Desta vez fui buscar, julgo, a última obra escrita por William Shakespeare, que nos recomenda a perdoar por muito mal que alguém (pode ser no plural) nos faça.

No caso em apreço, ex-Duque de Milão, de nome Próspero, está exilado numa ilha. Porém ele tem poderes mágicos e consegue atrair para a ilha remota onde está em cativeiro, através de uma Tempestade os irmãos e sobrinhos, sendo um deles o irmão António, ambicioso que lhe usurpou o trono, tendo, no entanto, a nau naufragada dada a força da Tempestade.
Na trama há um romance, planeado por Próspero, do sobrinho Ferdinand, filho de Alonso que se perdeu na fase da embarcação se afundar, a apaixonar-se por sua filha e legitima herdeira Miranda. De facto, dada à magia que envolve a peça, todo o poder de Próspero vai conseguindo os seus intentos, como este enlace.
Aos náufragos, António e Alonso, é organizado um banquete, mas por magia. Prospero aparecia e desaparecia, criando uma profunda confusão nos convidados, não deixando de dizer que a sua vingança seria implacável pelo mal que lhe tinham feito. Para além de assustados acabem mesmo por ser aprisionados.
A felicidade de ver sua filha casar com Ferdinand, acaba por comover Próspero, trazendo-lhe arrependimento por esta vingança.
Decide então revelar a sua verdadeiramente a sua identidade a todos, libertando os irmãos após estes mostrarem arrependimento pelo que fizeram e alegraram-se por descobrirem que Ferdinand afinal estava vivo e comprometido.
Curiosamente a peça termina com o público a aplaudir para dar força ao barco (magicamente reconstruído) para avançar pelos mares até Milão.
Achei interessante abordar este tema porque o tempo de duração da peça é na verdade curto, mas contem uma mensagem surpreendente e que ainda hoje, no Século XXI, muita gente ainda não aprendeu: o saber perdoar! Há estudiosos que defendem que o personagem Próspero é muito provavelmente é o próprio autor e que esta foi a última obra escrita por Shakespeare.
Reconheço que a imaginação do autor levou-o a uma magia, talvez pouco convincente no contexto actual, mas reforço que a mensagem da peça, na minha opinião, é algo de extraordinário tendo em conta o pensamento do seculo XVII.
«We are such stuff as dreams are made on», ou seja, «Somos da mesma substância que os sonhos».
Teatro «O Globo», 8 de Junho de 2022
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«No trilho das minhas memórias», crónica de António José Alçada
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Março de 2018.)
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