João Nunes Rodrigues nasceu em Águas Belas e faleceu em 2003 em França. Pelo meio uma incrível história de vida publicada no «Luso Jornal». Juntou-se aos pais e irmãos aos 14 anos e passou a chamar-se Jean aquando da nacionalidade francesa. Detido quando passava ilegalmente a fronteira foi deportado para o campo de concentração nazi de Buchenwald e depois para Ravensbrück, perto de Berlim. Foi libertado em 1945…

João (ou Jean) Nunes Rodrigues era filho de António Nunes e Maria Rodrigues. António Nunes nasceu em Águas Belas (Sabugal) aldeia cujo auge populacional teve lugar em 1950 com 1.044 habitantes, no último recenseamento foram contados unicamente… 175 pessoas.
António Nunes nasceu em 1893. Das pesquisas efetuadas, encontramos um António Nunes nascido em Águas Belas, que participou na I Guerra mundial, contudo a certeza de ser o pai de João não está confirmada.
António Nunes e Maria Rodrigues tiveram cinco filhos: António, João, José, Abel e Carmelinda.
Toda a família emigrou para França, desconhecendo-se a data exata, mas foi contudo depois de 1925, dado que Carmelinda foi a última a nascer na família, nascimento que teve lugar em Águas Belas.
Perto de Águas Belas existiam minas de volfrâmio. Será este fato que terá contribuído para que toda a família tivesse emigrado para Divion, região de minas no Pas de Calais? Uma coisa é certa, António e a família terão vindo para França na sequência da necessidade de mão de obra para a reconstrução da França no seguimento da I Guerra Mundial.
João Nunes terá sido o último dos filhos a vir juntar-se à família em França. Numa primeira fase terá ficado em Águas Belas até à idade de 14 anos com a missão de se ocupar de um dos avôs, cego.
Toda a família adquiriu a nacionalidade francesa por Decreto de 13 de Dezembro de 1936. O nome de João foi afrancesado para Jean. Como o pai, e talvez outros irmãos, foi trabalhar como mineiro nas minas de Clarence.
Em 1939, Jean Nunes foi mobilizado na 55.ª companhia Chasseurs Africana.
Desmobilizado, regressa ao Pas de Calais, contudo em maio de 1942 entra na Resistência no grupo FTPF (Francs-Tireurs et Partisans) de Divion, cuja sede estava situada no café de Ludovik Arsène. Jean Nunes participou da distribuição de panfletos e jornais contra o ocupante alemão, também participou na sabotagem das linhas telefónicas na região de Tincques.
Em 1943 é-lhe exigido que entre nos STO, mas Jean Nunes vai-se subtrair a este serviço. No início de Maio de 1943, deixa a aldeia de Divion acompanhado por Marcel Sevin (30.454) e Robert Thirionet (20.496). O objectivo destes três companheiros era atravessarem a fronteira espanhola para ingressarem na Legião Francesa no Norte da África.
Mas a 5 de Maio, os três homens são presos pela Feldgendarmerie em Oloron Sainte Marie, nos Baixos-Pirinéus. Num primeiro tempo os três camaradas vão ser encarcerados no Fort du Hâ, em Bordeaux. Depois, foram enviados a 20 de Junho de 1943 para o Campo de agrupamento de Compiègne, departamento do Oise. Em Compiègne, Jean Nunes foi registado com o número 15.923. Aqui foi separado dos dois camaradas, que mais tarde voltaria a encontrar em Dora.
Jean Nunes foi deportado a 25 de Junho de 1943, no primeiro comboio que partiu de França com destino ao Campo de Buchenwald. A lista de partida original confirma o motivo de sua prisão: «Grenzübertritt.» ou seja «travessia ilegal de fronteira»: O comboio transportou cerca de 1.000 prisioneiros, que chegaram a 27 de Junho à estação de Weimar. Jean Nunes passa aqui a ter o número 14.093.
O prisioneiro franco-português vai ser um dos primeiros franceses a entrar nos túneis de Dora. A 2 de Setembro de 1943, juntamente com 1.222 outros prisioneiros foi selecionado para trabalhar em Buchenwald. Apesar das condições desumanas infligidas aos detidos durante o período do «Inferno de Dora», Jean Nunes sobreviveu até ao início da produção de foguetes e até os detidos serem retirados dos túneis.
Jean Nunes permaneceu em Dora até a evacuação do campo. Pelo campo de concentração de Dora terão passado 60 mil prisioneiros, metade dos quais (29.350) teriam ali falecido.
A vida nos campos de concentração, por vezes, estava presa por um fio. Christian Gernigon, fez referência durante a entrevista ao «Luso Jornal» a alguns casos que Jean Nunes lhe tinha contado: os prisioneiros de Dora, mesmo no cativeiro, continuavam a sabotar, nomeadamente as peças que fabricavam para os V1 e V2. Os alemães quando se apercebiam – ou mesmo sem se aperceberem – matavam prisioneiros por enforcamento. Os corpos ficavam expostos durante 24 horas. Os guardas obrigavam os prisioneiros a desfilarem na frente dos corpos. Jean, ao passar em frente de um dos corpos, tirou o seu boné, imediatamente recebeu uma coronhada na face.
Jean Nunes contou a Christian Gernigon que uma das outras razões de ter conseguido resistir no campo de concentração deve-se também ao facto da sua experiência de infância, habituado que foi em Águas Belas, à pobreza e às privações alimentares.
A 5 de Abril de 1945, Jean Nunes embarcou num comboio no qual estavam reunidos os «especialistas» da fábrica de Mittelwerk. Após nove dias de deambulação e de uma «marcha da morte» de 40 quilómetros, Jean Nunes chegou a 14 de Abril ao Campo de Ravensbrück, perto de Berlim. Registado na lista de chegada, recebeu um novo número: 14.027. A 26 de Abril, retomou a caminhada para uma nova evacuação.
Por mais estranho que pareça, Jean Nunes correu o principal risco de morrer aquando da libertação. Libertado pelos soviéticos, estes ter-lhe-iam dado alimentos ricos para que ganhasse forças. Jean pesava na altura 35 quilos, alimentar-se corretamente provocou-lhe dores horríveis, somente aliviadas pela intervenção de um médico russo.
Em 1945, Jean Nunes retomou o trabalho como mineiro de superfície em Divion. Aí passou a conduzir uma ambulância porque a saúde não lhe permitindo descer ao fundo da mina.
A 15 de Fevereiro de 1947 casou com Janine Pawlak na Mairie de Houdain (Pas-de-Calais). O casal teve dois filhos: Nadine, esposa de Christian Gernigon, e Dominque, falecido em 2016.
Jean Nunes morreu em 2003. Antes tinha sido condecorado, nos anos 70, com o grau de «Chevalier de la Légion d’Honneur».
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João Aristides Duarte (via «Luso Jornal»)
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Nunca ouvi falar desta família, nem deste senhor Jean Nunes. A história que o jornal Luso conta, com tal quantidade de pormenores, impressiona. O que posso dizer com certeza, é que há o apelido Nunes no Espinhal e o apelido Rodrigues em Águas Belas, que vêm de longe e ainda hoje existem. Referir também que agora há o apelido Nunes em Águas Belas, mas é originário da Sobreira.
Um verdadeiro herói que honra o nosso concelho