O mês de Agosto carrega sempre o secreto apelo do regresso às origens para os que estão longe. No concelho do Sabugal faz povoar as aldeias, abrir as persianas, lotar os bancos das igrejas e encher os lugares públicos com um estranho mas familiar linguajar mesclado aqui e ali de expressões e palavras de origem francesa. Mas, para muitos dos sabugalenses é o tempo da mãe de todas as festas – a capeia arraiana – espectáculo único que andou escondido esotericamente nas praças das nossas aldeias e que, agora, de há uns anos para cá parece ter perdido a vergonha e tudo faz para se dar a conhecer ao mundo.
Tudo começa em Quadrazais no dia 31 de Julho e termina em Aldeia Velha no dia 25 de Agosto. E que se oiça bem alto o grito: «Agarráááio»
«A Capeia Arraiana não é uma tauromaquia qualquer. Como uma espécie de religião em que se acredita, não basta assistir, é preciso participar, ir ao encerro, comer a bucha, beber uns goles da borratcha e voltar com os touros, subir para as calampeiras, ser mordomo, ser crítico tauromáquico, discutir a qualidade dos bitchos da lide ou, simplesmente, ser fotógrafo da corrida que não deixa ninguém indiferente, corre na massa do sangue, provoca um nervoso miudinho, levanta os pêlos do peito, atarracha a garganta e perturba o sono. É um desassossego colectivo que comove.»
António Cabanas in «Forcão – Capeia Arraiana»
Não tem comparação
Para os mais distraídos ou menos informados nunca é demais esclarecer que na capeia arraiana os touros não são picados nem molestados. Limitam-se a fazer aquilo que mais gostam quando são bravos. São encaminhados desde os lameiros onde pastam e chegam à praça pela sua «própria pata» escoltados por valorosos cavaleiros. Às cinco da tarde dos quentes e secos dias de Agosto começa a festa. Os touros investem contra o forcão onde cerca de 30 rapazes se tentam defender de acordo com técnicas ancestrais de jogo de pés e de equipa e onde se destacam «os da galha» e os «rabejadores».
Tentar encontrar semelhanças com qualquer outra tourada é um mero exercício de ignorância.
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José Carlos Lages
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