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24 Junho 2022

Como se contavam os dias e os meses em Quadrazais

Por Franklim Costa Braga
Lembrando o que é nosso, Opinião/Crónica, Quadrazais, Região Raiana, Tradições, Uncategorized franklim costa braga Deixar Comentário

Era a religião e a agricultura que comandavam a vida das gentes do campo em Quadrazais e em muitas regiões do país. Por isso, dias, meses e épocas do ano eram marcados pelas festas de santos ou pelas sementeiras e colheitas.

O primeiro dia do ano era dia de Ano Novo e o mês era o mês do Ano Novo, o dia seis de Janeiro era Dia de Reis, três de Fevereiro era dia de São Brás, festejado em Valverde, onde acorriam muitos quadrazenhos, três de Maio era o dia (da Invenção) de Santa Cruz, o dia treze de Junho era o dia de Santo António, vinte e quatro de Junho era o dia de São João, vinte e nove de Junho era o dia de São Pedro, um de Novembro era o dia de Todos os Santos, dois de Novembro era dia dos mortos (fiéis defuntos), onze de Novembro era dia de São Martinho, trinta de Novembro era dia de Santo André, que tem uma imagem no frontspício da igreja de Quadrazais, o dia oito de Dezembro era dia da Sra. da Conceição e já estávamos no mês do Natal, embora ainda festejassem antes em treze de Dezembro o dia de Santa Luzia, santa que sempre teve um altar na igreja. Mais vagos eram os dias sem festividade fixa: pelo Entrudo, Quarta-Feira de Cinzas e início da Coresma, pela Páscoa, pelo Espírito Santo, dia do Anjo, dia da Hora, pelo tempo das cerejas, pelas ceifas, pelo tempo das castanhas, pelo tempo dos míscaros, etc.

Os nossos descobridores iam pondo nomes às terras que iam achando. Muitas tomaram os nomes de santos que se festejavam nesse dia do achamento ou do mês em que eram achadas: Terra de Vera Cruz, ilha de Ano Bom, ilha de Santa Helena, Rio de Janeiro, ilha de São Miguel, ilha de Santa Maria, ilha de São Jorge, ilha de Santiago, ilha de São Nicolau, ilha de São Vicente, ilha de Santo Antão e ilha de Santa Luzia.

A Amália Rodrigues não sabia o dia em que nascera. A mãe apenas lhe dissera que havia nascido no tempo das cerejas, confessava ela.

As feiras também eram conhecidas pelo nome do santo que se festejava nesse dia: feira de São Pedro, feira de Todos os Santos.

O calendário religioso tem um dia dedicado a cada santo e, por isso, cada aldeia contava o tempo pelo dia do santo que nela festejavam, como era o caso em Quadrazais, em que o dia dezasseis de Setembro é o dia da Santa Eufêmia, dia e mês que marcam o calendário do quadrazenho quando marca encontro na terra pela Santa Eufêmia. O nome dos meses do calendário gregoriano era para os cultos e não para quem não sabia ler. O ciclo da agricultura, esse sim, era do conhecimento geral. E por ele regulavam suas vidas. Até ficou em ditados esta forma de contar o tempo:

Pelo Sant’André,
Agarra o marraninho pelo pé.

Ou:

No dia de São Lourenço
Vai à vinha e enche o lenço.

E estoutro:

No dia de São Martinho
Vai à adega e prova o vinho.

O tempo das cerejas faz-me lembrar as feiras no Sabugal, donde minha mãe trazia uma cesta delas, que nós os filhos devorávamos com imenso prazer. Foi num desses dias de feira, 18 de Junho, que nasceu minha irmã mais nova e que sempre ficará associado à cesta das cerejas. Ao sentir a chegada do parto, minha mãe só teve tempo de colocar a cesta das cerejas na escaleira à frente dos outros três filhos. Daí a momentos foi-nos anunciada a nova irmã. As cerejas continuaram a ser a nossa preferência.

A propósito de feiras, o São Pedro era sempre lembrado pois era na sua feira que as mães nos compravam grandes melancias e os pífaros de barro branco com umas listras a cores. As talhadas da melancia serviam na perfeição para imitar flaitas e, por isso, a miudagem não deixava passar a ocasião de percorrer os lábios pela talhada e sorvê-la, como se estivesse a tocar uma flaita.

Com os pífaros toda a miudagem tocava como se duma orquestra se tratasse, desafinada, qual chinfrineira. Até já poderia cantar:

Foi na loja do mestre André
Que eu comprei um pifarinho.
Fim, fim, fim um pifarinho.
Ai, olé, ai, olé,
Foi na loja do mestre André.

Pífaro e flauta

Era também esse dia que moços e moças esperavam para renovar ou iniciar contratos de assoldadagem com seus amos. E o povo não tardou a lhes dedicar uma quadra:

Do S. João ao S. Pedro,
Quatro ou cinco dias são.
Moças que andais à soldada,
Alegrai o coração.

Ainda hoje dizem: o dia de Natal ou o Natal, a Páscoa, como sendo a marca do tempo e não o dia 25 de Dezembro ou o dia «x» de Março ou Abril. Não vale a pena a Maçonaria e políticos pouco atreitos à religião tentarem impor o calendário como forma de desligar o povo da religião, que ele continuará a marcar a sua vida pelo Natal, Páscoa e dias dos santos. Faz lembrar os políticos a dar nomes a praças e ruas em Lisboa para esquecer a monarquia, como Praça do Comércio e Praça de Espanha, que o povo continua a conhecer esses lugares por Terreiro do Paço e Palhavã. E é o povo que vence. Perguntem a alguém em Lisboa onde é a Praça do Comércio. Será coisa rara que alguém saiba indicar-vos onde fica. Mas se perguntarem onde é o Terreiro do Paço, raro será quem não saiba dar-vos a resposta correcta.

Raramente usavam o nome dos meses, como aconteceu nesta quadra:

O dia (a) vinte de Janeiro
Tem uma hora por inteiro.
E quem bem contar
Hora e meia lh’há-de achar.

Pouco a pouco os jovens vão esquecendo estes ditados e a maneira de contar dias e meses como antigamente, sobretudo nas cidades, mais desligados das culturas e colheitas.

Virão tempos em que essa contagem se fará por datas de discos de bandas, cinemas ou apps de telemóveis? Não sabemos o que espera os vindouros. Pelo menos, ao lerem estes artigos, tenham conhecimento dos tempos passados.

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«Lembrando o que é nosso», por Franklim Costa Braga
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Maio de 2014.)

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Franklim Costa Braga

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