Mais tarde, foi a vez dos conquistadores que, oriundos desta mesma região, regressaram do Perú e do México sem saber muito bem o que haviam de fazer a tanto ouro e prata que traziam daquelas paragens. Embriagados com tanta riqueza puseram-se a construir igrejas para a maior glória de Deus e belos palácios para a posteridade que ainda hoje podemos admirar em Hoyos, Coria, Cáceres, Placência e mais a norte, na austera, mas encantadora Ciudad Rodrigo.


A natureza também dotou esta região de uma beleza ímpar. Não longe da Ciudad Rodrigo, encontra-se a Sierra de Francia, composta por um rosário de aldeia típicas. A Penha de Francia é um rochedo íngreme, de 1.800 metros de altitude, com um soberbo miradouro e um hospitalar convento de dominicanos. É de la que se tem a melhor vista da Serra das Hurdes, que o cineasta Buñuel imortalizou nos anos 30 esta região no seu filme «Herdes Tierra sin Pan». Aqui obrigava os camponeses a irem buscar terra aos vales para a depositarem em socalcos onde eram feitos os cultivos, tão exígua e rara era a terra arável, como podre e inóspito era o país que habitavam.
Um pouco ao norte das Hurdes, é digno de admiração o Parque Natural de las Batuecas de que Miguel de Unamuno já dizia que as mesmas eram um jardim botânico abandonado. Também a sul de Plasência, o Parque Natural de Monfrague abriga, nos seus 20 mil hectares, terras selvagens onde se reproduzem mais de duzentas espécies raras de vertebrados, fais como o falcão peregrino, a cegonha preta, o lince, a abetarda negra, a águia imperial ibérica, etc.
E nem é bom falar de gastronomia. A tradição das matanças, com aquele gesto sanguinário de espetar a faca até atingir o coração do porco, estabeleceu-se provavelmente nesta região, onde os mouros, obrigados a converter-se ao cristianismo ou a ir-se embora, sentiam-se obrigados a mostrar publicamente à vizinhança, através do alarido do porco a grunhir por todos os poros, que já comiam carne de marrano e que já os não podiam perseguir.
Os chouriços e presuntos da Estremadura são sobejamente conhecidos tanto em Portugal como em Espanha. Tal como os portugueses, os espanhóis, ao emigrarem, levaram consigo os seus hábitos culinários que transmitiram pelos países onde se fixaram.
Passar férias na raia beirã tem um encanto tão grande ou maior do que estar na praia de papo para o ar, a criar todas as condições para apanhar um cancro de pele. Aqui poderão ser passadas férias ativas, culturais, em contacto com a natureza e saboreando a boa gastronomia da região.
E não se diga: «Aí está mais um português que vendeu a sua alma à Espanha.» Não. O bairrismo e o nacionalismo foram, em seu tempo, bem necessários para o crescimento histórico do povo português, face a uma Espanha ávida de conquistas territoriais. Felizmente, esses tempos já passaram e não há sombra de dúvida que os raianos beirões, os primeiros a ultrapassar esses preconceitos, foram os pioneiros da necessária construção da Europa.

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«Pedaços de Fronteira», opinião de Joaquim Tenreira Martins
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Novembro de 2012)
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