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17 Junho 2022

Jubileu lusitano

Por António José Alçada
Angola, Covilhã, No trilho das minhas memórias, Opinião antónio josé alçada, azambuja 1 Comentário

Podia ser o da rainha, mas até nem foi. No entanto neste período festivo da coroa britânica tive dois eventos marcantes, que de longe, se podem associar ao jubileu. Porém, vividos em Portugal!

Jubileu Lusitano
Jubileu Lusitano

Tive uma festa, com um protocolo que me fascinou. Obviamente aproveito para me queixar da roupa «fit». Os fabricantes esqueceram-se que o corpo dos mais velhos, mesmo não sendo gordos não marcam a linha esbelta do Adónis. Com os botões da camisa a gritar, nada que uma gravata não esconda. Mas, pensando eu, que ia a mais uma celebração tradicional, iguais a tantas outras, sou surpreendido com uma série de eventos que nunca mais esquecerei.

O ambiente romântico do século XIX do solar vibrava com o ruído do século XXI onde a juventude excedia o júbilo, de jubileu, com a alegria que também tive com essas idades, mas que curiosamente nem todos ou todas, na época, apreciavam. Nesses tempos, a postura, as nódoas, a linguagem, tudo era alinhado pela pauta da Paixão Segundo São Mateus, de João Sebastião Bach, incluindo o tempo de espera para a boda, ou «copo de água». Um autentico desespero que desta vez, a degustação teve inicio pouco depois da celebração religiosa.

Tirei imensas fotos e até tirei foto a quem foi contratado para esse efeito. Talvez em linguagem popular uma «contra foto». Facto pouco vulgar que nos deixou a rir durante alguns instantes. Não me apercebi das fotos clássicas dos convidados com os noivos, mas que safei, safei. Daí que a ter havido, penso que a equipa contratada de som e imagem, soube fazer o seu trabalho, sem ninguém se aperceber. Devo ter ficado junto ao jovem casal a coçar a cabeça e à procura da minha mulher.

A predominância da palavra João foi outro aspecto interessante. «João» não faltava. E até alguns, hoje, muito longe, bem longe, mas que nem foram esquecidos. O equilíbrio das emoções nesse detalhe, não menos importante, passou no meio de uma festa em tom suave e marcante. Quem sentiu foram os mais próximos e também os mais velhos. A juventude continuava no reboliço do jubilo, com alguns de nome João, sem saberem de nada.

Um dos presentes, de nome João, deixou-me curioso: simpático, mesmo usando barba aparada e devidamente tratada (nada a ver com o José Milhazes), conseguia manter um sorriso franco, sincero. Nada político, acho eu. Se fosse o D.Juan de Marco, um nobre fidalgo que cativava donzelas no seculo XVIII, eu acreditava na sua reencarnação.

Mas não. Nada disso. Eu senti me agradado com a sua expressão convincente que nunca mais esquecerei. Fiquei na dúvida se não seria o Presidente da Junta local, mas o tom suave da palavra não denotava experiência discursiva.

Mas pegando neste sorriso surreal, subitamente pulo até à Paula Rego. Sim, a dita pintora nascida em Portugal, mas vivida em Londres (talvez tenha sido a sua sorte!), que me agarra pelo apertado colarinho, com aquele olhar diferente, num rasgado negro, arrastando-me para as suas estórias imaginárias que abraçava o real invertido. Aí pode vir um segundo Jubileu esperando que a Jubilada Elisabete, interceda junto do bom senso luso-britânico e permita que pelo menos parte da sua obra regresse ao país de origem da pintora, não deixando de me esquecer que neste pensamento fui subitamente «raptado» pelo seu «espírito» para dentro de uma das obras mágicas da Paula. Tudo indica que seja a sua última!

E seguindo-a, cheio de curiosidade, imaginei-me o Noddy com a camisa a estalar, levantando-me num ligeiro voo (tipo balão) saindo do Porchito amarelo, modelo anos 50, onde a minha longa gravata acaba por me ajudar através de um nó, que uma anafada serviçal embelezada com batom lilás forte me ata numa mesa. O carro flutua ao som da música da festa, e eu por cima de uma mesa (seculo XIX) cheia de copos. Atenção, copos, mas com mousse de chocolate. Só que eu flutuava e limitava-me a ver os convivas a saborear a iguaria. A dita serviçal assustando-me com a força do lilás, ainda tentou puxar-me para baixo, mas a leveza do meu corpo (bem anafado por sinal) ainda a arrastou no ar, obrigando-a mesmo a bloquear o voo com esperança na qualidade da gravata, ao esforço tracionado.

Estando ligeiramente mais alto que os restantes mortais, e nada podendo fazer, vejo ao longe o rosa choque da minha filha que teimava em dançar mais rápido que a frequência da cor, fazendo um efeito estrelado nas lentes dos meus óculos. Foi como o tempo me parasse. Um instante de uma foto que me surpreendeu com emotividade e esquecendo que estava no ar, preso por uma gravata e uma anafada serviçal a segurar na fita, ou dita gravata, também levitando com uma «pena». Sim, um quadro que fazia pena.

Havia imensa gente no salão onde me encontrava preso. A mousse tinha fama, e pessoas não faltavam. Mas o estranho é que ninguém via nada de anormal. Parecia-lhes que estaria no seu plano de visão, lembrando mais um velho anafado a deglutir a glicose. E a serviçal? Era uma alucinação?

«Cuidado com o colesterol!», alguém diz.

Fechando os olhos do cansaço de estar preso naquela mesa, vejo os imensos copos de mousse a levantar voo, como um carrossel, e que circundavam a cabeça, lembrando os electrões a correr à volta do núcleo (provavelmente os protões fossem os meus debilitados neurónios). Será esse o meu desejo? Físico nuclear? Transformando a matéria da gorda serviçal em copos de mousse, voando num espaço do Sec. XIX? Sendo a mulher a governanta daquela mansão, em tempo idos?

Mas eis que surge D. Juan sorrindo de ver a minha pose. «O meu amigo me faz lembrar um personagem de um quadro da Paula Rego», exclamando com o sorriso de «El matador».

Pois, mas se me ajudasse a descer à realidade, seria um bem para a humanidade. Coisa é certa, doçaria só mesmo o mínimo.

O jovem, antes de me desembaraçar deste imbróglio foi buscar uma palhinha. Sim, daquelas que usamos para beber a groselha. Pediu-me para fechar o nariz e colocou a dita no ouvido. «Agora sopre com força!»

O jacto de ar saiu de tal forma que «dois» já cabiam na camisa. Abraçou-me e sorriu mais uma vez, sentindo-se em risco de as calças me caírem.

Agora sim, só me posso sentir melhor e agradeci-lhe do coração.

Segurando com as mãos nas calças vou arrastando-me para junto da minha mulher. A sua admiração perturbou-a. Estaria bem?

«Sim querida esposa. Não és tu uma fã da Paula Rego?» Confirmou com um aceno de cabeça enquanto bebia o sumo de gengibre.

«Pois tens aqui o resultado!»

Azambuja, 9 de Julho de 2022

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«No trilho das minhas memórias», crónica de António José Alçada
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Março de 2018.)

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1 Comentário

  1. Nélia Santos Martins Responder
    Domingo, 19 Junho, 2022 às 22:09

    Muito bom ! Parabéns pela imaginação 😉

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