Este título tem por base um nome de um livro publicado em Luanda, com uma poetisa e comigo, sendo que foi a primeira vez na vida que procurei fazer poesia e me marcou por toda a organização e da forma que fui recebido como estrangeiro.
Tentei fazer mais projectos com outros autores aqui em Angola, mas infelizmente saíram frustrados. Na verdade, há muita vontade em concretizar, mas tenho de reconhecer pelo facto de ser português não é fácil. Angola e o Brasil estão muito mais próximos culturalmente do que connosco.
Reconheço que a poetisa Isabel Sango também é uma pessoa diferente. Tem uma abertura e educação que conseguiu ultrapassar o preconceito de ter feito um livro com um português. Mas nunca conheci nenhum, ou nenhuma escritora, com a sua personalidade e tolerância.
Lancei alguns livros digitais cá em Luanda, e reconheço que tanto a Arca Digital como a AJEA foram muito profissionais e a qualidade do trabalho é meritório. Mas, o facto é que não consegui fazer umas «vivências mais cruzadas» ou até mesmo umas outras «vivências paralelas». O título, dado pelo Editor, A Massona, na verdade é marcante. Dá a entender que as culturas podem caminhar juntas, mas de forma paralela.
É o amargo de boca que levo comigo. Mesmo tendo um prémio de reconhecimento, e ser bem-recebido como escritor, ou poeta, dificilmente consigo fazer duetos ou até um livro em conjunto, como Manuel da Silva Ramos com o Miguel Real, escreveram o «O Deputado da Nação».
Foi um passo que apenas consegui dar com a escritora Isabel Sango, que reconheceu qua esta vivência foi importante para o se desenvolver como escritora, tendo em conta que apenas tem 25 anos.
Mesmo regressando a Portugal, estarei sempre aberto a projectos que aproximem as culturas. O molde do «Vivências Paralelas» é muito idêntico ao livro do Manuel da Silva Ramos e do Miguel Real. Cada um fez um capítulo, como eu e a Isabel, em cada página estava um poema do respectivo autor ou autora.
A cultura deveria estar longe da política. Mas já constatei que é uma batalha perdida. E mesmo sendo reconhecido como ter ensinado tanto jovem a ser escritor, o facto é que não consegui um segundo projecto em prosa.
Espero que no futuro, a política externa de Portugal, entenda que não basta o Instituto Camões. As Escolas que recebem tantos alunos de Angola, em cursos de Letras, bem poderiam patrocinar projectos comuns que aproximassem as culturas. Provavelmente até existem, mas pouco são divulgados.
E é importante distinguir a fonética diferente que leva a uma escrita não exactamente como a de um português. Basta ver o Brasil, em que se quiser publicar um livro tem de ser reescrito do português materno.
Tenho esperança que alguém leia esta crónica e ainda se disponha a propor-me um conto que cruze, ou não, a visão de um angolano e a de um português.
E o curioso é que no caso de Angola, a língua é essencial para a sua coesão territorial de forma a que os diversos povos angolanos se entendam e os vizinhos tenham dificuldade em influenciar, por exemplo, com a sua cultura.
Mas a questão na verdade é pertinente: As nossas vivências serão mesmo paralelas?
Luanda, 24 de Julho de 2022
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«No trilho das minhas memórias», por António José Alçada
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Junho de 2017)
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