Reencontrava o outono e o término das férias grandes no suavizar do verão e, nessa junção, colhia a ideia de partida.

As primeiras chuvas expatriavam os últimos escaldos do estio oferecendo um frio morno como pronuncia do inverno. Ajustava-se, a tal frescor, a cor castanha das árvores e fortaleciam-se, nos orvalhos, os verdes circundantes fazendo lembrar fofas alcatifas que despertavam o desígnio da saída. Então, numa mescla de alegria e tristeza, impunha-se a abalada.
Nascia, assim, uma sensação estranha, uma quase incongruência, como se fosse possível viver o futuro antes de terminar o passado. Mas, a tristeza da despedida ia decaindo enquanto se enleava na alegria e na persuasão do recomeço. Afinal terminava o verão mas tudo rescendia a novo e a fresco.
Cessava, a liberdade genuína, a brincadeira pueril, os passeios e correrias noturnas, as conversas ao luar, os banhos na ribeira, os assaltos às arvores e o surripianço dos frutos mas o regresso ao Colégio do Outeiro contrapunha os indeclináveis abraços dos colegas, os aprimorados cumprimentos dos professores, os odores peculiares dos livros novos e o rever dos sítios mais apessoados. Era como se o reinicio, carregasse, no âmago, uma nova primeira vez.
A este estar inovado regressariam os jogos a que chamávamos desporto, acrescidos de intrínsecas saídas. A cidade da Guarda voltaria a ser objecto de múltiplas visitas. Algumas autorizadas mas, a grande maioria, à socapa.
Não tardariam, contudo, as consumições. Chegariam as rotinas, os rituais escolares e, com eles, algumas desilusões e alguns insucessos. Os professores perderiam o sorriso inicial. O estudo começaria a azucrinar e as notas nem sempre corresponderiam às expectativas.
A recordação das férias voltaria a saber a saudade. Mas o prazer que havia sobrevoado as vivências outonais, já ninguém o conseguiria roubar.
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«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
(Cronista no Capeia Arraiana desde Maio de 2011)
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