«O Alcaide, sendo um presente de Deus, foi um achado dos homens», disse um dia o estadista Cunha Leal. Foi nesta freguesia do concelho do Fundão, situada numa das encostas da Serra da Gardunha, que nos dias 18, 19 e 20 de Novembro decorreu mais uma edição anual do Festival dos Míscaros e do Cogumelo.

O programa era vasto, com um grande leque de ofertas relacionadas com a gastronomia micológica, mega-almoço a favor da reflorestação da Quinta de Vale de Encantos, animação de rua, workshops, palestras, passeios de descoberta de cogumelos e míscaros, artesanato, tasquinhas…
Segundo informação dos organizadores o evento micológico do Alcaide ultrapassou todas as expectativas em termos de visitantes. Falaramo-nos que no sábado mais de vinte mil pessoas passaram por aquele evento.
No domingo, dia do encerramento, apesar de alguns entraves de saúde em familiares, tive oportunidade de me deslocar ao Festival do Cogumelo 2022.
Aproximávamo-nos do Alcaide já perto da hora do almoço e o movimento rodoviário era volumoso. Ali chegados, passámos pela Casa do Cogumelo e na nossa caminhada começámos a cruzar-nos com uma imensa multidão. Ouvia-se o sotaque de diversas línguas estrangeiras, gentes de todas as idades, com incidência na juventude.
No Cooking Arena tivemos a oportunidade de ouvir uma Tertúlia com o tema «O futuro da floresta e a floresta do futuro», onde intervieram vários oradores. Esperemos que as boas intenções passem das palavras aos actos.
Percorremos as ruas engalanadas com uma variedade infindável de motivos alusivos aos míscaros e cogumelos, e a centenária Banda de Música de Aldeia Nova do Cabo (Fundão) animava e encantava a malta.
Numa Capela com o Santo no altar, qual o nosso espanto, decorria uma exposição de produtos regionais.
Um pouco mais abaixo, na Igreja Matriz, decorria a Missa Dominical, ouvindo-se cantares litúrgicos. Celebrava-se a Realeza do Senhor e também o Dia Mundial da Juventude, sob o tema «ir ao encontro dos outros». Também nós estávamos em sintonia com este apelo.
Na procura de um local para saborear cogumelos, fomos surpreendidos por um antigo aluno da Escola Apostólica de Cristo Rei de Gouveia, que se deslocara propositadamente para este evento. Como os amigos são para as ocasiões, indicou-nos o restaurante onde tinha acabado de almoçar com satisfação. Seguimos o conselho do nosso ex-companheiro e, na Tasca do Zé da Ermelinda, saciámos o nosso apetite com uma ementa de arroz de cogumelos, acompanhado por outros aperitivos.
A hora da partida aproximava-se e chamou-nos a atenção uns odores aromáticos saídos de uma panela de ferro, colocada em frente a uma barraquinha que vendia farturas, frutos secos e outros produtos comestíveis. Fomos informados pelo seu proprietário que se tratava da «Queimada Serrana», a melhor bebida para combater constipações e outras maleitas. Experimentámos e não temos dúvidas de que aquele «licor aguardentado» aquecido e com pedaços de frutas é, de facto, um bom remédio para muitos males da garganta. Mas não se pode, nem se deve abusar… Se se abusar e tivermos o azar de os homens da vigilância das estradas, os nossos anjos da guarda, fizerem o teste de alcoolémia, vamos ter problemas com a justiça e preparar euros, muitos euros para as coimas. Que o digam alguns dos que regressaram na madrugada de domingo.
Já a entrar para o carro e perto do Centro Social do Alcaide, deu-se o nosso encontro com o conhecido músico e antropólogo Tom Halmilton, que numa longa conversa falou sobre o seu trabalho de recolha do toque dos sinos das igrejas das povoações dos concelhos de Idanha-a-Nova, Vila Velha Ródão, Castelo Branco, Sabugal e Fundão. Realçou os toques ainda manuais no Telhado, Lavacolhos e Enxabarda. Quanto aos sinos da Torre da Igreja do Alcaide, diz-nos que são únicos na colocação e funcionamento.
Está muito interessado em fazer um estudo sobre o Património das Fontes das nossas aldeias, vilas e cidades da Beira Baixa e Beira Alta.
No próximo ano, esperamos visitar de novo o Alcaide – Festa do Cogumelo e dos Míscaros.
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«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes
(Cronista no Capeia Arraiana desde Março de 2012)
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