Esta foi uma semana triste para mim. Mas aprendi que tristezas não pagam dívidas. Permitam por isso que regresse a Cabinda (72/74), mas desta vez pelos melhores motivos: vou hoje aqui recordar um camarada de armas da minha idade que bebia whisky na minha varanda mais do que eu bebia água…

O «Gato Esteves»
A história é muito bonita, das coisas mais encantadoras da minha tropa: a amizade profunda e sã entre camaradas de armas com quem me identificava a 300%.
Um deles, o Caldeira, também alferes miliciano, era solteiro, como a maioria.
Como não gostava muito do ambiente da tasca da terra onde estávamos (Buco Zau, Cabinda – recordo ao leitor…), refugiava-se na minha casa, a última da vila, todas as tardes em que não íamos para a mata.
Conversava-se, comia-se, ríamos como perdidos, gozávamos com a tropa que nem malucos: era ela, a tropa, que nos cortava as pernas da nossa juventude ali perdida no meio da Mata do Maiombe, porra! Mas isso parecia que nem nos afectava naquelas nossas conferências a que de vez em quando se juntava mais um ou dois dos gajos porreiros que por ali andavam também…
Mas o Caldeira, isso era outra loiça.
Licenciado em Letras, era professor de História em Sintra e às tantas, ala que se faz tarde: rumo a Mafra também e depois penso que Beja antes da mobilização para aquela floresta virgem lindíssima e cheia de tropa do MPLA pronta a lixar o pessoal…
Cat Stevens, sempre!
Já com muito álcool no sangue, e com a voz arrastada que o dominava quando assim se encontrava, o Caldeira, sentado no chão ou mesmo quase deitado, arrastava a voz e dizia assim:
– Eh pá. Vai lá meter aquele gajo para a gente ouvir, pá.
E eu, feito difícil:
– Meter quem, pá?
– Mete lá aquele que é da nossa idade, o Gato Esteves, pá, para a malta estar aqui na boa…
Divirta-se como nós nos divertíamos e oiça Cat Stevens aqui neste magnífico álbum que nós tantas vezes ouvíamos lá, na nossa varanda… sempre com todo o prazer do mundo… [Aqui]
Obrigado por me ler! Até para a semana, à mesma hora, no mesmo local.
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2011.)
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