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05 Junho 2022

Histórias da memória raiana (5.5)

Por Capeia Arraiana
01 - Ficção, Concelho do Sabugal, Emigração, Emigração Clandestina, Guarda, Histórias da Memória Raiana, Outeiro São Miguel, Região Raiana antónio alves fernandes, antónio emídio, antónio josé alçada, fernando capelo, georgina ferro, josé carlos lages, josé carlos mendes Deixar Comentário

:: ::  ANTÓNIO ALVES FERNANDES  :: ::  No primeiro episódio das «Histórias da Memória Raiana» o António Emídio «apresentou-nos» a família do Luís do Sabugal quando este se preparava para ingressar no Outeiro de São Miguel. Na «quinta temporada» o António Alves Fernandes recorda as venturas e desventuras de um arraiano à boleia… (Capítulo 5, Episódio 5.)

Histórias da Memória Raiana - Capítulo 5 - Episódio 5 - António Alves Fernandes - capeiaarraiana.pt
Histórias da Memória Raiana – Capítulo 5 – Episódio 5 – António Alves Fernandes – capeiaarraiana.pt

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HISTÓRIAS DA MEMÓRIA RAIANA
Capítulo 5 – Episódio 5

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Andar à boleia era normal nas terras raianas
Andar à boleia era normal nas terras raianas

AS BOLEIAS DE UM ARRAIANO

O Homem arraiano muito cedo se afeiçoou, por razões económicas e não só, a andar às boleias, vício que ainda hoje circula nas suas veias, embora já sem aquela regularidade primária, enquanto outros se dedicam com grande afinco às raspadinhas de vária ordem.

Nos tempos actuais, só vai de boleia com pessoas amigas, conhecidas, aproveitando as suas deslocações profissionais ou outras para se transportar a locais que lhe sejam propícios e desejáveis.

Acontece que um amigo das andanças contrabandistas pede-lhe muitas vezes para o acompanhar, sempre que deseje, à cidade da Guarda, porque afirma que «as viagens na companhia das suas histórias genuínas e vivências demoram minutos e sozinho demoram pelo menos uma hora. Há sempre algo a aprender e a reter na nossa mente… tantos episódios raianos, humanos, sociais culturais…»

É verdade que o arraiano, ainda jovem, da sua aldeia não via o mundo, mas já percorria caminhos e veredas de contrabandistas, por Aldeia da Ribeira, Aldeia da Ponte, Quinta das Batoquinhas e por terras castelhanas, Almedilla, Albergaria de Aragão…, no dorso da égua possante, propriedade do Tio António Videira, que além de bem a aparelhar, estava sempre bem calçada. Na oficina de ferreiro, daquele que durante muitos anos exerceu as altas funções da autoridade de regedor da freguesia, não se aplicava o velho provérbio: «Em casa de ferreiro, espeto de pau.»

Dava gosto montar aquele equestre, que em caso de necessidade ou de urgência colocava a quinta velocidade e não havia carabineiro ou guarda fiscal que o apanhasse.

Também o Tio Joaquim «Cordeiro», alcunha por ser dono de muitos cordeiros, além da pastorícia, da agricultura, de contrabandista e sacristão nas horas vagas, era proprietário de um jerico. Não se fazia rogado em emprestá-lo ao filho do seu compadre e vizinho.

O Tio Albertino Vaz, conjuntamente com o Zé Batatas, deslocava-se com carros de vacas à Cerdeira do Coa para depositar sacas de batatas nos vagões da CP. O arraiano também aproveitava essas idas para resolver assuntos na ida àquela freguesia de importância vital para a vida das aldeias vizinhas. Acontecia que nestas idas era necessário ajudar aqueles animais para a travessia do Rio Coa no Talião e nas Barreiras Vermelhas. Tempos difíceis…

O Tio José dos Santos, comerciante e o homem do «posto dos correios», foi o primeiro proprietário de uma camioneta de carga. Quando passava pelo largo junto à escola primária, meio clandestino lá subia o arraiano para uma curta viagem até ao então campo de futebol, designado «Fiéis de Deus». Interessante um tereno onde se joga futebol ter aquela designação. Hoje não há campo, não há crianças, apenas poucas gentes idosas…

Terra de pinhais, terra de resina, o jovem José Martins e seu pai, vindos da região de Seia, faziam as sangrias nos pinheiros, colocando tigelas de barro para a recolha da seiva. A camioneta da família dos Gavinhos, da Pampilhosa da Serra, ia recolher os barris e também proporcionava boleia ao arraiano até ao Sabugal.

