A Secção do Fundão/Zona Agrária, da Associação Distrital dos Agricultores de Castelo Branco, promoveu no dia 23 de Junho uma reunião de agricultores associados sob o tema «Valorizar a agricultura familiar», naquele departamento dedicado ao mundo rural.

O responsável pela secção do Fundão/Zona Agrária, da ADACB-Associação Distrital dos Agricultores de Castelo Branco deu voz aos agricultores presentes, a fim de apresentarem as suas preocupações laborais, que eram anotadas numa exposição informática numerada.
O rosário é longo das dificuldades apontadas, o acesso ao regadio, que deve ser alargado a mais espaço agrícola, a falta de água, a falta de rentabilidade e a perda de rendimentos dos agricultores, o crescente aumento do combustível, concretamente o gasóleo, e as repercussões nos factores de produção, a invasão dos javalis nas produções agrícolas causando enormes prejuízos, a falta de apoios aos produtores de leite, as enormes burocracias, licenças para tudo e mais alguma coisa com ameaças de coimas, uma grande falta de informação, falta de apoio e acompanhamento técnico, dificuldades na comercialização dos produtos, acesso aos mercados e nas vendas, competitividade desleal e desigualdades na atribuição de subsídios no mercado europeu, abandono, renovação do sector, herança, falta de mão de obra, preços aos produtores não compensadores, falta de apoio da administração e serviços públicos, adaptação dos sistemas de produção face às condições climatéricas, dificuldades/custo de investimento e acesso à mecanização.
Nas soluções/resoluções, os agricultores da Secção do Fundão afirmaram que passam por apoios públicos, desburocratização dos serviços, maior pressão das associações de agricultores e congéneres, alargamento do regadio, medidas específicas para os pequenos agricultores ajustadas às realidades, quotas de mercado na aquisição de produtos da agricultura familiar com preços justos, regulamentação de preços mínimos, apoios a vedações compensatórias, medidas públicas de controle da densidade das espécies cinegéticas, apoios à produção e seguros públicos, sistema de simplificação nos trabalhos temporários, emparcelamentos, corporativismo e organização para uma maior capacidade negocial.
Uma leitura de um agricultor de um texto do semanário Expresso, da autoria do jornalista João Duque, salienta bem o que se passa na vizinha Espanha em relação a Portugal. Salienta que os agricultores portugueses dedicados à pecuária recebem 7,00 euros por cada vaca. Os espanhóis recebem 60,00 euros.
Em Portugal, o apoio à produção leiteira paga a cada agricultor 40,00 euros, em Espanha os agricultores recebem 210,00 euros. Os criadores portugueses de cabras e ovelhas recebem por cabeça 1,30 euros. Os espanhóis, criadores de gado caprino, recebem 7,00 euros, por cada animal.
Os agricultores portugueses pagam o «gasóleo verde» aplicado à agricultura, mas não beneficiaram do ISP quando ele foi aplicado aos condutores em geral, com o argumento de que, na semana anterior à sua entrada em vigor, os agricultores já tinham sido beneficiados. Em Espanha o gasóleo para os agricultores é 0,50 euros mais barato por litro, porque os preços em geral são 0,30 euros mais baixos, e porque todos, mas todos, recebem um desconto na caixa de 0,20 euros por litro.
Como um tractor consome sessenta litros por hora, numa campanha de três meses, com uma jornada de dez horas de trabalho, então um agricultor português paga mais de 20 mil euros do que o seu equivalente espanhol para produzir o mesmo.
Também os agricultores portugueses tinham a promessa do adiantamento de 500 milhões de euros em Maio, relativo ao Pedido Único e já estamos em fins de Junho e nada sucedeu.
Em Setembro de 2021 foi aprovada no Parlamento a electricidade verde e até hoje é de todas as cores a menos verde, já não falando na pesada verba que qualquer agricultor precisa para um posto de alta tensão.
A responsável do Ministério da Agricultura defende-se com a legislação europeia, mas os espanhóis são igualmente europeus e também respondem à mesma entidade.
Os agricultores da Agricultura Familiar sofrem, trabalham arduamente, muitos sem horários, sem férias, até quando?
:: ::
«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Março de 2012.)
:: ::
Boa tarde, caro António Alves Fernandes. Sigo-o sempre com interesse, mas desta vez tenho de me exprimir assim:
– Totalmente de acordo com o que sublinha: os agricultores que restam sentem-se ao abandono (e já são poucos… e certas aldeias há apenas meia dúzia e nada de grandes explorações…).
Também registo a diferença de apoios em relação a outros países da UE (nem só a Espanha, mas ainda bem que trouxe aqui esse assunto, para nossa revolta).
Obrigado.
Não desista.
Vamos em frente.
Abraço a todos.
JCM