das Coreias, explorando o povo da Coreia do Sul. Mas não eram só os americanos que estavam na mira do Luís. Estava desejoso de poder acabar com injustiças graves fosse onde fosse.
Descontando embora alguns pontos à propaganda do Ocidente, encabeçada pela máquina de falsas notícias dos americanos, sobretudo dos seus serviços secretos, Luís tinha conhecimento da falta de liberdade na China, cujo partido comunista dominava tudo e todos, não sendo permitida qualquer opinião contrária à oficial. O controlo era tal que imprensa, rádios e televisões só poderiam dizer amém ao que publicava o jornal oficial do partido… «O Jornal do Povo». Os cidadãos eram super-vigiados, sendo mesmo controlados os seus movimentos e as conversas por telemóveis.
Para o Luís isto era desumano. Havia que fazer algo para impedir este estado de coisas que já havia chegado a Hong-Kong e a Macau, apesar de a China ter jurado respeitar o estatuto especial destas duas regiões. A recente revolta dos chineses em Xangai, Pequim e Cantão, em que pediam a demissão de Xi JinPing e o fim do PCC-Partido Comunista Chinês, levou-o a intervir a favor dos revoltosos, perseguidos que estavam a ser pelas autoridades chinesas.
Muito bem. Teria de usar a sua técnica de invisibilidade, que conseguira obter após longo estudo, e destruir pelo fogo a sede do todo poderoso PCC que impedia a liberdade do povo chinês.
Começou a preparar a sua viagem turística à China. Para ser mais fácil, inscreveu-se numa excursão a esse país que algumas agências de viagens organizavam. Elas tratavam dos vistos e dos hotéis. Luís apenas teria de levar na sua bagagem de mão umas três bombas incendiárias de seu próprio fabrico, pesando cerca de quatro quilos e meio. Coisa fácil de transportar no seu saco às costas. Só teve de dar invisibilidade a esse saco ao passar a Alfândega, desta vez com nova técnica que consistia em revestir o saco de um tecido que o tornava invisível, inspirado nas técnicas usadas por americanos e russos para evitarem que os seus aviões de combate pudessem ser detectados pelos radares.
Uma das cidades a visitar seria Pequim, depois de Macau, Hong-Kong, Cantão e Xangai. Os possíveis controlos internos à bagagem não necessitavam de invisibilidade. Em Pequim iria ficar três noites. Tempo suficiente para numa das tardes livres ir fazer o seu serviço. Numa visita já efectuada a Pequim informaram-no qual era o edifício sede do PCC. Uma vasta zona, autêntica cidade onde trabalhavam milhares de civis e guardada por centenas de polícias e militares, onde seria impossível penetrar. Mas a sua invisibilidade furava tudo.
Eram umas sete horas da tarde. Os trabalhadores acabavam de sair. Hora ideal para atacar sem matar ninguém ou poucos.
A uns vinte e cinco metros do portão de entrada no recinto, antes da curva que avistaria qualquer passante, tornou-se invisível tal como o seu saco. Avançou para o portão. Os polícias que o guardavam estavam de lado, com o portão aberto, esperando ainda a saída de alguns trabalhadores. Luís entrou, pois, sem qualquer dificuldade. Atravessou o recinto e entrou no edifício pela sua porta aberta, com alguns guardas na portaria. Dirigiu-se a uma casa de banho ao meio de um corredor, abriu a porta, embrulhou uma bomba em papel que aí deixou e saíu para outro corredor. Num recanto deste, afastado de qualquer câmara de vigilância, deixou outra bomba num caixote de lixo. Cruzou outro corredor que o levou ao lado contrário do primeiro e, noutra casa de banho, colocou a terceira bomba. Saiu apressado, sem fazer barulho, pois calçava uns ténis. O portão continuava aberto em parte, pois os guardas já tinham encostado a outra metade. Foi mesmo na hora exacta. Caminhou uns vinte e cinco metros até à curva por onde viera e retirou a invisibilidade. Tomou um autocarro para o hotel. Foi já dentro do autocarro que ouviu o estrondo das bombas e viu as chamas a irromperem pelos edifícios. Felizmente, o autocarro partiu um minuto depois, já que se cruzou com dezenas de carros militares e alguns tanques que se dirigiam para o local da sede do PCC e não tardariam a isolar a zona.
Já no hotel pôde ver na televisão as imensas labaredas que envolviam o edifício e que o consumiram em poucos minutos, não obstante o esforço dos muitos bombeiros a pretenderem apagá-las.
As autoridades, aos milhares, vasculhavam os sacos dos transeuntes, mas nada conseguiram encontrar que incriminasse alguém.
O Presidente e o Politburo reuniram de imediato. Havia algumas faltas. Provavelmente tinham ficado nas chamas da sede do PCC. As notícias começavam a divulgar dados sobre mortos e feridos. Apesar de os trabalhadores já terem abandonado o local à hora do começo do incêndio, ainda foram muitos os que pereceram. Muitos destes eram chefes do PCC.
Sentia-se uma desordem completa por parte das autoridades, normalmente tão disciplinadas. Muitos receavam novas acções de destruição. Ninguém ousava, porém, vaticinar quem poderia ser o autor ou autores do sucedido.
– Curto circuito – aventavam uns.
– Com o fogo tão rápido e em diversos sítios? Impossível – diziam outros.
– As autoridades irão, certamente, descobrir a causa ou causas – opinavam outros.
Apesar de terem prendido centenas ou até milhares de possíveis suspeitos, nada conseguiram apurar.
Pelos estilhaços das bombas encontrados no local, por aquelas serem caseiras não fora identificada a sua origem. As muitas câmaras de vigílância espalhadas pelo edifício nada de estranho haviam captado. Um quebra-cabeças para os chineses deslindarem, que levaria, certamente, anos.
Não tardaram a surgir nas ruas enormes multidões a aplaudir a destruição da sede do partido que as oprimia. Desta vez, as autoridades descontroladas por não terem instruções sobre o que fazer, não reagiram com tiros sobre os manifestantes. As manifestações propagaram-se a outras cidades e depressa toda a China ficou sem controlo e num caos. Os manifestantes incendiavam as sedes do partido e gritavam: «Liberdade! Liberdade!» Tomaram as estações de televisão e começaram a emitir palavras de: «Liberdade! Morte ao governo tirano!»
Os Chefes do Partido e do Governo, sem televisão para comunicarem, viram a pele em perigo e esconderam-se. Mas foram apanhados e metidos em prisões, onde nem as autoridades lhes valeram, já que estas também se juntaram aos manifestantes e não obedeciam aos governantes.
Para o Luís tudo tinha terminado como planeado. A excursão também tinha terminado e regressou a Portugal, levando uma terrível lembrança consigo.
A sua causa tinha sido defendida brilhantemente. Pelo menos, durante muito tempo os chineses poderiam falar livremente, já que a sede dos controlos e da emanação de directivas tinha desaparecido. Pode ser que os chineses, libertos de controlo, possam reunir-se livremente e criar organizações que pugnem pelos seus direitos, nomeadamente o direito de expressão e a salvaguarda dos direitos fundamentais, como sejam os direitos humanos e o direito a eleições livres. Que descanse em paz o tirano PCC!
Luís vive na sua terra sem que alguém desconfie sequer ter sido ele o autor destes feitos. A quem lhe pergunta sobre a sua viagem à China, responde que gostou muito da viagem e sobre a destruição da sede do PCC diz que ouviu falar quando já estava em Macau. Nem os chineses desconfiam ter sido ele o autor.
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«Breves Contos Militares», por Franklim Costa Braga
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Maio de 2014)
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