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24 Junho 2022

Referendo do Cachimbo

Por António José Alçada
Angola, Covilhã, No trilho das minhas memórias, Opinião/Crónica antónio josé alçada, cachimbo 1 Comentário

(Continuação.) Há uns meses escrevi umas crónicas de um suposto monarca que fumava cachimbo. E imaginava quais seriam as conversas privadas com o Chefe do Governo, sendo que o cachimbo simbolizava o princípio e o fim da reunião. Bastava que o monarca não o reacendesse.

Dois homens conversam...
Dois homens conversam…

A última crónica relatava um iminente golpe de estado para derrubar a monarquia, tendo até o cachimbo ficado no suporte. E a conclusão da reunião apontava para que se fizesse um referendo, sendo que a única exigência do monarca seria nunca aceitar o exilio.

O Chefe do Governo trabalhou afincadamente com o parlamento, onde apresentou uma proposta para a realização do dito referendo, mas também recorreu aos serviços de informações que, em primeira mão, o tinham informado atempadamente do golpe em curso.

Tal como se esperava o Parlamento achou um absurdo a ideia do Governo, visto que os partidos representados eram maioritariamente a favor da monarquia, embora os partidos pró-República achassem que deveria haver uma reforma de transição para o derrube do actual sistema, não se tendo pronunciado sobre que reforma em concreto.

Nos bastidores, ou seja, com o apoio dos serviços de segurança, percebeu-se que o problema estava no seio das Forças Armadas, que dependendo das directrizes do governo, tinham membros da família real com destacadas patentes por inerência. Para além de regalias profundamente desiguais que usufruíam, o ambiente estava tenso, onde os militares de carreira se sentiam menorizados, principalmente em visitas e cerimónias onde se cruzavam com membros da família real.

O Chefe do Governo sentiu que o problema fazia sentido. Na verdade, existiam Almirantes, Comandantes, Generais da família real que, na verdade frequentaram as escolas, mas tinham sempre altas classificações e, pelo estatuto orgânico das próprias Forças Armadas iriam ocupar cargos por inerência por pertencerem membros da família real.

Mesmo com o actual monarca, que já se tinha apercebido deste facto, deu recomendações para que não houvesse interferência nas estruturas de comando. Mas, na verdade, o facto é que surgiam problemas, principalmente na Armada, nos navios que estavam na dependência do Palácio Real, cuja tripulação era militar.

Aproveitando-se desta instabilidade, alguns partidos contra a monarquia apoiaram, desde a primeira hora a revolta em curso.

O Chefe do Governo, perante estes factos entendeu solicitar uma audiência ao rei.

«Neste contexto um referendo só iria contribuir mais para a instabilidade. Se a monarquia persistisse os militares ainda ficariam mais revoltados.»

O cachimbo já tinha desaparecido, e a sala até tinha um cheiro perfumado de flores naturais. O monarca dedilhou os dedos em cima do livro que estava a ler. O som era suave embora repetitivo.

«As Forças Armadas estão subordinadas ao poder político. Penso que para a manutenção da estabilidade política, o governo tem de delinear uma estratégia por fases. Primeiro ao nível do Ministro da Defesa e a seguir consigo. É importante perceber se o problema é apenas esse.»

O monarca fez um silencio com um novo dedilhar de dedos. A pausa e o batuque ainda foram uns minutos. Parou o dedilhar e colocou o livro ao seu lado no sofá.

«Eu concordo em retirar estes cargos por inerência. Mesmo eu, que faço fardado cheio de medalhas quando os jovens morrem pelo país com um fardamento simples e carregado de munições? Para o ano teremos eleições para o Parlamento. Por isso sugiro que se antecipe a reforma constitucional, e agora sim, temos espaço para garantir estabilidade. Proponha esta reforma retirando direitos adquiridos da família real. Promova uma ampla discussão política onde o regime seja salvaguardado, mas actualizado aos tempos de hoje. No ano que vem logo saberemos o que o povo dirá acerca desta nossa ideia.»

«Mas não haverá uma quebra no protocolo e na posição do monarca dentro do Estado?»

«Acho que faz parte dos tempos saber manter a tradição, mas mudando o figurino. E digo-lhe com sinceridade, prefiro um bom fato do que um fardo de medalhas.»

Luanda, 16 de Junho de 2022

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«No trilho das minhas memórias», crónica de António José Alçada
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Março de 2018.)

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1 Comentário

  1. Isabel Sango Responder
    Sexta-feira, 24 Junho, 2022 às 19:08

    É sempre um prazer ler os contos do Escritor António J. Alçada, é uma mistura de ficção com o Realismo.

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