O Soito Concelho é um topónimo de Quadrazais, síncope de Soito (ou Souto) do Concelho, nada tendo a ver com a vizinha povoação Soito. As pessoas até lhe deturpam o nome e muitas lhe chamam Santo Cocelho. Compõe-se de Soito Concelho de Cima e Soito Concelho de Baixo. O de Cima entesta com o S. Jães (S. Gens) junto da Fonte D. João, que dá origem ao ribeiro que atravessa o Soito Concelho de Cima e o de Baixo, o Pontão da Bocha, a Bocha, o Meal Cabo e entra no Côa no Salgueiral.

Em 1518 D. Manuel mandou coutar o souto de Quadrazais para que os gados não lhe comessem as vergônteas, impedindo o seu desenvolvimento, já que necessitava das madeiras para a construção de naus, como podem ler no documento acima. Sabemos que a madeira de castanheiro dura séculos sem lhe entrar o bicho, o que ainda podemos ver em muitas janelas e portas antigas de casas de Quadrazais. Antigamente até o solho (soalho) das casas era feito de grandes, largas e grossas tábuas de castanheiro.
Era, pois, o Soito Concelho, sobretudo o de Cima, um local de grandes soutos, juntamente com a Marielva (Marialva), sua contígua.
Encontraram-se aí e também nos terrenos desde o Marco muitas telhas, levando muita gente a crer que fora ali que nascera a primitiva povoação de Quadrazais. Não partilho essa opinião, até porque num povoado teria de haver uma igreja, de que não há vestígios. As telhas seriam de casas dos guardas do souto que abrangeria uma vasta área a englobar também o Marco, Eirinhas, Cabecinho e até a Burraca. A fonte D. João, enquadrada por cantarias, serviria esses guardas e suas famílias. Ainda levei lá o historiador Dr. Luís Filipe Thomaz para examinar possíveis inscrições nessas cantarias. Nada foi decifrado que tivesse interesse, nem sequer uma data.
Os nomes de Fonte D. João e Marialva, que em Quadrazais pronunciam Marielba, reportam-se aos donatários desses soutos, os Coutinhos (Marialvas).
Com o passar dos tempos as madeiras deixaram de ser necessárias para as naus, já que o Império se perdeu e os novos navios eram mais de ferro que de madeira. Os castanheiros foram morrendo ou sendo abatidos para transformar os campos do Soito Concelho em terrenos regadios, produtores de batatas e feijões, já que castanheiros havia muitos à Burraca, Cova, Desperdiz, Albardeiro e noutros lugares. Passou a ser a horta dos Quadrazenhos.
Ainda hoje se lá encontram alguns castanheiros, mas batatais poucos, já que não há pessoas para os semear e tratar. A água, outrora tão disputada para regas, a ponto de darem origem a barulhos e até a mortes, corre mansa por entre as ervas que lhe invadiram o leito até ao Côa.
No Soito Concelho de Baixo havia bons terrenos com poços e noras, como o do Funil, o do Mas… Mas e o de meus pais, com o regato a passar ao fundo deles, e até uma série de pequenas sortes ao longo do caminho para o Soito, estrada alcatroada desde 1975, com poços não protegidos, a ponto de uma vez ter caído num deles uma vaca do Zé Borrega que, felizmente, conseguiram salvar. Hoje todos esses terrenos constituem uma grande propriedade do falecido Tonho Manel Ruvino, juntamente com a quinta do Sr. Nacleto, que tinha uma grande casa e vinha. Do lado esquerdo da estrada há um grande terreno do cunhado Zorro, que o adquiriu ao Sr. Zézinho, onde ainda permanece um souto. A seguir a um pontão sobre o ribeiro a estrada sobe por entre mato.
É o retrato da desertificação do interior.
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«Lembrando o que é nosso», por Franklim Costa Braga
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Maio de 2014.)
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