Havia tantas histórias para contar. Não há é pachorra de muita gente para as ler… Por isso, lá sai uma de vez em quando – mas só isso. Foram tempos áureos para muitas famílias – e isso é uma saga, de facto: foram tempos épicos. Eu divirto-me com estas memórias. E você que me lê?

Volfrâmio – «o ouro negro»
Nas pesquisas que obrigatoriamente tive de fazer esta semana, localizei um novo estudo em que o distrito da Guarda é referenciado como um dos grandes centros de extracção do volfrâmio no País nos primeiros anos da II Guerra Mundial.
Segundo o autor do estudo, Tiago Tadeu, essa extracção só estava «ao alcance de uma pequena minoria da população, daqueles que não tinham sofrido tão pungentemente com as vicissitudes da guerra e que inclusive puderam lucrar com ela. Aí encontraríamos as pessoas ligadas à extracção de minérios, sobretudo do volfrâmio, actividade que viu os seus melhores anos durante a segunda guerra mundial devido à ávida procura, quer de alemães quer dos aliados.
A febre do ouro negro foi um sonho do eldorado , especialmente para os camponeses já que este lhes poderia facultar os rendimentos necessários para saírem do estado de miséria e pobreza extrema em que se encontravam. Estes homens e mulheres que viviam essencialmente daquilo que o seu suor arrancava à terra tinham agora a sua hipótese de beneficiar duma guerra.
O distrito da Guarda merece destaque na exploração do volfrâmio já que ocupou oficialmente o primeiro lugar com 226 minas e 3 coutos mineiros enquanto que no seu concelho existiram 32 explorações.
Durante os anos de maior exploração (1941-1943) esta actividade ocupou legalmente cerca de dez mil operários no distrito, se bem que os números reais fossem superiores. Foram vários os guardenses, nascidos ou residentes que estiveram ligados a esta actividade fossem eles trabalhadores ou então donos de explorações mineiras
O ano de 1939 marca o arranque da segunda guerra mundial e a consequente valorização e dinamização da exploração de volfrâmio, minério muito cobiçado pelos vários países beligerantes».
In «Um guardense na exploração de volfrâmio durante a Segunda Guerra Mundial», por Tiago Tadeu.

Há estórias do arco da velha do tempo do «minério»
Uma delas é esta, que já aqui contei há muitos anos. Mas há tantas… E todas batem numa só tecla: para algumas famílias foram tempos de muito dinheiro…
Quem andava ao minério nesse tempo, e se tivesse sorte, ganhava mesmo muito dinheiro. Na história agora recordada, cada um dos quatro parceiros que trabalhavam em Gralhais e Anascer, sempre no mesmo filão, recebeu um conto e oitocentos (ou seja, mil e oitocentos escudos). Isso era uma fortuna, de facto. Quem não conheceu o escudo nem tem a noção do valor do dinheiro em tempos recuados não imagina.
Mas vou explicar. Hoje, traduzido para euros, são tão somente nove eurozitos. Não dá para nada.
Mas vamos recuar à época. Em 1960 (20 anos depois da história a que me refiro), nunca mais me esqueço do ordenado do cantoneiro da aldeia, o ti Zé Pires, cuja filha, minha tia, encontrei em grande forma nesta visita. Pois bem, o pai desta minha tia, que era cantoneiro, recebia de ordenado mensal 900 escudos. Mas os factos passam-se pois muito antes.
Li que em 1941, no Minho, «o rendimento médio anual dos rurais era de 2.341$94 (195$00 mensais)». Na minha terra não devia ser melhor. 195 escudos por mês. Ora a minha mãe recebeu daquela vez quase 10 vezes mais. Era o ordenado de quase um ano de trabalho no campo!
Era de facto muito, mas muito dinheiro.
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2011.)
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