As «boleias funerárias», ir jovem, em substituição do progenitor, a representar a Irmandade de São Sebastião, com a sua simbologia (a bandeira e duas lanternas), a acompanhar o irmão defunto à última morada, a Alfaiates, Ozendo, Batocas, Aldeia da Ribeira, Rebolosa…obrigavam a ter um bom animal, para tão importante tarefa. Não faltavam as boleias da burra «Farrusca», do Zé Fernandes ou o burro «Ferreiro», do Zé do Forno, já habituados a longas caminhadas. O importante depois do funeral, quando se tratava de pessoa abastada, os membros da Irmandade tinham além da merenda, um reforço do «Pão do Defunto», para sufrágio da alma do parente falecido. Também os animais não eram esquecidos e tem reforço de palha ou feno.

Vilar Maior e a maioria das aldeias arraianas não dispunham de luz eléctrica, que só chegou depois do 25 de Abril. O arraiano, empoleirado na mota do pároco Francisco Vaz, lá seguia para Vilar Formoso, a fim de ver o jogo de futebol da Primeira Divisão, transmitido na RTP. Também um ou outro programa de variedades, com umas bailarinas a dançar e a cantar, que escandalizavam a D. Lucinda, tia do Padre Ezequiel Marcos, refugiando-se no seu quarto, «por tanta vergonha de saias curtas» e mostragem avantajada de pernas, contrariando os usos e costumes da época. Vade retro satanás…

Já estudante e com barba crescida, o arraiano viciado em boleias fez milhares de quilómetros à boleia, muitas na companhia do conterrâneo Francisco Vaz.

Inúmeras peripécias acontecem, e tantas aventuras, quando se anda com braço estendido aos motoristas das estradas.

Uma boleia à saída do Aeroporto de Lisboa, dada por um casal de turistas dinamarqueses, levou o arraiano com o seu companheiro Xico Vaz até Vilar Formoso. Com ideias contrárias ao regime político de Portugal, tentaram convencer aqueles dois jovens para seguirem viagem até à Dinamarca, com uma estratégica de passagem a pé da fronteira de Portugal, esperando-os em espaço espanhol. Fizeram mal ao não ter concretizado aquela vontade. Hoje seguiriam viagem…

Em Coimbra, junto à Ponte de Santa Clara, o arraiano esperou muito tempo, pois demorava uma alma carinhosa que o transportasse com destino à capital do Império. Desanimado, um condutor de uma carroça, que acabara de vender produtos agrícolas na cidade dos estudantes, lá o levou até Condeixa-a-Nova. Doze quilómetros. Não demorou que um casal de turistas franceses o levasse por Fátima, Batalha e já era noite quando chegou a Lisboa. Como guia turístico, teve direito, além da boleia, a jantar e a uma gorjeta de uns francos franceses. Começou mal a boleia de tracção animal, mas terminou com a chave de ouro.

A mais enfarinhada foi de Setúbal até Torres Novas num furgão fechado com muitos sacos de farinha.

Quanto à mais atormentada e nocturna, aconteceu de Lisboa ao Gavião, onde se chegou sem farnel e dinheiro. Bateram à porta de um velho seminário diocesano e atendendo-os um idoso e mal-encarado padre. Expôs-se a situação, mas o indisposto pastor espirtual alentejano desconfiou de que estava a falar com dois pobres estudantes e desabafou: «Sei lá…até podem ser dois ladrões.» Foi esclarecido que iam para terras da Beira Alta. «Oh diabo! Dessas paragens vinham para o Alentejo contrabandistas e os ratinhos, estes para fazer as ceifas…e nunca me mereceram confiança.»

Estava-se na presença de um reitor alentejano muito desconfiado. Não havia meio de abrir a porta de uma casa de formação de seminaristas, onde se ensinava a caridade, mas não se praticava. Felizmente, como Deus não dorme, abriu-se a porta de uma viúva, com um filho também habituado a viajar de boleias. Compreendeu a situação e, além de uma refeição, tivemos direito a dormida.

O arraiano nunca esqueceu aqueles que na sua juventude estudantil e militar lhe proporcionaram tantas viagens gratuitas, cujos tempos eram diversificados em conversas culturais, turísticas, sociais, mas principalmente humanas.

:: ::
António Alves Fernandes


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Os episódios das «Histórias da Memória Raiana» são escritos semanalmente por um autor diferente. Participaram na «primeira temporada»: António Emídio, Fernando Capelo, José Carlos Mendes, Ramiro Matos, António José Alçada, Franklim Costa Braga, António Martins, António Alves Fernandes, Joaquim Tenreira Martins, Georgina Ferro e José Carlos Lages.

Nesta «quinta temporada» o António Alves Fernandes recorda as venturas e desventuras de um arraiano à boleia…

Total de episódios publicados: 40.

Apesar de fazer referência a nomes e lugares verdadeiros da região raiana dos territórios do Sabugal esta é uma obra de ficção e qualquer semelhança com nomes de pessoas, factos ou situações terá sido mera coincidência (ou talvez não!)

José Carlos Lages

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Capeia Arraiana

Diariamente desde 6 de Dezembro de 2006.

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