Escrevi em 2020 um livro com a escritora Isabel Sango, intitulado «Vivências Paralelas». Aproveitou-se a pandemia e, um em Portugal e outra em Angola, lançámos a ideia de tentar fazer, no meu caso, o primeiro livro de poemas. Chegou agora a oportunidade de entrevistar esta jovem que ainda não se sente capaz de escrever contos…

Obviamente dada a minha experiência dei um contributo para que esta jovem, de apenas 25 anos, conseguisse realizar um sonho. Para mim, foi gratificante e também lhe agradeço, porque a apresentação foi memorável. Não só ter sido na sala nobre dos Escritores Angolanos, como havia protocolo, mestre de cerimónias e fotógrafo. Senti-me um convidado de honra, e passado este tempo, ainda hoje me sinto muito reconhecido.
Nas vésperas de partida de Angola, lembrei-me que nunca tinha entrevistado Isabel Sango, quando o Jornal de Angola já o fez. Senti-me que não ficava com a consciência tranquila se não lhe desse esta oportunidade, visto que o Capeia Arraiana tem muitos leitores e leitoras em Angola.
A Isabel ajudou-me imenso a ter o carinho e respeito de muita juventude ligada à cultura, tendo recebido um prémio de melhor escritor em livros digitais, que guardo com todo o respeito e consideração.
– Que sentiste quando escreveste o livro?
– Estou grata pela oportunidade que foi dada. Ainda mais por si, Um Escritor amigo, família e tantos outros adjectivos que possuí para mim.
Respondendo à sua questão, a princípio foi um misto de sentimentos, por um lado o desejo de ver o meu sonho realizado e ser lançada no mercado Nacional como Escritora bombardeava-me o peito de alegria, mas por outro lado, tive medo da recepção do público, uma vez que era a minha primeira vez a participar de um projecto daquela natureza e ainda mais sendo ele internacional.
– Sem me conheceres pessoalmente o que sentiste de um kota estrangeiro participar no projecto?
– Na verdade não soou estranho para mim porque nós já trocávamos mensagens nas redes, mas confesso que para mim foi algo surreal, tive a sensação de ter sido lida e aprovada para dar o passo seguinte. Fiquei feliz ao ver que de entre tantos Escritores que existiam na época e que o Escritor António J. Alçada conhecia, escolheu-me a mim. E aquilo sem sombras de dúvidas fez-me ser selectiva e desde aquela data comecei a prestar mais atenção sobre o quê publicar nas redes e sobre as temáticas a serem abordadas.
– Ainda escrevemos uns duetos. Que diferença sentiste relativamente ao primeiro projecto?
– Houve uma diferença enorme nos nossos escritos, senti que evoluímos bastante quer na linhagem de pensamentos, quer no modo de compor os versos e na formação das estrofes.
– O lançamento foi inesquecível. A sala, a audiência, o ambiente pareceu uma perfeição. O que te marcou mais?
– No lançamento de Vivência Paralelas, marcou-me em muita coisa, desde os presentes na sala como a participação do Autor.
Falando do autor, foi um acto de muita humildade e generosidade ter se vestido com o pano que representa a bandeira do meu país, Angola, Samakaka, e ter doado o valor total das vendas do livro para que eu pagasse as propinas da Universidade. Isto marcou-me.
E nos presentes em sala, deixou-me uma marca inesquecível a presença dos meus irmãos, sobrinhos, cunhado e amigos de longa data e sobretudo, da minha mãe. As lágrimas dela fizeram-me lagrimejar também de emoção e orgulho.
O Peterson Quaresma, meu amigo, mesmo estando ausente ele marcou-me, por ter sido representado na sala pelo seu pai, irmã e outros familiares. Aquilo marcou-me imenso, uma vez que nós trocávamos mensagens apenas pelas redes e nunca se quer nos tínhamos visto.
– Sei que hoje a vida não sorri aos jovens angolanos. Como encarar o futuro?
– Actualmente muitos são os que sonham com um futuro repleto de sucessos, reconhecimento e ascensão económica e estabelecem um período, e quando não o alcançam, tem gerado em muitos uma crise emocional.
Fomos instruídos desde cedo que como Crianças somos o futuro do amanhã, como jovens a Esperança do futuro. Infelizmente poucos são os que se dão conta de que o futuro é feito no hoje, e o que se alcança no amanhã é fruto do que se fez no ontem e no hoje. É deste modo que eu encaro o meu futuro, luto no hoje, diariamente corro atrás do meu sonho, das oportunidades diárias que me batem à minha porta. Mesmo ainda temendo e tendo algum receio, me arrisco e me dedico do meu jeito, no meu ritmo.
– Se fosses Ministra da Cultura que reformas farias para que a população tenha um acesso mais fácil ao livro?
– Nas vestes de Ministra da Cultura, o primeiro passo que eu daria na Cultura Angolana seria a Inclusão das Artes no seu todo. E no que concerne aos livros, investir na produção dos livros. Muitos são os autores que pretendem lançar uma obra mas, poucos são os que têm meios para os materializar.
E não só, uma das minhas apostas seria trabalhar com as bibliotecas comunitárias, organizações que se dedicam a produção de livros (Editoras), Clubes de Leituras e criar jornadas de leituras ao ar livre, nos ciclos fechados, com toda faixa etária a nível nacional.
