Fossem ribeiros ou simples regos de água de fontes que nasciam nos terrenos e atravessavam outros, ao passar pelos caminhos públicos umas vezes faziam-no a céu aberto, outras por baixo de bueiros ou alcadutos (aquedutos), estes mais usados para dar acesso a terrenos por cima de valetas, onde corria água no Inverno.

Era o que acontecia ao Covão, onde meu pai tinha um lameiro regado por água duma nascente mesmo na partilha com outro lameiro acima. A água, que tinha de correr para o Côa, distante uns cento e cinquenta metros mais abaixo, era levada por regos e por uma barroca feita por meu pai e onde ainda colaborei a acarretar pedras numa padiola, para regar uns hortitos e depois o lameiro. No Inverno, a abundância de água ultrapassava o lameiro e corria a céu aberto a meio a atravessar o caminho até entrar noutro lameiro antes de encontrar o Côa, mas na parte leste onde a água era em menor quantidade atravessava o caminho por baixo de um bueiro. Neste bueiro o Tó Frade apanhou alguns coelhos, segundo me contou. O bueiro poderia ser constituído por um tubo tapado por terra e pedras ou apenas por um rego entaipado por algumas lascas.
A céu aberto corria o regato que vinha do Soito Concelho ao chegar ao pontão da Bocha, nome que lhe advém dum estreito pontão na parte sul só para peões, hoje já com um pontão a toda a largura, para peões e carros. Entre o Soito Concelho de Cima e o de Baixo sempre conheci um pontão, hoje melhorado para a passagem da estrada que vai para o Soito.
Em muitos regatos houve pontões ou alcadutos para os passar no Inverno ou para cruzarem as estradas entretanto construídas, como a que vai para Vale de Espinho, onde sempre conheci o Pontão do Rejais, mas onde foram construídos pontões à Escaleira e ao Meal Cabo, onde passam os ribeiros das Vinhas-Vila Ferreira e o que vem do Soito Concelho. Embora alcadutes ou alcadutos sejam o que no Português corrente se chamam aquedutos, os existentes em Quadrazais nada têm a ver com os aquedutos transportadores de água, tendo ficado célebres os construídos pelos romanos. Em Quadrazais chamavam alcadutos a pequenos pontões sob os quais passava a água.
À Lavandeira foi construído um pontão no Caminho Velho do Sabugal. Isto para não falar da travessia do Côa à Lameira onde existiam umas poldres (poldras), nem sempre fáceis de atravessar, hoje substituídas por uma ponte. Ponte só havia uma e bem antiga que cruzava o Côa, usada por quem ia para o Alcambar ou Malcata, já citada pelo abade Paulo Correia da Costa em 1758: «…com pedras, ou cortamares de cantaria, e o pavimento de madeira.» O pavimento de madeira da ponte de Quadrazais foi recentemente substituído por pedra e cimento aquando da construção da estrada para Malcata.
Na própria povoação, havia que deixar passar as águas que vinham do Santo António e do Cabecinho ou mesmo da Burraca e que confluíam para a Tapada da Sra. Albertina, onde se juntavam à de uma fonte que aí nascia. Corriam a céu aberto atravessando caminhos e terrenos. Feita a estrada, atingiam a valeta, correndo por ela até chegarem por um alcadute à tapada da Sra. Albertina, onde agora foi canalizada juntamente com a da nascente dessa tapada, saíndo já perto do Corgo. Nas cidades esta canalização toma o nome de sarjeta que liga a grandes tubos que levam as águas pluviais para rios ou mares e que têm de ser limpas periodicamente das folhas de árvores que nelas se acumulam, sob o risco de causarem inundações de ruas.
Em Quadrazais as águas das chuvas continuam a correr pelas valetas até chegarem ao caminho velho para o Sabugal, à Cale Fundeira, Quelhe do Pateiro ou Portela, sendo o destino final o Côa. Não há sarjetas para as águas pluviais com ligação à Ribeira ou mesmo à canalização dos esgotos.

Mesmo no meio da povoação corria a céu aberto um regato que vinha duma mina na vinha da ti Marifêmia na Veiga, a que se juntavam as águas dum poço no lameiro do Sr. Zé Jaquim e doutro poço do Panto e confluíam no Vale, cruzando este a céu aberto até à Fonte, onde recebia as águas do pio e se dirigiam para a Cale Fundeira. Aí cruzava a rua da Cale Fundeira que une o Fundo ao São Sebastião, também a céu aberto. Só nos anos cinquenta foi o regato canalizado e a cruzar a rua após a Cale Fundeira foi construído um alcadute.
Mas não havia pontão ou alcadute sobre os ribeiros da Vila Ferreira, Vinhas, o ribeiro da Cova ao passar ao fundo das Mazavelhas, onde recebia águas no Inverno, que descia o monte das Mazavelhas, e também sobre este mesmo ribeiro engrossado pelas águas do Gorgolão da Costeira e outras ao entrar no Lameirão da Ribeira. Eram fáceis de atravessar no Verão, mas já o mesmo não acontecia no Inverno.
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«Lembrando o que é nosso», por Franklim Costa Braga
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Maio de 2014.)
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