Finais de Novembro, com a chuva a dar umas pequenas tréguas, permitindo aos olivicultores a apanha da azeitona de oliveiras com pouca produtividade. Em termos de pluviosidade também se está em grande deficit, com as barragens abaixo de 50% da sua capacidade. Entretanto no Fundão foi apresentado o livro «Deste Mundo e do Outro» com crónicas de José Saramago no «Jornal do Fundão» e o Clube de Leitura da Biblioteca Municipal do Fundão «viajou» até Vila Franca de Xira.

Recorda-se o 25 de Novembro, com as mais diversas versões dos acontecimentos do antes, do dia e dos dias seguintes. Lê-se uma longa reportagem na revista de um semanário e são delirantes as informações e contra-informações que nos chegam de um país que chegou a ser caricaturado como «um manicómio em auto-gestão».
No Fundão, o auditório da Biblioteca Eugénio de Andrade foi pequeno para todos aqueles que quiseram assistir à apresentação do livro «Deste Mundo e do Outro», que reúne as crónicas de José Saramago, publicadas na década de setenta no «Jornal do Fundão». A capa desta coletânea é da autoria do artista plástico João Vaz de Carvalho, que a explicou ao público presente.
Os prefácios são da autoria de Carlos Reis, da Fundação José Saramago, Nuno Francisco, do «Jornal do Fundão», Paulo Fernandes, Presidente do Município Fundanense, e dos editores Lia Nunes, Joana Morão e Rui Pelejão, que deram o seu testemunho sobre o livro.
A enriquecer este evento literário foram lidas algumas crónicas e apresentado um documentário, «Novas e Velhas Canções», de Joana Calado. Encerrou-se esta actividade literária com uma prova de dez vinhos, oferta da Adega Cooperativa do Fundão, representando dez livros escritos por Saramago, no ano em que se festeja o centenário do seu nascimento.
Clube de Leitura da Biblioteca Municipal do Fundão em Vila Franca de Xira
Na manhã do dia seguinte, ainda com os ecos literários das crónicas de Saramago, o Clube de Leitura da Biblioteca Municipal do Fundão, cumprindo o Plano de Actividades do corrente ano, viajou para Vila Franca de Xira, onde mais de três dezenas de leitores visitaram o Museu do Neo-Realismo.
Chegados à urbe ribatejana, iniciámos a nossa caminhada na centenária Praça de Touros – Palla Branco. Atravessámos ruas preenchidas com monumentos, placas, cartazes, sinais com tradições da prática da Arte Tauromáquica, as marcas da identidade de Vila Franca de Xira. Esta cultura vive-se com manifestações públicas, pelo entusiasmo popular, pela figura ímpar do Campino, pela Festa Brava, tudo feito de paixão, de amizade e de partilha.
Um casal leitor, venezuelano, com passagem pelo México, a residir no Fundão, estava fascinado com a paisagem ribeirinha, com realce para a cultura taurina daquelas gentes.
Admirámos o velho casario, que na sua construção centenária apresenta azulejaria, janelas varandas notáveis. Infelizmente, em nome da modernidade e do lucro, estão sujeitas à destruição e abandono
Junto ao Tejo, entrámos na Fábrica das Palavras – Biblioteca Municipal, um projecto arquitectónico de Miguel Arruda, nascida da antiga fábrica de descasque de arroz. Neste espaço cultural desenvolvem-se diversas actividades, concertos, debates, exposições… Neste momento decorre uma exposição sob o tema «Império do Medo», que pretende evocar os aspectos essenciais do tráfico negreiro. As estatísticas apontam para 12,5 milhões de africanos deportados para as Américas. Depois desses tempos e actualmente, quantos milhões a contabilizar?
À saída chamou-nos a atenção o monumento em homenagem ao escritor Álvaro Guerra, no qual fixei esta frase: «Ao futuro entregarei sempre o melhor do meu passado.»
Antes do almoço, o escritor Manuel da Silva Ramos deu umas pinceladas sobre as obras dos escritores neo-realistas portugueses.
Na ementa do almoço cumpriu-se a «Campanha de Gastronomia – em Novembro vão à mesa os sabores do campo» das Terras das Lezírias.
A tarde foi reservada para a visita ao Museu do Neo-Realismo, fundado na década de setenta do século passado, por vontade de um grupo de intelectuais ligados ao movimento, concretizado através da Associação Promotora do Museu em parceria com a Câmara Municipal.
Tem a função de incorporar, conservar e dar a conhecer o trabalho dos artistas e escritores neo-realistas com um olhar também para as obras das novas gerações.
Entrámos e deparámo-nos com a exposição volante de alto significado social, humano, político, centrada no trabalho, nos dramas quotidianos, nos rostos femininos, com o título «Representações do Povo», e ainda com diversos núcleos dedicados a Jorge Pinheiro, Domingos Sequeira, Rafael Bordalo Pinheiro, Tereza Arriaga, Augusto Gomes e Graça Morais.
A Arte Fotográfica também está presente com uma exposição sob o tema «A Família Humana», de Claude Jacoby, com a curadoria de Jorge Calado.
Ficaríamos horas e horas a olhar para esta exposição com centenas e centenas de fotografias, que é de certa forma um discurso complexo que cada um de nós tem a missão de interpretar e completar. As fotografias são como palavras, frases com sujeito e predicado.
Há sempre geografias culturais, literárias, sociais e humanas desconhecidas, que estão sempre à nossa espera.
:: ::
«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes
(Cronista no Capeia Arraiana desde Março de 2012)
:: ::
Leave a Reply