Implementar nas escolas actividades extra-curriculares a leitura e dar a conhecer mais obras dos autores Angolanos.
E nas áreas recônditas, criar programas de alfabetização, sensibilizar os munícipes sobre a importância da leitura bem como criar actividades como: feiras, concursos e outros voltados ao livro.
– Na escola conheceste alguns escritores que te marcassem?
– Enquanto estudante, sempre marcou-me o «Eu Poético» do Dr. António Agostinho Neto, João Tala, José Luís Mendonça, Luís Kandjimbo, a Prosa de Manuel Rui Monteiro «Crónica de um Mujimbo (1989)», os textos dramáticos. Entre outros que constavam no livro de Língua portuguesa da 10.ª, 11.ª e 12.ª classes.
Na escola, fora estes, não conheci um escritor ou alguém que recitava um poema. Na sua maioria eram músicos, animadores e bailarinos. Eu tive uma colega amiga, Aldauzira Chacamba, ela era boa em matérias de língua portuguesa desde o ensino Médio, mas nunca demonstrou na época o desejo de ser Escritora ou fazer a comunicação social, tanto é que no superior ela seguiu o curso de Economia.
– Que tipo de livro que gostarias de escrever?
– Uma das grandes lutas para mim tem sido escrever os contos, gostaria imenso, mas sinto cada vez mais, que ainda não estou pronta.
– Quais os actuais autores angolanos que aprecias?
– Continuo apreciando os grandes clássicos da literatura, só que actualmente a lista cresceu. Para além deles, aprecio o Escritor Jhon Bella, Yola Castro, João Mwanza, Onjila Y’londungue, Pedro Mayamona, Gonçalves Gonga, entre outros.
– Sei que leste o meu livro «No Trilho dos Seis Zimbros». O que gostaste mais e o que menos apreciaste?
– O texto que mais gostei foi o «Entre Amigos», foi muito bem temperado e fez-me viver cada momento. Agora quanto ao que vou apresentar a seguir, não é que eu não tenha gostado, só achei meio triste e fez-me soltar lágrimas, é o texto «Em Família». Ainda que triste foi bom de se ler.
– És da direcção da AJAE (Associação dos Jovens Escritores Angolanos) que tenho apoiado através do lançamento de ebooks. Quais os projectos que estão em vista, uma vez que a associação tem crescido?
– Temos muitos projectos em vista, descrever todos seria vender os planos á concorrência, mas um deles tem sido o de dar acompanhamento ao artista. Muitas são as Editoras que se preocupam com o autor apenas no acto da produção e do lançamento do livro. Após isso têm «lavado as mãos» abandonando o Escritor à sua sorte no mercado, e, no nosso caso, que mercado!
Nós como AJEA temos trabalhado em prol de alterar isto e criar Actividades para o Escritor de modo que ele se mantenha e dê passos largos nesta profissão de Escrita. Este é talvez um dos nossos projectos mais marcantes.
– O que achas fundamental para que Angola seja uma potência cultural?
– Não acho ser impossível que isto venha a acontecer, acredito que para tal, seja necessário darmos vida às nossas tradições, línguas, ou seja, na Cultura no seu todo. Só precisamos entender melhor a nossa história, quem somos hoje, o que temos e saber o que fazer com ela.
– Qual foi o momento mais marcante da tua vida profissional?
– Após o lançamento de Vivências Paralelas, foram três os momentos mais marcantes da minha vida profissional:
Tornar-me sócia da Editora-AJEA, uma editora pontual e com um futuro muito promissor, ser convidada para o cargo de Delegada Provincial da Brigada Jovem de Literatura de Angola, um acrónimo que teve entre os fundadores o próprio Dr. Agostinho Neto e ter sido entrevistada no Jornal de Angola.
São factos que até ao momento não saberei descrever como tudo aconteceu e como fui ali parar.
E isto sem mencionar o facto de ter sido convidada a declamar um poema de Neto na Televisão Pública de Angola, em alusivo ao aniversário do Presidente, e ter sido a escolhida a apresentar a abertura das festividades do Centenário de Neto, na União dos Escritores Angolanos. São conquistas que levarei para a vida.
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«No trilho das minhas memórias», crónica de António José Alçada
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Março de 2018.)
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Gostei imenso de ler está entrevista a uma escritora/petista que muito admiro pela sua qualidade de escrever; Uma das melhores poetisas da nova geração angolana…
Uau, não estou muito surpreso em ver meu nome (Peterson Quaresma), mencionado na entrevista por você, apesar de não ser supresa; mesmo assim estou muito emocionado por ser reconhecido pela Isabel Sango…
Parabéns, minha cota és uma vencedora
O livro Vivências Paralelas, esta top
Parabéns a vocês, Antônio Alçada e Isabel Sango, este livro é muito especial para mim, não só por ser o livro Por ser a da escritora q amo, mas também por ser o meu 1° livro que foi assinado com o meu nome pelos autores da obra, único até ao momento, espero mudar o quadro nos próximos meses…
Obrigado, Diva
Estou contigo e não te largo nunca
Parabéns